"Vocês o quê?" a voz da minha mãe finalmente quebrou o silêncio, um misto de choque e confusão.
"Nos casamos. Hoje à tarde. No cartório."
"Mas... por quê, filha? Tão de repente? Aconteceu alguma coisa? Você está bem? Pedro, você está aí?"
Pedro se inclinou para o telefone. "Estou aqui, sogra. E sim, está tudo bem. Foi... uma decisão espontânea. Nós nos amamos e não queríamos mais esperar."
Era uma explicação simples, mas era a única que podíamos dar sem parecer loucos. Contar a verdade - que eu reencarnei para escapar de uma tentativa de assassinato pela minha melhor amiga - estava fora de questão.
Meus pais, apesar do choque inicial, eram pessoas compreensivas. Depois de mais alguns minutos de perguntas atônitas, eles finalmente cederam.
"Bem, se vocês estão felizes, é o que importa," disse meu pai, a resignação em sua voz. "Mas isso não nos livra de um jantar. A família de Pedro precisa saber. Venham para cá amanhã. Vamos comemorar."
Desligamos o telefone e eu senti uma onda de alívio. O apoio da minha família era crucial. Pedro fez a ligação para seus pais em seguida, e a reação foi praticamente a mesma: choque, confusão e, finalmente, aceitação. O jantar de comemoração foi marcado.
Passamos o resto do dia em uma espécie de bolha. Organizando nossas coisas, falando sobre o futuro, nos acostumando com a palavra "marido" e "esposa". Era estranho e maravilhoso ao mesmo tempo. Pela primeira vez em muito tempo - talvez em duas vidas - eu me senti segura.
No dia seguinte, nos arrumamos para o jantar. Eu escolhi um vestido simples, mas elegante. Pedro estava deslumbrante em uma camisa social. Quando estávamos saindo do nosso apartamento, prontos para enfrentar nossas famílias reunidas, a porta do elevador se abriu.
E lá estava ela.
Camila.
Ela parecia terrível. Os olhos estavam vermelhos e inchados, o cabelo desgrenhado. Ela usava as mesmas roupas de ontem. Parecia que tinha passado a noite em claro, provavelmente remoendo a raiva.
Ela nos viu e seu rosto se contorceu em uma máscara de fúria.
"Vocês não vão a lugar nenhum."
Ela se postou na nossa frente, bloqueando a passagem para o corredor.
Pedro deu um passo à frente, me colocando atrás dele instintivamente.
"Camila, saia da nossa frente," ele disse, a voz baixa e perigosa.
"Sua frente? Sua? O que você fez com ela, seu monstro? Que tipo de lavagem cerebral você fez para ela se casar com você da noite para o dia?" ela gritou, ignorando completamente a presença de Pedro e falando como se ele não estivesse ali.
"Ele não fez nada, Camila. Fui eu que pedi," eu disse, minha voz firme.
Ela finalmente olhou para mim. A dor em seu rosto era quase convincente, se eu não soubesse a verdade.
"Você? Sofia, você não sabe o que está fazendo. Ele te enfeitiçou. Você precisa de ajuda. Eu vou te ajudar a sair dessa."
"Eu não preciso de ajuda, Camila. Eu preciso que você me deixe em paz."
"DEIXAR VOCÊ EM PAZ? EU SOU SUA ÚNICA AMIGA DE VERDADE! ELA ESTÁ TENTANDO TE PROTEGER DELE!"
A ironia era tão absurda que eu tive que rir. Um riso seco e sem humor.
"Me proteger? Você? Camila, vamos ser honestas. Você não está chateada porque eu me casei. Você está chateada porque eu me casei com ele."
O rosto dela mudou. A máscara de "amiga preocupada" caiu, revelando a inveja crua por baixo.
"Isso não é verdade!"
"Não é? Você nunca superou o fato de que Pedro me escolheu, não é? Desde a faculdade. Você sempre quis o que era meu. Meus amigos, minhas notas, até minhas roupas. Mas o Pedro... o Pedro foi o limite para você, não foi?"
Cada palavra que eu dizia parecia atingi-la fisicamente. Ela recuou um passo, o choque estampado em seu rosto. Ela não esperava que eu fosse tão direta. A antiga Sofia nunca teria sido.
"Você não sabe do que está falando," ela sussurrou, a voz fraca.
"Eu sei exatamente do que estou falando," eu disse, dando um passo à frente, saindo de trás de Pedro. "O seu joguinho acabou, Camila. Acabou."