No dia seguinte, o escândalo era a única coisa que se falava nos círculos sociais e empresariais. Os celulares não paravam de tocar, as manchetes dos sites de fofoca eram cruéis: "Herdeiro da tecnologia trocado por motorista", "O amor não tem preço? Sofia Santos prova que sim".
Na sala de estar da mansão Ribeiro, o clima era fúnebre. Minha avó estava recolhida em seus aposentos, magoada demais para ver qualquer pessoa. Meu avô, o Sr. Ribeiro, andava de um lado para o outro como um leão enjaulado, o rosto uma máscara de fúria contida.
"Eles riram de nós, Lucas! Riram da nossa família!" ele rosnou, batendo com a bengala no tapete persa. "A honra dos Ribeiro foi jogada na lama por uma menina mimada e um motorista oportunista."
Tentei acalmá-lo, mas era inútil. A humilhação para ele era pior do que qualquer perda financeira.
"Vovô, nós vamos superar isso," eu disse, sem muita convicção.
Ele parou e me encarou, os olhos faiscando.
"Superar? Não! Nós vamos retaliar! A família Ribeiro não leva um tapa na cara e oferece a outra face. Nós construímos nosso nome do nada, com sangue, suor e uma astúcia que esses novos-ricos como os Santos mal podem sonhar. Eles se esqueceram com quem estão lidando."
Era verdade. Embora hoje fôssemos conhecidos pela tecnologia, a origem da fortuna dos Ribeiro era mais antiga e sombria, vinda de negócios portuários e disputas territoriais que as gerações mais novas preferiam esquecer. Meu avô, não. Ele se lembrava de cada batalha.
"Eu tenho um plano," ele disse, um brilho perigoso em seu olhar. "Vamos invocar as velhas tradições. Um duelo. Sim! Vou desafiar aquele velho Santos para um duelo ao amanhecer! Ou melhor, vamos sequestrar o motorista e mandá-lo de volta para a família dele em pedaços, como um aviso!"
Eu olhei para ele, chocado.
"Vovô, estamos no século XXI! O senhor não pode desafiar ninguém para um duelo ou... ou mandar pedaços de pessoas pelo correio! O senhor vai ser preso!"
Ele bufou, desdenhoso.
"Detalhes, detalhes. A mensagem seria clara. Ninguém mexe com um Ribeiro."
Ele parecia perigosamente sério. Eu precisava desviar sua atenção daquele plano insano antes que ele realmente pegasse uma de suas pistolas antigas da coleção na biblioteca.
"Vovô, por favor," eu insisti. "Vamos ser mais inteligentes que isso. Vingança é um prato que se come frio. Uma briga de rua ou um escândalo de sequestro só nos rebaixaria ao nível deles. Precisamos de uma resposta corporativa, uma jogada estratégica que os atinja onde realmente dói: nos negócios e na reputação."
Meu avô parou sua caminhada furiosa. Ele me estudou por um longo momento, o cérebro afiado por trás da raiva começando a calcular. Ele coçou o queixo grisalho, ponderando minhas palavras.
"Estratégica, você diz?" ele murmurou, o brilho sanguinário em seus olhos sendo substituído por um brilho calculista, o que era quase tão assustador. "Uma humilhação pública exige uma reparação pública."
Eu suspirei, aliviado por ele ter abandonado a ideia do duelo.
"Exato. Vamos pensar com calma e..."
"Certo," ele me cortou, com uma firmeza repentina. "Você tem razão. Chega de táticas bárbaras. Vamos ser civilizados."
Ele se sentou em sua poltrona de couro, a calma repentina me deixando mais nervoso do que a fúria.
"Sem duelos," ele declarou. "Por enquanto."
A última parte não foi nada tranquilizadora.