O dia corria bem, até que, ao passar pelo departamento de desenvolvimento, vi uma figura familiar sentada em uma das mesas, conversando animadamente com um dos programadores.
Era Gabriel. O motorista.
Fiquei parado, incrédulo. O que ele estava fazendo ali? Usando um crachá da minha empresa?
A raiva que eu vinha reprimindo desde a festa subiu com força total. Caminhei a passos largos até a mesa.
"O que você está fazendo aqui?" minha voz saiu baixa e perigosa.
Gabriel se virou, e o sorriso em seu rosto desapareceu, substituído por uma expressão de pânico. Ele se levantou desajeitadamente.
"Sr. Ribeiro! Eu... eu trabalho aqui agora. No setor de logística. Comecei na semana passada."
Claro. Sofia deve ter arranjado isso para ele antes de seu grande espetáculo. A ironia era doentia.
Eu não hesitei. Olhei para o chefe do departamento, que observava a cena, confuso.
"Ele está demitido. Agora."
O chefe do departamento piscou, surpreso. "Mas, Sr. Ribeiro, o processo de RH..."
"Eu não me importo com o processo. Quero ele fora deste prédio em cinco minutos," eu ordenei, minha autoridade inquestionável. "Clara," chamei minha assistente, que apareceu quase instantaneamente, "providencie para que os pertences do Sr... Gabriel sejam entregues a ele na recepção. E cancele seu acesso imediatamente."
"Sim, senhor," ela disse, já se afastando para cumprir a ordem.
Gabriel me olhou, o pânico se transformando em uma expressão de vítima.
"Você não pode fazer isso!" ele protestou, a voz um pouco alta demais. "Isso é por causa da Sofia, não é? Você está me punindo porque ela escolheu o amor verdadeiro em vez do seu dinheiro!"
Eu ri, um som amargo e sem alegria.
"Não seja ridículo. Eu estou te punindo porque você é um funcionário que eu não quero na minha empresa. É simples assim. Eu sou o dono. Eu decido quem trabalha aqui. Você não."
Apontei para a porta.
"Agora, saia."
Ele não se moveu, a boca aberta em indignação.
"Isso é abuso de poder! É perseguição! Sofia não vai deixar isso acontecer!"
Eu me inclinei um pouco, falando baixo para que apenas ele ouvisse.
"Sofia não tem mais nada a dizer sobre o que acontece dentro deste prédio. Nem você. Seu tempo aqui acabou."
Clara voltou, acompanhada por dois seguranças.
"Sr. Ribeiro, o acesso dele foi revogado."
"Excelente. Por favor, acompanhem o cavalheiro até a saída," eu disse, virando as costas para ele.
Enquanto eu me afastava, ouvi a voz de Clara, preocupada, ao meu lado.
"Lucas, você tem certeza disso? Sofia vai fazer um escândalo. Talvez devêssemos ter consultado o jurídico primeiro, para nos precavermos contra um processo por demissão injusta..."
Eu balancei a cabeça.
"Deixe-a fazer. Eu não me importo. Ele não trabalha mais para mim. Fim da história."
Mas eu sabia que ela estava certa. Aquilo não era o fim. Era apenas o começo de outra batalha.