Abri. Dentro, um vestido vermelho. O tecido era caro, mas o corte era ousado. Um decote profundo, as costas nuas, a fenda na perna subindo quase até o quadril. Não era um vestido para apresentar à família. Era um vestido para causar uma cena. Era a minha fantasia para a peça dele.
"É... chamativo," eu disse, a voz neutra.
"É perfeito," ele respondeu, os olhos brilhando. "Quero que você seja a mulher mais bonita da festa. Quero que todos os olhos estejam em você."
Ele queria que os olhos de Isabela estivessem em mim. E nele.
"Vista para mim. Quero ver como fica."
O pedido era uma ordem disfarçada. No momento em que ele disse isso, uma dor aguda me atingiu no estômago, tão forte que me curvei, ofegante. O estresse, a raiva, a dor reprimida dos últimos dias se manifestaram como um soco físico.
"O que foi?" ele perguntou, a voz carregada de impaciência.
"Nada. Só uma cólica," eu murmurei, apoiando a mão na parede.
Ele me olhou com desprezo.
"Não seja dramática, Lara. É só um vestido."
Ele se virou, pegou o celular e começou a digitar, já perdendo o interesse. A indiferença dele era mais dolorosa do que qualquer insulto. Para ele, a minha dor era um inconveniente, uma distração do plano maior. Respirei fundo, empurrando a dor para baixo, junto com todo o resto.
Chegamos ao salão de baile do hotel de luxo. O lugar brilhava com cristais e prata. Políticos, empresários, celebridades. O poder e o dinheiro pairavam no ar, densos como fumaça de charuto. Heitor segurava meu braço com força, me guiando pelo salão. Eu me sentia como um acessório caro no braço dele.
Os olhos dele não estavam em mim. Estavam varrendo a multidão, caçando. Eu vi o momento exato em que ele a encontrou. A postura dele mudou. O corpo dele ficou tenso, alerta. Um predador que localiza a presa. Isabela estava perto da fonte de champanhe, conversando com o pai de Heitor, o Senador. Ela usava um vestido branco, elegante e discreto. O oposto exato do meu.
Heitor sorriu. O show ia começar.
Ele me conduziu até a mesa principal, reservada para a família e os convidados de honra. Havia dois lugares vazios ao lado do Senador. Eu presumi que um era meu. Mas Heitor não parou. Ele me deixou de pé ao lado da mesa, um alvo exposto no meu vestido vermelho, e caminhou direto para Isabela.
Ele pegou a mão dela. O Senador sorriu, cúmplice. Diante de todos, Heitor levou Isabela até a cadeira de honra ao lado do pai dele. A cadeira que deveria ser minha. Ele se sentou na outra, deixando-me para trás, sozinha e humilhada.
O murmúrio se espalhou pelo salão. Os olhares curiosos se voltaram para mim. A garota de vermelho, abandonada no centro do palco.
Um garçom se aproximou.
"Senhora? A senhora está com o grupo do Senador?"
Eu olhei para a mesa principal, para Heitor rindo de algo que Isabela disse, completamente alheio à minha existência.
"Não," eu respondi, a voz firme. "Estou apenas de passagem."
Eu me virei e caminhei até a mesa mais distante do salão, em um canto escuro. Sentei-me, as costas retas. Se ele queria um show, eu não seria a vítima indefesa.
Minha atitude o irritou. Ele se levantou e veio até a minha mesa, o rosto uma máscara de fúria contida.
"O que você está fazendo aqui?" ele sibilou.
"A vista é melhor," eu disse, calmamente.
Ele me agarrou pelo braço, a força dele me machucando.
"Levante-se. Agora."
Ele me arrastou de volta para a mesa principal, para a humilhação.
"Isabela," ele disse, com um sorriso forçado. "Quero que conheça Lara. Uma... amiga."
A palavra "amiga" pairou no ar, carregada de veneno.
Isabela me olhou de cima a baixo, um sorriso de desprezo nos lábios. O olhar dela demorou no meu decote.
"Amiga?" ela disse, a voz doce e afiada. "Heitor, você sempre foi tão generoso com suas... amizades."
Eu sorri de volta, o sorriso mais doce que consegui produzir.
"É verdade. Ele é especialmente generoso quando quer muito alguma coisa."
O sorriso de Isabela vacilou. Heitor apertou meu braço com mais força.
Para completar a cena, ele passou o braço pela minha cintura, me puxando para perto, colando o meu corpo no dele. A mão dele pousou perigosamente perto da parte nua das minhas costas. Ele não olhava para mim. Ele olhava para Isabela, desafiando-a, usando a minha proximidade, a minha semi-nudez, como uma arma contra ela.
"Lara é muito especial para mim," ele disse, a voz rouca, os olhos fixos em Isabela.
Eu me senti suja. Usada. Exposta.
Isabela não aguentou. O rosto dela se contraiu em uma máscara de dor e raiva.
"Eu preciso de um pouco de ar," ela disse, abruptamente.
Ela se levantou e caminhou rapidamente em direção à saída, os ombros tensos.
No instante em que ela se moveu, Heitor me largou. Como se eu fosse um objeto quente que ele não precisava mais segurar. Ele não disse uma palavra. Não olhou para trás. Ele simplesmente correu atrás dela, deixando-me, mais uma vez, sozinha no meio do salão, o eco das risadas e conversas soando como uma zombaria. A missão dele estava cumprida. A minha utilidade, por enquanto, havia acabado.
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