"Você me humilha na frente da minha família, desaparece, e eu te encontro assim? Se esfregando em um estranho?" A raiva dele era um fogo frio, os olhos dele queimando.
"Eu não te devo nada!" eu cuspi as palavras. "O nosso 'acordo' acabou. Eu ouvi você e a Isabela. Eu sei que eu era só um jogo para você."
A menção de Isabela o fez fraquejar por um segundo. Mas a raiva voltou, mais forte.
"Você não tem o direito de terminar nada. Eu decido quando acaba."
"Você não decide mais nada na minha vida," eu disse, a voz gelada. Eu olhei para ele com todo o desprezo que sentia. "Para mim, você não existe."
A minha calma o enfureceu mais do que qualquer grito. Ele olhou em volta, cego de raiva, e seu punho se chocou contra a parede de tijolos ao meu lado. Ele gritou, mais de frustração do que de dor. Os nós dos dedos dele estavam sangrando.
"Você é minha, Lara. Você entende?" ele disse, o rosto a centímetros do meu, o hálito cheirando a uísque.
Naquele momento, Isabela apareceu, o rosto contorcido de ódio.
"Então é aqui que você estava?" ela gritou para Heitor, antes de se virar para mim. "Sua vadiazinha barata. Você não consegue deixá-lo em paz?"
Antes que eu pudesse reagir, a mão dela voou e me atingiu no rosto. O tapa foi forte, estalado, e fez minha cabeça girar.
Eu esperei que Heitor fizesse alguma coisa. Que a afastasse, que me defendesse. Mesmo depois de tudo, uma parte estúpida de mim esperava.
Ele não fez nada.
Ele apenas olhou, a mão sangrando ao lado do corpo, enquanto Isabela me olhava com um triunfo cruel. A indiferença dele foi o golpe final. A última gota de esperança, a última ilusão, morreu ali.
"Vamos embora, Heitor," disse Isabela, puxando o braço dele.
Heitor deu um passo para trás, o olhar dele em mim era frio como gelo.
"Isso não acabou," ele ameaçou. "Você vai se arrepender."
Ele se virou e saiu com ela, deixando-me ali, com a bochecha ardendo e o coração em pedaços.
Camila me encontrou. O rosto dela estava pálido de choque e raiva.
"Vamos sair daqui. Agora."
Ela me levou para fora, para o ar da noite. Eu só queria fugir. Para o mais longe possível. Mas quando chegamos ao carro de Camila, o carro de Heitor bloqueava a nossa saída.
Ele saiu do carro, sozinho. Isabela não estava com ele.
"Você não vai a lugar nenhum," ele disse, a voz calma de uma maneira aterrorizante.
Ele abriu a porta do carro dele.
"Entre."
"Não," eu disse.
Camila se colocou na minha frente.
"Deixe-a em paz, seu doente!"
Heitor a ignorou. Ele caminhou até mim, me pegou pelo braço e me forçou a entrar no carro dele. Camila gritou, tentou impedi-lo, mas ele a empurrou para o lado com facilidade. Ele entrou no carro, travou as portas e acelerou, deixando Camila gritando na calçada.
Ele não disse uma palavra durante o trajeto. Apenas dirigia, as mãos apertando o volante com força, os nós dos dedos ainda sangrando. Ele me levou de volta para o apartamento dele. O lugar que eu jurei nunca mais pisar.
Ele me empurrou para dentro.
"Você vai ficar aqui. Vai fazer o que eu digo. E vai aprender o seu lugar."
Ele tirou meu celular da minha bolsa e o guardou no bolso.
"Você não vai falar com ninguém. Não vai a lugar nenhum. Você é minha propriedade agora."
Ele me trancou no quarto de hóspedes. Um quarto luxuoso que agora era a minha prisão. Fiquei ali, sentada na cama, o terror dando lugar a um desespero profundo. Eu estava presa.
No dia seguinte, um homem que eu nunca tinha visto antes bateu na porta. Ele era alto, usava um terno e tinha um olhar gentil, que não combinava com a situação. Ele trabalhava para Heitor.
"O senhor Heitor me pediu para trazer isso para a senhorita," ele disse, entregando-me uma bandeja com comida.
Eu não toquei na comida.
O homem voltou mais tarde. O nome dele era Lucas.
"Você precisa comer."
"Eu quero ir embora," eu disse.
Ele suspirou.
"Eu não posso fazer isso. Mas..."
Ele olhou para os lados, para se certificar de que ninguém estava ouvindo.
"Ele é um homem perigoso, senhorita. Mas ele não vai te machucar fisicamente. O jogo dele é outro."
Nos dias que se seguiram, Lucas era a única pessoa com quem eu falava. Ele me trazia comida, livros. Ele era a minha única janela para o mundo exterior. Heitor não aparecia. Ele me mantinha prisioneira, mas me ignorava. Era uma tortura psicológica. Ele queria quebrar o meu espírito.
Uma noite, Lucas entrou no meu quarto, o rosto sério.
"Ele vai viajar com a senhorita Torres por uma semana. É a sua chance."
Ele colocou um envelope na minha mão.
"Aqui tem dinheiro. E uma passagem de ônibus para o interior. Para uma cidade pequena onde ninguém vai te procurar. Há também uma identidade nova. Use-a. Desapareça, Lara."
Eu olhei para ele, chocada.
"Por que você está fazendo isso?"
"Porque ninguém merece isso," ele disse, com uma tristeza no olhar. "Eu já vi o que ele faz. E porque... você me lembra a minha irmã. Vá. E não olhe para trás."
A esperança, frágil e trêmula, voltou a nascer em mim. Uma chance. Uma única chance de escapar daquele pesadelo.
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