Sua namorada, Camila, chorava em seus braços, uma performance perfeita de donzela em perigo. A multidão me vaiou. Os juízes me olharam com desprezo. Perdi meu estúdio, meus alunos, minha carreira. Tudo. A traição deles me destruiu, e o desespero me consumiu até o fim. A causa de tudo foi minha confiança cega, minha ingenuidade em acreditar que talento e dedicação eram o suficiente.
Mas então, eu abri os olhos.
A luz do sol entrava pela janela do meu estúdio, o mesmo estúdio que eu perdi. O cheiro de madeira polida e suor enchia o ar. Olhei para o relógio na parede. Faltavam três horas para o início do campeonato nacional. O dia em que tudo começou. O dia da traição.
Eu estava de volta. Tive uma segunda chance.
A porta do estúdio se abriu e eles entraram. Lucas, com seu sorriso carismático que antes me enganava, e Camila, com seus olhos que escondiam uma inveja profunda. Eles caminharam até mim, e a cena era exatamente a mesma da minha memória.
"Professora Sofia," começou Lucas, com uma expressão preocupada. "Acho que tem algo errado com meu sapato. A sola parece... solta. Você pode dar uma olhada? Se isso se soltar no palco, minha carreira acaba."
Na minha vida passada, eu corri para ajudá-lo. Peguei minha pequena maleta de reparos, colei a sola com cuidado, e foi essa gentileza que ele usou contra mim. Ele alegou que minha "ajuda" foi o ato de sabotagem.
Desta vez, eu não me movi.
Eu cruzei os braços e olhei para o sapato dele, e depois para o rosto dele.
"É o seu sapato, Lucas," eu disse, com a voz fria e calma. "É sua responsabilidade verificar seu equipamento. Você é um profissional, não é?"
Lucas ficou sem palavras. Ele não esperava essa reação. Camila franziu a testa, a confusão clara em seu rosto. O plano deles dependia da minha reação previsível, da minha natureza prestativa.
Pedro, meu amigo de infância e ex-parceiro de dança, estava encostado na parede do outro lado da sala. Ele se aproximou, preocupado.
"Sofia, o que há com você? O Lucas precisa de ajuda. O campeonato é hoje."
Lucas olhou para Pedro com um ar de superioridade.
"Deixa pra lá, Pedro. Parece que a professora não está de bom humor hoje. Talvez a pressão do campeonato esteja afetando ela. Eu mesmo resolvo."
Ele disse isso alto o suficiente para os outros alunos ouvirem, pintando-me como a mentora instável e indiferente. Eu não me importei. Deixei que eles pensassem o que quisessem.
Meu celular vibrou no bolso. Ignorei. Meu foco não estava mais neles, não estava mais neste estúdio ou neste campeonato. Meu foco estava no futuro. Um futuro que eu construiria para mim, longe dessa teia de mentiras. Eu me vingaria, não com gritos e acusações, mas com o meu silêncio e o sucesso deles se desfazendo por conta própria.
Lucas finalmente chegou para o ensaio final, quase uma hora atrasado. Ele entrou na sala como uma estrela de cinema, sorrindo para todos, absorvendo a adoração dos outros alunos.
Ele abraçou Camila, que estava ao seu lado, e eles trocaram um olhar rápido. Um olhar que eu conhecia muito bem. Era o olhar de cúmplices, o brilho da maldade compartilhada. Os outros alunos os rodeavam, rindo de suas piadas, completamente alheios ao veneno que eles espalhavam.
O relógio na parede continuava a ticar. O tempo estava se esgotando. A tensão na sala era palpável, mas por razões diferentes para mim. Eles estavam ansiosos pelo triunfo. Eu estava ansiosa para assistir ao seu fracasso. Tudo o que eu precisava fazer era não fazer nada.