Quando finalmente conseguiram sair do beco e chegar ao local do campeonato, a cena foi exatamente como eu me lembrava, só que desta vez, eu não fazia parte dela. Eu e Pedro chegamos meia hora antes, no nosso próprio carro, e estávamos sentados em um café do outro lado da rua, observando.
Vimos o grupo correr desesperadamente para a entrada dos competidores. A porta estava fechada. Eles bateram, gritaram, imploraram.
O Diretor do Campeonato, um homem severo e inflexível chamado Sr. Almeida, apareceu na porta.
"O que significa esta confusão?" ele perguntou, a voz carregada de autoridade.
"Senhor Almeida, por favor! Tivemos um problema com o trânsito, um imprevisto! Nos deixe entrar!" implorou Lucas, seu charme completamente desaparecido, substituído por puro desespero.
A resposta do Sr. Almeida foi cortante. "As regras são claras. O check-in para a sua categoria encerrou há quinze minutos. A pontualidade faz parte do profissionalismo de um dançarino. Vocês estão desclassificados."
Ele fechou a porta na cara deles. A esperança em seus rostos se transformou em choque e desolação. O sonho de um ano inteiro de trabalho, destruído em um instante.
Outros dançarinos e professores que passavam pelo corredor pararam para olhar. Os sussurros começaram. "É a equipe da Sofia Mendes? Desclassificados por atraso? Que vergonha." A humilhação era pública.
Foi então que o grupo implodiu. A culpa precisava de um alvo.
"Isso é tudo culpa sua, Lucas!" gritou um dos alunos, empurrando-o. "Você e sua namoradinha nos fizeram perder tempo!"
Outro se juntou. "Você era o líder! Você deveria ter nos tirado daqui mais cedo!"
A discussão se transformou em uma briga feia. Socos foram trocados. Gritos enchiam o corredor. No meio do caos, Camila viu sua oportunidade de desviar a culpa.
Ela apontou um dedo trêmulo na minha direção, do outro lado da rua. Eu tinha acabado de sair do café com Pedro.
"É CULPA DELA!" Camila gritou, com lágrimas de crocodilo escorrendo pelo rosto. "É CULPA DA SOFIA! ELA SE RECUSOU A NOS AJUDAR! ELA SABIA DO TRÂNSITO E NÃO DISSE NADA! ELA QUERIA QUE A GENTE FRACASSASSE!"
A acusação pairou no ar. A briga entre os alunos parou. Todos os olhos se viraram para mim.
Lucas, humilhado, derrotado e procurando desesperadamente por um bode expiatório, viu a tábua de salvação que Camila lhe ofereceu. A raiva em seu rosto se transformou em uma fúria cega. Ele me viu, calma e impassível, e isso o quebrou.
Ele correu na minha direção, atravessando a rua, os olhos injetados de ódio.
"VOCÊ! VOCÊ FEZ ISSO! VOCÊ SABOTOU MEU SONHO!" ele berrava, correndo para me atacar.