Camila se aproximou de Lucas com um pequeno objeto na mão. Era uma figa de madeira barata.
"Para te dar sorte, meu amor," ela disse, com uma voz doce e falsa.
Ela prendeu a figa na bolsa de dança dele, demorando de propósito, ajustando-a várias vezes. Lucas a beijou. Um momento aparentemente doce, mas eu sabia que era apenas mais um ato para queimar preciosos minutos. Na vida passada, eu achei o gesto adorável. Agora, via a manipulação clara como o dia.
Os outros alunos começaram a notar minha apatia.
"A Professora Sofia está estranha hoje," sussurrou uma das garotas.
"Sim, ela nem olhou para o Lucas. Ele é a nossa estrela, nossa única chance de ganhar," respondeu outro.
Camila ouviu e se aproximou deles, falando em um tom de falsa preocupação. "Acho que ela está nervosa por nós. Ela quer tanto que a gente vença." Suas palavras eram veneno coberto de açúcar.
Eu sabia exatamente o que eles estavam planejando. Eles iam se atrasar de propósito. Iam perder o horário de inscrição. Mas na vida passada, eu entrei em pânico e encontrei uma solução. Eu liguei para um contato meu no comitê, implorei, e consegui que eles entrassem. E no final, eles me acusaram de sabotagem. Desta vez, não haveria resgate.
Eu sabia que a rota principal para o local do evento, a Marginal Tietê, estaria um caos por causa de um acidente. Eu também sabia que o "atalho secreto" que Camila iria sugerir, por uma área industrial antiga, estava bloqueado por uma obra há semanas. Eu tinha avisado sobre isso na vida passada, mas eles me ignoraram.
De repente, a ficha caiu para eles. Um dos alunos pegou o celular para checar o trânsito.
"Gente... estamos muito atrasados! A Marginal está completamente parada! Não vamos chegar a tempo!"
O pânico se instalou. Os rostos confiantes se transformaram em máscaras de medo. A realidade da situação os atingiu como uma onda.
Eles se viraram para Lucas, o líder deles, o "queridinho".
"Lucas! O que a gente faz?"
O sorriso carismático de Lucas desapareceu. Ele parecia irritado, pego de surpresa. O plano dele não incluía essa parte. Ele contava comigo para resolver o problema, para que ele pudesse continuar sendo o herói. Sem a minha ajuda, ele não era nada.
Finalmente, os olhos de todos se voltaram para mim. A última esperança deles.
"Professora! Por favor! Você conhece a cidade como ninguém! Existe outro caminho? Um atalho?"
Eu olhei para os rostos desesperados deles. Lembrei-me de como esses mesmos rostos me olharam com ódio e desprezo no palco. Lembrei-me das mentiras que eles contaram para a imprensa, destruindo minha vida. Um sentimento gelado percorreu meu corpo.
"Eu não vou dirigir," eu disse, simplesmente. "Vocês se atrasaram. A responsabilidade é de vocês."
O choque em seus rostos foi quase cômico. Eles não podiam acreditar no que estavam ouvindo. A professora dedicada, a mentora incansável, estava se recusando a ajudá-los.
Camila, tentando desesperadamente retomar o controle, deu um passo à frente.
"Não se preocupem! Eu conheço um atalho! Um caminho secreto que ninguém usa. Vamos conseguir!"
Os alunos, desesperados por qualquer solução, agarraram-se a essa falsa esperança. Eles a seguiram cegamente, como ovelhas indo para o matadouro.
Eu os observei sair correndo do estúdio, entrando em uma van, seguindo as instruções da sua falsa salvadora. Um pequeno e amargo sorriso se formou em meus lábios. Idiotas. Eles estavam correndo direto para a própria ruína. E eu estaria lá para assistir.