Amor e Traição em Pães
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Capítulo 2

O choque inicial deu lugar a um frio que subiu pela espinha de Luana. Ela se encolheu ainda mais atrás da prateleira, cada palavra que ouvia cravando em sua mente. Aquele era Pedro. O homem para quem ela estava sacrificando seu corpo, seu sonho, seu futuro.

E ele estava rindo dela.

"E quando você vai largar essa coisa, Pedro?" , a voz de Gustavo soou novamente, metálica e distante pelo telefone. "A Isabela já está ficando impaciente. Casamento marcado, festa, lua de mel... você precisa sair dessa vida de mentira."

A palavra "casamento" fez o estômago de Luana revirar. Casamento? Com Isabela?

"Calma, cara. Só mais um pouco. Deixa ela juntar mais uns trocados. Cada centavo dela é um luxo a mais pra mim e pra Bel. Ela não suspeita de nada. Acha que eu sou a vítima aqui, o coitadinho que perdeu tudo."

Pedro deu uma pausa, e Luana podia imaginá-lo olhando ao redor, com nojo daquele lugar que ela construiu com suor.

"Sabe o que é mais engraçado? Ela fechou a 'Doce Luana' . Aquela confeitaria que era a vida dela. Cheia de prêmios, de clientes ricos. Ela jogou tudo no lixo por mim."

Ele riu de novo, um som baixo e cruel.

"Ela acha que está me ajudando a recomeçar. Mal sabe ela que está apenas financiando a festa do meu noivado. Acha que o dinheiro na caixa de sapatos é para 'nós' . É hilário. Ela, uma padeira. Comigo. É uma piada."

As palavras dele eram como tapas na cara de Luana. Padeira. Ele repetia essa palavra como se fosse um xingamento. A profissão que sua mestra, Dona Clara, a ensinou a amar. A profissão que deu dignidade à sua família. Agora, na boca de Pedro, era uma ofensa.

Ela se lembrou das noites em que chegava em casa exausta, os pés inchados, e Pedro a abraçava, dizendo: "Você é minha heroína, Lu. Obrigado por esse sacrifício."

Mentira. Tudo mentira.

Enquanto ele dizia aquelas palavras, ele a desprezava. Enquanto ela contava as moedas no fim do dia, feliz por estarem construindo algo juntos, ele estava planejando seu casamento com outra mulher.

"A família dela deve estar adorando, né?" , zombou Gustavo. "A filha que era uma chef renomada agora é uma Zé Ninguém."

"Eles nem sabem" , respondeu Pedro, com um tom de superioridade. "Ela se afastou de todo mundo pra viver essa farsa comigo. Do mentor dela, aquele chef Ricardo... de todo mundo. Ela está sozinha. Só tem a mim. E ela acredita em cada palavra que eu digo. É fácil demais. Gente como ela... é ingênua. Acredita em amor, em sacrifício. Não entendem de dinheiro, de status."

Luana fechou os olhos com força. As lágrimas que ela se recusava a derramar queimavam por dentro. O amor que ela sentia se transformou em pó, em cinzas. A dedicação, o cansaço, a esperança... tudo era uma piada de mau gosto contada por ele.

Ela se sentiu nua, exposta, humilhada de uma forma que nunca imaginou ser possível. Não era apenas a traição com outra mulher. Era o desprezo. O nojo que ele sentia dela, da sua origem, do seu trabalho.

Ele não a amava. Ele a usava. Ele a via como uma ferramenta, uma fonte de renda descartável.

O som da ligação terminando a trouxe de volta à realidade. Ela ouviu os passos de Pedro se aproximando da porta da padaria. Seu corpo inteiro tremia. O que ela ia fazer? Confrontá-lo? Gritar? Chorar?

Ela se lembrou de cada pão que amassou. De cada cliente que atendeu com um sorriso. De cada moeda que guardou na maldita caixa de sapatos. Tudo para ele. E para ele, não valia nada. Pior, era motivo de riso.

Uma onda de náusea a invadiu. O cheiro de pão quente, que antes a confortava, agora parecia o cheiro da sua própria estupidez.

Ela se olhou no reflexo embaçado de um dos fornos de inox. Viu uma mulher cansada, com farinha no cabelo, o avental sujo. A "padeira" . A "idiota" .

E pela primeira vez em seis meses, ela sentiu um arrependimento tão profundo que doeu fisicamente. Arrependimento por ter acreditado. Por ter amado. Por ter fechado a sua loja, o seu sonho.

Por ter se permitido ser reduzida a isso.

            
            

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