Amor e Traição em Pães
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Capítulo 4

Luana desceu as escadas com a mala numa mão e a caixa de sapatos na outra. Antes de sair, ela parou e olhou para a padaria uma última vez. Pedro nunca tinha colocado um único item pessoal ali. Nem uma foto, nem um livro. Era o espaço de trabalho dela, não o projeto de vida deles. A constatação era óbvia, dolorosa. Ele nunca considerou aquele lugar um lar.

Ela saiu pela porta dos fundos, trancando-a por fora. Deixou a chave na caixinha de correio, um gesto final de rompimento. Não voltaria mais ali.

Andou até a rua principal e pegou um táxi. Precisava ir a um lugar antes de desaparecer. O apartamento antigo dela, onde ela morava antes de se mudar com Pedro. Ela ainda pagava o aluguel, mantendo-o como um depósito para os equipamentos e utensílios da "Doce Luana" . Eram coisas caras, importadas. E, o mais importante, seus cadernos de receitas. Anos de estudo, de criação. Sua verdadeira alma estava guardada ali.

Quando o táxi parou em frente ao prédio de classe média alta, ela sentiu um alívio momentâneo. Era como voltar para casa.

Pagou o motorista e entrou no prédio. Assim que abriu a porta do seu antigo apartamento, o cheiro familiar de baunilha e açúcar, mesmo que fraco, a atingiu. Ela respirou fundo.

Mas a sensação de paz durou pouco. Assim que acendeu a luz, viu que o lugar estava revirado. Caixas abertas, coisas jogadas no chão. E sentado em seu sofá, bebendo sua cerveja, estava Gustavo.

O amigo de Pedro.

Ele a viu e abriu um sorriso nojento.

"Olha só quem apareceu. A padeira veio buscar as forminhas?"

Luana sentiu o sangue gelar, mas manteve a expressão firme.

"O que você está fazendo aqui, Gustavo? Como você entrou?"

"Seu namoradinho me deu a chave, gracinha. Ele disse que você não ia se importar se eu pegasse umas coisinhas emprestadas. Essa batedeira planetária parece cara. Dá pra fazer uma grana."

Ele apontou com a garrafa para o equipamento mais valioso dela, uma KitchenAid vermelha que era seu xodó.

Luana colocou a mala e a caixa no chão.

"Saia do meu apartamento. Agora."

Gustavo levantou, cambaleando um pouco. Ele estava bêbado. Aproximou-se dela, o hálito azedo de cerveja invadindo o espaço pessoal de Luana.

"Calma, padeira. Não precisa ser grossa. Sabe, o Pedro fala muito de você. Diz que você é boa de cama, apesar da origem humilde. Que tal mostrar pra mim um pouco desse seu... talento?"

Ele esticou a mão para tocar o rosto dela.

Num reflexo, Luana se esquivou e deu um passo para trás. A raiva que ela vinha contendo explodiu.

"Não encosta em mim, seu lixo."

Gustavo riu, o som ecoando no apartamento vazio.

"Lixo? Eu sou amigo do seu homem. Do cara que te banca. Você devia me tratar com mais respeito."

Ele avançou de novo, mais rápido dessa vez, e agarrou o braço dela com força.

"Vamos, seja legal. O que tem de mal? O Pedro nem vai saber."

A dor do aperto, a humilhação das palavras, o cheiro dele. Tudo se misturou numa fúria cega. Luana não pensou. Ela agiu.

Com a mão livre, ela agarrou o objeto mais próximo em uma das caixas abertas: um rolo de massa de mármore, pesado e sólido. Sem hesitar, ela o acertou com toda a força na lateral do joelho de Gustavo.

O som foi seco, um estalo horrível.

Gustavo gritou, um uivo de dor, e caiu no chão, largando o braço dela. Ele agarrou a perna, o rosto pálido de choque e dor.

"Sua... sua vadia! Você quebrou meu joelho! Você me paga!"

Luana ficou de pé sobre ele, o rolo de massa ainda na mão, o peito subindo e descendo rapidamente. Ela não sentia medo. Sentia poder.

"Saia daqui" , ela repetiu, a voz baixa e perigosa.

Gustavo tentou se levantar, mas não conseguiu. Ele a olhou com uma mistura de ódio e medo.

"Você não sabe com quem está se metendo! O Pedro... O Pedro vai acabar com você! Ele é um Alcân..."

Ele parou no meio da frase, engolindo o sobrenome. Mesmo na dor, o instinto de proteger o amigo rico falou mais alto.

Luana apenas o encarou, o silêncio dela mais ameaçador do que qualquer grito.

E naquele momento, a porta do apartamento se abriu.

Era Pedro. Ele parou no umbral, olhando a cena: Gustavo no chão, gemendo de dor, e Luana de pé, com um rolo de massa na mão, parecendo uma guerreira pronta para a batalha. O rosto dele era uma máscara de incredulidade e raiva.

                         

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