Corações Unidos Pela Vingança
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Capítulo 1

O cheiro de antisséptico do hospital grudava na minha garganta, um cheiro que eu passei a associar com o silêncio e o som constante de um monitor cardíaco. Minha irmã gêmea, Bia, estava deitada na cama, pálida como os lençóis que a cobriam. Os pulsos dela estavam enfaixados, um lembrete branco e limpo da escuridão que a levou a tentar acabar com tudo. Ela parecia pequena, frágil, uma boneca de porcelana que alguém havia quebrado de propósito. A culpa era do bullying, uma crueldade diária e implacável na escola que ninguém se importou em parar.

A porta do quarto se abriu sem aviso, e Carol, a líder do grupo que atormentava Bia, entrou com seus pais. A mãe dela usava um vestido caro e um olhar de desprezo, como se o próprio ar do hospital público a ofendesse. O pai permaneceu atrás, uma sombra arrogante.

"Viemos ver como a sua filha está," a mãe de Carol disse para a minha mãe, mas a voz dela não tinha um pingo de simpatia, era apenas uma formalidade irritante.

Minha mãe, que estava sentada ao meu lado, se levantou. Seu rosto estava cansado, mas seus olhos eram duros.

"Sua filha colocou a minha aqui," ela respondeu, a voz baixa e controlada.

A mãe de Carol riu, um som feio e forçado.

"Ah, por favor. Crianças são crianças. Elas brigam. A sua filha que é sensível demais. Talvez ela precise de ajuda profissional."

Carol, que até então estava quieta, olhou para a cama onde Bia dormia sob o efeito dos sedativos e soltou uma risadinha.

"Ela parece patética," Carol sussurrou para sua amiga Laura, que esperava no corredor. "Parece que nem pra se matar ela serve direito."

Aquelas palavras flutuaram pelo ar e pousaram em mim. O som do monitor cardíaco pareceu ficar mais alto, um bipe furioso acompanhando a batida do meu próprio coração. Minha mão se fechou em um punho.

A professora de Bia, Lúcia, e o diretor da escola também estavam lá, convocados para uma reunião de emergência. O diretor, um homem flácido com um terno mal ajustado, suava e olhava para todos os lados, exceto para nós.

"Nós sentimos muito pelo ocorrido," ele começou, a voz sem convicção, "mas a escola não pode se responsabilizar por desentendimentos pessoais entre os alunos. Não temos provas concretas de 'bullying' , como vocês alegam."

A mãe de Carol sorriu, vitoriosa.

"Exatamente. Minha filha tem notas excelentes e um futuro brilhante. Essa menina," ela apontou para Bia, "provavelmente tem problemas em casa. Está tentando chamar atenção."

Minha mãe ficou em silêncio, mas eu vi a fúria contida em seus olhos, uma fúria que eu conhecia muito bem. Era uma raiva fria, paciente. Meu pai, que estava encostado na parede, não disse uma palavra, mas seu olhar encontrou o meu, e naquela troca silenciosa, um acordo foi selado. O sistema não faria nada. As regras não se aplicavam a nós. Nós resolveríamos isso do nosso jeito.

Naquela noite, depois que todos foram embora, eu fiquei sozinha com Bia. A luz fraca do quarto iluminava seu rosto pacífico. Fui até o pequeno banheiro do quarto, peguei a tesoura de unha da minha bolsa e parei em frente ao espelho. Meu cabelo era um pouco mais longo que o dela. Sem hesitar, comecei a cortar. Mecha por mecha, meu cabelo caiu na pia, até que a garota no espelho fosse um reflexo exato da minha irmã. A mesma altura, o mesmo rosto, agora o mesmo cabelo.

Amanhã, Bia não iria para a escola.

Eu iria.

            
            

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