A entrada na escola na manhã seguinte foi como caminhar para uma arena. Os olhares me seguiram pelos corredores. Sussurros se espalhavam como fogo em palha seca. "Olha, é a suicida." "O que ela tá fazendo aqui?" Eu ignorei todos eles. Meu foco era um só.
Não demorou muito. Laura, a seguidora covarde de Carol, me bloqueou no caminho para a sala de aula. Um sorriso malicioso estava em seu rosto.
"Olha só quem resolveu dar as caras," ela disse em voz alta, para a pequena plateia que se formava ao redor. "Cansou de ser o centro das atenções no hospital, Bia?"
Eu não respondi com palavras. Minha mão se moveu rápido, agarrando a frente da blusa dela. Com uma força que ela claramente não esperava da "frágil" Bia, eu a joguei contra os armários de metal. O som do impacto ecoou pelo corredor, silenciando os sussurros. Os olhos de Laura se arregalaram em choque e dor.
"Repete o que você disse," eu falei, a minha voz baixa e perigosa, completamente diferente da voz suave de Bia.
Laura gaguejou, incapaz de formar uma frase. Eu a soltei, e ela escorregou para o chão, tremendo. A plateia se dispersou rapidamente. Ninguém queria ser o próximo.
Fui até o armário de Bia. Estava como eu esperava. A porta de metal estava arranhada com insultos. Dentro, os poucos livros que restaram estavam rasgados, as páginas manchadas com algo que parecia suco. Peguei um dos livros destruídos e fui direto para a sala dos professores.
Professora Lúcia estava sentada em sua mesa, tomando uma xícara de café. Ela me olhou com irritação quando eu entrei.
"O que você quer? A aula já vai começar."
Eu joguei o livro rasgado na mesa dela.
"Isso estava no armário da minha irmã," eu disse.
Ela olhou para o livro e depois para mim, com desdém.
"E o que eu tenho a ver com isso? Bia, você precisa parar de causar problemas. Você deve ter provocado os outros alunos para eles fazerem isso."
A calma dela era enlouquecedora. A forma como ela me culpava, culpava a vítima, acendeu o pavio que já estava curto. Eu peguei o livro de volta, saí da sala dos professores e entrei na minha sala de aula, que já estava cheia.
Fui até a frente da turma e levantei o livro para que todos pudessem ver.
"Isso é o que os seus anjinhos fizeram com as coisas da minha irmã," eu anunciei, olhando diretamente para o grupo de Carol, que estava sentado no fundo. "Enquanto ela estava em um hospital."
Professora Lúcia entrou na sala, o rosto vermelho de raiva.
"Bia, sente-se agora! Chega de drama!"
Ela se aproximou de mim, tentando pegar o livro da minha mão.
"Carol e suas amigas são boas alunas. Elas nunca fariam uma coisa dessas. Você provavelmente está inventando tudo isso para chamar atenção, assim como a sua tentativa patética de... "
Ela não terminou a frase.
A minha mão se moveu por conta própria. O som do tapa estalou no silêncio chocado da sala de aula. A cabeça da Professora Lúcia virou para o lado com o impacto, uma marca vermelha começando a se formar em sua bochecha.
Ela me olhou, os olhos arregalados em pura incredulidade. Os alunos prenderam a respiração. A regra havia sido quebrada. O caos era inevitável, e eu o abracei de bom grado.