A papelada foi assinada rapidamente. Como prometido, Ricardo transferiu tudo para o meu nome. A casa que decoramos juntos, os dois carros na garagem, a conta bancária conjunta com todas as nossas economias e as ações da empresa que fundamos.
Ele saiu de casa com uma mala pequena, sem olhar para trás. Ele parecia feliz, leve.
"Sofia, eu sabia que você entenderia" , ele disse antes de sair, com um sorriso sincero. "Você sempre foi a mais compreensiva, a mais calma. Você não é de fazer escândalo."
Ele achava que me conhecia.
Ele me via como uma gata doméstica, mansa e previsível. Uma mulher que aceitaria qualquer coisa em silêncio.
Passamos dez anos juntos. Desde a faculdade até o sucesso nos negócios. Eu estive com ele quando ele não tinha nada, e o ajudei a construir tudo o que ele se tornou.
Lembro-me de uma fase em que ele era terrivelmente inseguro. Ele morria de ciúmes, mas eu nunca dei motivos. Uma vez, ele ficou bravo porque eu não senti ciúmes de uma colega de trabalho que dava em cima dele.
"Você não se importa?" , ele perguntou, com a voz embargada.
Eu ri e disse: "Eu confio em você."
Naquela noite, ele chorou no meu colo. Disse que tinha medo de me perder, que eu era a única coisa boa na vida dele. Disse que sem mim, ele não seria nada.
"Não me deixa, Sofia. Por favor, nunca me deixe" , ele sussurrou.
Eu o abracei forte e prometi que nunca o deixaria. Eu também tinha medo. Minha família morreu em um acidente quando eu era jovem, e Ricardo era tudo o que eu tinha. Ele era minha casa, meu porto seguro. A ideia de perdê-lo me apavorava.
Ele nunca soube desse meu medo. Para ele, eu era a rocha, a pessoa calma e estável que nunca se abalava.
Ele sempre dizia que eu era como uma gata, de temperamento dócil e que gostava de ficar no meu canto.
Ele estava enganado.
Eu não sou uma gata. Gatos arranham quando se sentem ameaçados.
Eu sou mais como uma pantera. Observo em silêncio, espero o momento certo, e quando ataco, é para matar.
E ele não fazia ideia do que tinha despertado em mim.