Nossa empresa, a Lima & Mendes Design, foi construída do zero. Começamos em uma salinha nos fundos de um prédio comercial, com dois computadores velhos e muitos sonhos. Eu cuidava do design e da criação, Ricardo cuidava dos negócios e dos clientes. Éramos uma dupla perfeita.
Quando finalmente fizemos sucesso, ele insistiu em me dar o casamento dos sonhos.
"Você merece o melhor, Sofia. O melhor vestido, a melhor festa, tudo."
Foi um evento grandioso. Ele não poupou despesas. Na frente de todos os nossos amigos e familiares, ele fez um discurso emocionado, dizendo que eu era a mulher da vida dele e que sua maior sorte foi ter me encontrado.
Três anos depois, na festa de fim de ano da empresa, ele disse a mesma frase. Mas não para mim.
Clara tinha derrubado uma taça de vinho no vestido de uma cliente importante. A mulher estava furiosa. Clara, com os olhos cheios de lágrimas, parecia uma ratinha assustada.
Ricardo imediatamente se colocou na frente dela.
"A culpa foi minha, eu esbarrei nela" , ele mentiu, protegendo-a. Depois, ele se virou para a estagiária trêmula e disse, em voz alta o suficiente para que todos ouvissem: "Não se preocupe, Clara. Você é uma boa menina. Você merece o melhor."
A cena se desenrolou na minha frente. A mesma proteção, as mesmas palavras. Era como assistir a uma reprise de um filme, mas com outra atriz no papel principal.
Clara, então, olhou para mim. Com uma voz doce e fingidamente inocente, ela disse:
"Sofia, me desculpe. Ricardo e eu só estávamos conversando sobre um projeto... ele é um chefe tão atencioso."
A forma como ela disse "Ricardo" , com tanta intimidade, e não "Sr. Mendes" , foi a confirmação que eu precisava.
Eu me senti entorpecida. A humilhação pública, o descaramento dos dois. Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou de vez. O amor, a dor, tudo se transformou em um gelo cortante.
"Não se preocupe" , eu disse, com um sorriso vazio. "A partir de hoje, vocês não precisam mais se esconder. Desejo toda a felicidade do mundo para vocês."
Ricardo pareceu chocado com a minha frieza.
"Sofia, podemos continuar amigos, não é?"
Eu ri. Uma risada seca, sem humor.
"Amigos? Ricardo, você não tem mais nenhuma utilidade para mim. Nem como amigo, nem como nada."
Virei-me para sair, mas a voz dele me parou.
"Não seja assim..."
Eu me virei lentamente e olhei para os dois. Clara já estava se agarrando ao braço dele, com o rosto manchado de lágrimas falsas.
"Ah, desculpe" , eu disse, com o máximo de sarcasmo que consegui reunir. "Não quero atrapalhar o momento de um casal. Afinal, eu não costumo incomodar homens casados."
O rosto de Ricardo ficou pálido. O de Clara, vermelho de raiva.
Eu dei as costas e saí da festa sem olhar para trás. Entrei na minha BMW, o carro que ele me deu como prêmio de consolação, e dirigi.
Não para casa.
Mas para o hospital.
Peguei o exame na minha bolsa. O resultado era claro, em letras grandes e pretas.
Positivo.
Eu estava grávida.