A Irmã, o Engano e o Mar
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Capítulo 2

A raiva transformou o rosto de Luiza. Seus olhos, antes brilhantes de empolgação, agora fuzilavam na minha direção.

"Você sempre faz isso! Sempre tenta controlar a minha vida! Eu não sou mais uma criança, Ana!"

Ela jogou o folheto da viagem na minha cama. O papel colorido pareceu um insulto em meio aos meus lençóis brancos.

"Eu não estou te controlando, estou te protegendo" , respondi, minha voz carregada com o peso da memória que só eu tinha. "Você não entende o que está em jogo."

"O que está em jogo é a minha felicidade! É a única chance que eu tenho de ver algo incrível, de fazer algo por mim mesma! Mas você não suporta isso, não é? Você quer que eu fique presa aqui, debaixo da sua asa, para sempre!"

Suas palavras eram as mesmas da vida passada. Naquela época, elas me feriram, me fizeram sentir culpada. Agora, elas apenas confirmavam minhas suspeitas. Alguém estava colocando essas ideias na cabeça dela.

"Nossos pais me deixaram responsável por você, Luiza. É um fardo que eu carrego com seriedade."

"Um fardo? É assim que você me vê?" a voz dela tremeu, uma mistura de raiva e mágoa. "Você usa os nossos pais para justificar tudo! Para me manter numa coleira!"

Sem esperar por uma resposta, ela se virou bruscamente e saiu do meu quarto, batendo a porta com uma força que fez o pequeno porta-retrato dos nossos pais na minha estante vibrar. O som da porta batendo ecoou no silêncio, um ato final de desafio.

Sentei-me na beirada da cama, a cabeça entre as mãos. O alívio de estar viva era ofuscado pela dor de sua traição. Era ainda pior do que eu lembrava.

Algumas horas depois, meu celular tocou. Era um dos meus colegas de trabalho, o Pedro.

"Ana? Oi! Só ligando pra confirmar... você e sua irmã vão na viagem, né? A Luiza acabou de passar aqui na frente do escritório e falou com a Sra. Carla. Parecia super animada."

Meu sangue gelou.

"Ela foi até o escritório?"

"Sim, acabaram de sair juntas. Acho que foram tomar um café. A Sra. Carla parecia bem satisfeita."

Desliguei o telefone, o coração acelerado. Luiza tinha ido direto para a fonte do veneno. Elas estavam juntas. Planejando.

Sem pensar duas vezes, troquei de roupa, peguei minha bolsa e as chaves do carro. Eu precisava encontrá-las. Eu precisava parar aquilo.

Dirigi até a cafeteria perto do escritório, um lugar que a Sra. Carla frequentava. E lá estavam elas, sentadas em uma mesa perto da janela. Sra. Carla falava com gestos elegantes, um sorriso fino nos lábios, enquanto Luiza ouvia atentamente, absorvendo cada palavra.

Estacionei de qualquer jeito e entrei na cafeteria, indo direto para a mesa delas.

"Luiza, vamos embora. Agora."

Minha aparição repentina as assustou. Luiza me olhou com uma mistura de choque e raiva. Sra. Carla, por outro lado, manteve a compostura, um brilho gélido em seus olhos.

"Ana, que surpresa desagradável" , disse Carla, com sua voz suave e cortante. "Sua irmã e eu estávamos apenas finalizando os detalhes da nossa maravilhosa viagem."

"A viagem foi cancelada" , anunciei, pegando o braço de Luiza.

"Me solta!" Luiza puxou o braço com força. Sua voz subiu de tom, atraindo a atenção de outras pessoas no café. "Você está me envergonhando!"

"Você não sabe com quem está se metendo, Luiza!"

"Eu sei muito bem! A Sra. Carla é uma mulher de sucesso, alguém que me inspira! Diferente de você, que só quer me prender!"

Ela se levantou, o rosto vermelho.

"Você acha que eu não sei por que você faz isso? Você tem inveja! Inveja porque eu ainda tenho uma vida inteira pela frente, enquanto a sua é cuidar de mim! Você me culpa pela morte dos nossos pais!"

O grito dela ecoou no silêncio constrangido da cafeteria. As pessoas nos olhavam abertamente agora. Senti meu rosto queimar.

Na confusão, o braço de Luiza esbarrou na mesa. A xícara de café que ela estava bebendo virou, derramando o líquido quente sobre um pequeno objeto que estava ao lado: um pequeno globo de neve com uma foto dos nossos pais dentro, um presente que eu tinha dado a ela no seu último aniversário. O globo caiu no chão e se espatifou.

Os pequenos pedaços de vidro se espalharam pelo chão, junto com a foto encharcada de café. O rosto sorridente dos nossos pais, destruído.

Luiza olhou para os cacos, depois para mim, mas não havia arrependimento em seus olhos. Apenas um desafio frio.

Sra. Carla observava tudo com um leve sorriso de satisfação.

Eu olhei para o globo quebrado, para a raiva no rosto da minha irmã, para a malícia no rosto da minha chefe. Naquele momento, uma sensação avassaladora de impotência tomou conta de mim. A história estava se repetindo, passo a passo, e eu não conseguia fazer nada para impedir. O desespero ameaçou me sufocar, tão real quanto a água do mar.

            
            

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