A Irmã, o Engano e o Mar
img img A Irmã, o Engano e o Mar img Capítulo 3
4
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Eu voltei para casa sentindo um vazio profundo. A imagem do globo de neve quebrado não saía da minha cabeça. Era um símbolo perfeito da nossa relação: estilhaçada. Eu não podia forçar Luiza a ficar, não daquele jeito. A briga na cafeteria só a empurrou ainda mais para os braços de Carla. Eu precisava de uma nova estratégia.

A oportunidade veio na forma de uma mensagem de texto da Sra. Carla para todo o grupo de trabalho.

"Caros colegas, para celebrar nossa futura expedição, ofereço um pequeno coquetel em minha casa hoje à noite. A presença de todos e de seus acompanhantes é essencial. Até lá."

Essencial. A palavra era uma ordem disfarçada. Na minha vida anterior, eu fui, e foi lá que a pressão final aconteceu. Desta vez, eu usaria a festa a meu favor.

Quando cheguei, a casa de Carla estava cheia. Música ambiente, garçons servindo bebidas e canapés. Uma cena de sucesso e sofisticação. Luiza já estava lá, ao lado de Carla, rindo de algo que um colega dizia. Ela me viu chegar e seu rosto se fechou por um instante, antes de me ignorar completamente.

Eu me mantive distante, observando. Um garçom se aproximou de Luiza com uma bandeja de taças de champanhe.

"Luiza, não" , eu disse, me aproximando e colocando a mão sobre a taça que ela ia pegar. Ela tinha dezoito anos, mas era fraca para álcool.

"Me deixa em paz, Ana" , ela sibilou, pegando a taça mesmo assim. "Não sou sua filhinha."

Ela se virou e, deliberadamente, tomou um grande gole de champanhe, me encarando por cima da borda da taça. Era uma provocação clara. Ela queria me desafiar na frente de todos.

"Ana, querida." A voz de Carla soou atrás de mim, suave como seda e fria como gelo. "Deixe a menina se divertir. É uma festa. Um pouco de champanhe não vai fazer mal."

Ela se colocou entre mim e Luiza, um gesto sutil de posse.

"Além do mais" , continuou Carla, baixando o tom para que só eu ouvisse. "Sua atitude está estragando o clima. Todos os seus colegas estão aqui, ansiosos pela viagem. Sua recusa está sendo vista como uma grande falta de espírito de equipe. Você é uma líder de projeto, Ana. Precisa dar o exemplo. Não me force a reavaliar sua posição na empresa."

A ameaça era clara, a mesma da outra vida. Me demitir. Deixar-me sem recursos para cuidar de Luiza, tornando-a ainda mais dependente da "generosidade" de Carla.

Eu engoli em seco. A humilhação queimava, mas eu precisava aguentar. Precisava ficar, observar, encontrar uma brecha.

"Você tem razão, Sra. Carla. Peço desculpas."

Minha voz saiu submissa. Vi um lampejo de triunfo nos olhos dela.

Fiquei na festa, um fantasma no canto da sala, forçando sorrisos e conversas vazias. Tentei me aproximar de Luiza novamente mais tarde, quando ela parecia um pouco tonta por causa da bebida.

"Luiza, por favor, vamos para casa. Você já bebeu demais."

"Não." Ela se esquivou do meu toque. "Eu vou dormir na casa de uma amiga hoje."

"Que amiga?" , perguntei, já sabendo a resposta.

"Não te interessa."

Ela me deu as costas e foi em direção à Sra. Carla, que a acolheu com um braço sobre os ombros. Luiza então se virou para mim, um sorriso bêbado e cruel nos lábios.

"Sabe, Ana? Eu menti. Eu não vou dormir na casa de uma amiga. A Sra. Carla gentilmente me ofereceu um dos quartos de hóspedes. Afinal, precisamos acordar cedo amanhã para a viagem."

O choque me paralisou. A admissão aberta da mentira, a cumplicidade explícita com a minha inimiga.

"Eu sei que você não queria vir, mas a Carla disse que você não teria escolha no final. E ela estava certa, não é?"

Ela piscou para mim, um gesto infantil e malicioso.

Naquele momento, toda a esperança que eu tinha de que ela era apenas uma vítima ingênua se desfez. Ela não estava sendo apenas manipulada. Ela era uma cúmplice. A traição era muito mais profunda do que eu imaginava. Ela estava conscientemente participando do plano.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022