A Irmã, o Engano e o Mar
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Capítulo 4

Na manhã seguinte, acordei no iate. O balanço suave da água, o cheiro de maresia e diesel. Um calafrio percorreu meu corpo. Eu estava aqui de novo. A cabeça doía, uma tontura persistente. O champanhe da noite anterior. Carla deve ter colocado algo na minha bebida.

"Bom dia, dorminhoca."

A voz de Luiza me tirou do torpor. Ela estava parada na porta da pequena cabine, já vestida com um short e uma camiseta de uma marca cara que eu nunca tinha visto antes.

"A Sra. Carla disse pra gente se apressar. O mergulho começa em uma hora."

Ela sorria, mas seus olhos estavam frios, avaliadores. A preocupação em sua voz era oca.

Eu me sentei na cama, a tontura me fazendo fechar os olhos por um segundo.

"Você me drogou, Luiza" , afirmei, sem rodeios.

A acusação pairou no ar.

O sorriso dela vacilou, mas ela se recuperou rapidamente.

"Do que você está falando? Você bebeu demais na festa ontem, só isso. Ficou falando umas coisas estranhas sobre a viagem ser perigosa. Eu só cuidei de você."

Ela continuava mentindo. Com uma facilidade assustadora.

"Eu não bebi tanto assim" , insisti, olhando diretamente nos olhos dela.

E então eu vi. Um brilho fugaz, uma frieza que eu conhecia. Era o mesmo olhar que ela me deu na minha vida passada, momentos antes de eu morrer. O olhar de alguém que já tinha feito sua escolha, que tinha me condenado. Um flash daquele momento terrível me atingiu: Luiza nadando para longe, me ignorando, enquanto Carla arrancava meu equipamento. Ela não era só cúmplice, ela estava lá. Ela viu tudo.

A dor daquela percepção foi avassaladora. Meu coração parecia ter sido esmagado.

Respirei fundo, empurrando a dor para o fundo da minha mente. Eu precisava de uma nova tática. A confrontação direta não funcionaria.

"Você tem razão" , eu disse, minha voz soando resignada. "Acho que misturei as bebidas. Minha cabeça está explodindo. Eu não vou conseguir mergulhar."

O corpo dela enrijeceu. A surpresa em seu rosto foi genuína.

"O quê? Como assim não vai mergulhar?"

"Eu não estou bem, Luiza. Vou falar com a Sra. Carla e dizer que fico no iate. Vocês podem ir sem mim."

Eu me levantei, fingindo uma tontura maior do que a que eu sentia, e me apoiei na parede.

"Não! Você não pode fazer isso!" A voz dela saiu um oitavo acima, quase um guincho. O pânico era visível em seus olhos. "O... o plano... a viagem... é para todos nós, como uma equipe!"

O plano. Ela disse "o plano". Um lapso.

"Qual plano, Luiza?" , perguntei, fingindo confusão.

Ela gaguejou, o rosto pálido. "O... o plano da viagem! O roteiro! A Sra. Carla quer que todos participem."

Minha súbita desistência a desestabilizou. O plano delas, qualquer que fosse, dependia da minha presença na água. A certeza disso me deu uma nova força.

"Eu sinto muito, mas não dá. Vou ficar aqui."

Sem esperar por sua reação, saí da cabine, deixando-a para trás. Ouvi o som de seus passos apressados logo atrás de mim. Ela estava em pânico. E isso era bom.

            
            

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