Ela sorria, mas seus olhos estavam frios, avaliadores. A preocupação em sua voz era oca.
Eu me sentei na cama, a tontura me fazendo fechar os olhos por um segundo.
"Você me drogou, Luiza" , afirmei, sem rodeios.
A acusação pairou no ar.
O sorriso dela vacilou, mas ela se recuperou rapidamente.
"Do que você está falando? Você bebeu demais na festa ontem, só isso. Ficou falando umas coisas estranhas sobre a viagem ser perigosa. Eu só cuidei de você."
Ela continuava mentindo. Com uma facilidade assustadora.
"Eu não bebi tanto assim" , insisti, olhando diretamente nos olhos dela.
E então eu vi. Um brilho fugaz, uma frieza que eu conhecia. Era o mesmo olhar que ela me deu na minha vida passada, momentos antes de eu morrer. O olhar de alguém que já tinha feito sua escolha, que tinha me condenado. Um flash daquele momento terrível me atingiu: Luiza nadando para longe, me ignorando, enquanto Carla arrancava meu equipamento. Ela não era só cúmplice, ela estava lá. Ela viu tudo.
A dor daquela percepção foi avassaladora. Meu coração parecia ter sido esmagado.
Respirei fundo, empurrando a dor para o fundo da minha mente. Eu precisava de uma nova tática. A confrontação direta não funcionaria.
"Você tem razão" , eu disse, minha voz soando resignada. "Acho que misturei as bebidas. Minha cabeça está explodindo. Eu não vou conseguir mergulhar."
O corpo dela enrijeceu. A surpresa em seu rosto foi genuína.
"O quê? Como assim não vai mergulhar?"
"Eu não estou bem, Luiza. Vou falar com a Sra. Carla e dizer que fico no iate. Vocês podem ir sem mim."
Eu me levantei, fingindo uma tontura maior do que a que eu sentia, e me apoiei na parede.
"Não! Você não pode fazer isso!" A voz dela saiu um oitavo acima, quase um guincho. O pânico era visível em seus olhos. "O... o plano... a viagem... é para todos nós, como uma equipe!"
O plano. Ela disse "o plano". Um lapso.
"Qual plano, Luiza?" , perguntei, fingindo confusão.
Ela gaguejou, o rosto pálido. "O... o plano da viagem! O roteiro! A Sra. Carla quer que todos participem."
Minha súbita desistência a desestabilizou. O plano delas, qualquer que fosse, dependia da minha presença na água. A certeza disso me deu uma nova força.
"Eu sinto muito, mas não dá. Vou ficar aqui."
Sem esperar por sua reação, saí da cabine, deixando-a para trás. Ouvi o som de seus passos apressados logo atrás de mim. Ela estava em pânico. E isso era bom.