Aliança de Sangue, Coração Partido
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Capítulo 1

O ar da noite estava carregado com o cheiro de sucesso, uma mistura de perfume caro e champanhe borbulhante. Eu, Ricardo, um arquiteto cuja carreira finalmente decolava, sentia-me em casa naquele salão. Minha empresa estava celebrando um ano de projetos lucrativos em uma festa de gala beneficente, e eu tinha todos os motivos para sorrir. O principal deles era o futuro que eu planejava com Ana, minha noiva.

Eu a amava. Amava sua doçura, sua dedicação aparente. Ela me disse que estaria trabalhando até tarde, cuidando de um paciente em seu emprego como "cuidadora". Era um trabalho que ela descrevia como exigente, mas gratificante.

Por isso, quando a vi do outro lado do salão, meu coração parou por um instante.

Ela não estava usando seu uniforme simples de cuidadora. Estava deslumbrante em um vestido de seda azul que eu nunca tinha visto, um que certamente custava mais do que o aluguel do nosso apartamento. Seu braço estava entrelaçado ao de um homem idoso, frágil, que se apoiava nela com uma confiança familiar. Ela ria, uma risada cristalina que ecoava pelo salão, enquanto inclinava a cabeça para ouvir o que ele dizia.

Aquilo não fazia sentido. A mulher que eu conhecia, a mulher que se preocupava com cada centavo, não estaria ali, vestida daquela forma, agindo com tanta naturalidade entre os ricos e poderosos. Meu cérebro tentava processar a cena, mas as peças não se encaixavam.

Atravessei o salão, o sorriso congelado no meu rosto, enquanto as pessoas me cumprimentavam. Minha mente estava em um túnel, focada apenas nela. Quando me aproximei, a ouvi dizer ao velho senhor:

"Vovô, o senhor precisa beber um pouco de água."

Vovô?

O que significava aquilo?

"Ana?", chamei, minha voz saindo mais firme do que eu esperava.

Ela se virou. Por uma fração de segundo, vi pânico em seus olhos, uma emoção crua e desprotegida. Mas desapareceu tão rápido quanto surgiu, substituída por um sorriso radiante, ainda que um pouco forçado.

"Ricardo! Meu amor! Que surpresa maravilhosa!", ela exclamou, um pouco alto demais.

A atmosfera ao nosso redor mudou instantaneamente. O velho senhor olhou para mim com curiosidade, e algumas pessoas próximas pararam de conversar para observar.

"Eu achei que você estivesse trabalhando", eu disse, tentando manter minha voz baixa, mas a confusão e a dor já começavam a borbulhar dentro de mim.

"E estou!", ela respondeu rapidamente, apertando o braço do velho senhor. "Este é o Sr. Almeida. Vovô, este é Ricardo, meu noivo."

Ela se virou para mim, seus olhos suplicando para que eu entrasse no jogo.

"Meu amor, o Sr. Almeida insistiu que eu o acompanhasse hoje. É uma noite importante para a clínica."

Clínica. Ela trabalhava em uma clínica de luxo. Outro detalhe que ela convenientemente omitiu. Ela sempre me fez acreditar que era um asilo modesto.

Antes que eu pudesse responder, um dos sócios da minha empresa se aproximou, sorrindo.

"Ricardo! Não sabia que você conhecia a neta do Sr. Almeida! Ele é um dos nossos investidores mais importantes!"

Neta.

A palavra me atingiu como um soco no estômago. Eu olhei para Ana, que mantinha o sorriso no rosto, mas seus dedos apertavam meu braço com uma força desesperada.

"Sim...", consegui murmurar. "Ana é cheia de surpresas."

O sócio riu e se afastou, deixando um silêncio pesado entre nós.

Levei-a para um canto mais afastado, perto das portas de vidro que davam para o jardim.

"Que porra é essa, Ana?", perguntei, a raiva começando a superar a confusão. "Neta? Vovô? Que merda de brincadeira é essa?"

"Sshhh! Fale baixo!", ela sibilou, olhando nervosamente ao redor. "Você vai estragar tudo."

"Estragar o quê? Sua grande mentira? Há quanto tempo isso está acontecendo?"

"Não é o que você está pensando, Ricardo. É complicado."

"Então me explica! Porque da onde eu estou, parece que minha noiva é uma mentirosa."

Ela recuou, seu rosto se contorcendo em uma expressão de mágoa.

"Eu não acredito que você está me acusando assim. Aqui. Na frente de todo mundo", ela disse, sua voz tremendo. "Eu faço tudo por nós, e é assim que você me agradece? Com desconfiança e acusações?"

Ela era boa. Mestra em virar o jogo, em me fazer sentir o vilão. Mas desta vez, a imagem dela com aquele vestido caro e a palavra "neta" ecoando na minha cabeça eram fortes demais.

A farsa estava apenas começando a se revelar, e eu sentia um frio na espinha ao pensar no que mais ela estava escondendo.

            
            

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