Aliança de Sangue, Coração Partido
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Capítulo 3

A performance de Ana foi impecável. Ela chorou, se explicou, apelou para o meu senso de justiça e para o amor que eu sentia por ela. Ela pintou um quadro tão convincente de si mesma como uma samaritana incompreendida que minha raiva começou a se dissipar, substituída por uma pontada de culpa.

Talvez eu tivesse exagerado. Talvez eu tivesse julgado rápido demais.

"Eu só queria que você tivesse me contado, Ana", eu disse, minha voz suavizando. "Nós somos um time. Eu teria te apoiado."

"Eu sei, me desculpe", ela sussurrou, aninhando-se em meus braços. "Eu fiquei com medo de você achar que era loucura. Eu vou consertar as coisas. Vou falar com a família do Sr. Almeida, vou explicar tudo. E vou falar com o seu chefe também."

Eu a abracei, sentindo o calor familiar do seu corpo. Naquele momento, eu queria acreditar nela mais do que tudo. A ideia de que tudo não passava de um mal-entendido era muito mais fácil de aceitar do que a alternativa. Decidimos que iríamos juntos resolver essa confusão. Eu a ajudaria a se explicar, e limparíamos meu nome na empresa. Uma sensação de alívio me invadiu. A crise parecia ter sido contornada.

Naquela noite, fizemos as pazes. Deitados na cama, no escuro do nosso quarto, eu a segurava perto. Tudo parecia normal de novo. Mas então, senti algo.

Enquanto meus dedos traçavam as costas dela, senti um cheiro fraco, quase imperceptível, vindo do seu cabelo. Não era o xampu de flor de laranjeira que ela sempre usava, o cheiro que eu associava a ela. Era algo mais caro, mais sofisticado. Um perfume masculino, amadeirado.

Meu corpo enrijeceu.

Era o mesmo perfume que Lucas estava usando na festa.

Uma onda de frio percorreu minha espinha. Tentei encontrar uma explicação lógica. Talvez ela o tenha abraçado na festa, e o cheiro ficou nela. Sim, devia ser isso. Era a única explicação razoável.

"O que foi?", ela perguntou, sentindo minha tensão.

"Nada, meu amor", menti, forçando meu corpo a relaxar. "Só estou cansado."

Eu me virei para o outro lado, fingindo dormir. Mas minha mente estava a mil por hora. Eu estava sendo paranoico? Ou meu instinto estava me gritando um aviso que eu estava tentando ignorar? Forcei-me a acreditar na explicação mais simples. Eu estava me torturando à toa. Eu precisava confiar nela.

Na manhã seguinte, acordei sozinho na cama.

Havia um bilhete na mesinha de cabeceira, escrito com sua caligrafia perfeita.

"Meu amor, tive que sair cedo. O Sr. Almeida teve uma pequena emergência. Não se preocupe, vou ligar para o seu chefe hoje e resolver tudo. Te amo mais que tudo. Sua, Ana."

A mensagem era doce, atenciosa. Mas a menção ao Sr. Almeida me deixou com um gosto amargo na boca. Olhei para o bilhete, tentando sentir o amor que ela professava, mas tudo que eu sentia era uma inquietação crescente.

Duas horas depois, meu celular tocou. Era meu chefe. Sua voz estava gelada, sem espaço para formalidades.

"Ricardo. Venha para o meu escritório. Agora."

O tom dele me deu calafrios. Fui para a empresa com o estômago revirado. Quando entrei em sua sala, ele não me mandou sentar. Ele estava de pé, com o rosto vermelho de raiva.

"Eu não sei que tipo de jogo você e sua noiva estão jogando, mas acabou", ele disse, a voz cortante. "A família Almeida acabou de ligar. Eles foram à clínica esta manhã para checar o Sr. Almeida depois do seu 'incidente' de ontem."

Ele fez uma pausa, me encarando com fúria.

"Eles descobriram que alguém, usando o nome de Ana, tentou fazer uma retirada de quinhentos mil reais da conta de investimentos do Sr. Almeida ontem à noite. A transação foi bloqueada pelo gerente do banco por suspeita de fraude."

O chão pareceu desaparecer sob os meus pés. Quinhentos mil reais.

"A 'pequena emergência' que sua noiva foi atender", continuou meu chefe, com sarcasmo. "Ela não está lá. Ninguém na clínica a viu hoje. O Sr. Almeida está perfeitamente bem, dormiu a noite toda, e não tem ideia de nada disso."

O bilhete. A mentira. O cheiro do perfume.

Tudo se encaixou de uma vez só, como um quebra-cabeça macabro.

Ela não era uma samaritana. Ela era uma ladra. E eu era o idiota que quase caiu na história dela.

A mentira sobre a emergência era a prova final. A explicação dela era uma farsa completa, e eu tinha sido o alvo perfeito.

            
            

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