Aliança de Sangue, Coração Partido
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Capítulo 4

Meu primeiro instinto foi ligar para ela. Eu precisava ouvir a voz dela, precisava que ela me desse uma explicação, qualquer explicação, mesmo que fosse outra mentira.

O telefone chamou, chamou, e caiu na caixa postal.

"Ana, sou eu. Me liga. Agora."

Tentei de novo. Caixa postal.

E de novo. O telefone foi desligado.

Um pânico gelado começou a se espalhar pelo meu peito. Ela tinha desaparecido. Depois de ser pega tentando roubar meio milhão de reais, ela simplesmente sumiu.

Saí do escritório como um autômato. Voltei para o nosso apartamento, o lugar que antes era nosso refúgio e agora parecia a cena de um crime. Procurei por qualquer pista. Suas gavetas estavam arrumadas, mas algumas de suas roupas mais caras e as joias que eu nunca tinha a visto usar haviam sumido. Sua mala de viagem pequena também não estava no armário.

Ela planejou isso. Ela não foi pega de surpresa, ela tinha um plano de fuga.

Liguei para o hospital onde ela dizia trabalhar antes. Ninguém com o nome de Ana jamais havia trabalhado lá. Liguei para os poucos amigos dela que eu conhecia. Ninguém a tinha visto.

Fui até a clínica de luxo onde o Sr. Almeida estava. Mostrei uma foto de Ana para a recepcionista.

"Sim, eu a conheço", disse a mulher. "Ela é a Srta. Ana, neta do Sr. Almeida. Ela vem aqui com frequência com o Sr. Lucas."

Lucas. Sempre o Lucas.

Dirigi sem rumo pela cidade por horas. Cada esquina, cada rosto na multidão, me lembrava dela. A cidade, que antes era o palco dos nossos sonhos, agora parecia um labirinto de suas mentiras.

A noite caiu, e com ela, o desespero. Eu estava sozinho no apartamento, o silêncio era ensurdecedor. A raiva tinha se transformado em um medo profundo. E se algo tivesse acontecido com ela? E se Lucas a estivesse forçando a fazer isso? A parte estúpida de mim que ainda a amava se agarrava a essa possibilidade.

Decidi que no dia seguinte, se ela não aparecesse, eu iria à polícia. Não para denunciá-la, mas para dar queixa de seu desaparecimento. Talvez eu estivesse errado sobre tudo.

Na manhã seguinte, exausto e com os olhos vermelhos, eu estava pegando as chaves do carro para ir à delegacia quando a chave girou na fechadura.

A porta se abriu e Ana entrou, sorrindo, segurando uma pequena caixa de presente.

"Surpresa!", ela disse, com uma alegria que me pareceu completamente insana.

Eu fiquei parado, mudo, olhando para ela como se fosse um fantasma.

"Onde você estava?", minha voz saiu como um sussurro rouco.

"Eu sei, eu sei, eu sumi", ela disse, vindo em minha direção e me abraçando. "Eu queria te fazer uma surpresa. Feliz aniversário de noivado, meu amor."

Aniversário de noivado. Com tudo o que tinha acontecido, eu tinha esquecido completamente. Era hoje.

"Eu passei o dia todo preparando isso. Fui a Petrópolis para buscar aquele queijo que você adora e reservei nosso restaurante favorito para hoje à noite. Desliguei o celular para ser uma surpresa total."

Ela me entregou a caixa. Dentro, havia um relógio caro, o modelo que eu tinha mencionado que gostava meses atrás.

Meu cérebro não conseguia processar. A tentativa de fraude, o desaparecimento, a mentira sobre a emergência... e agora isso? Um presente de aniversário de noivado? Era uma manobra tão audaciosa, tão descarada, que me deixou tonto.

Ela era uma sociopata? Ou eu estava enlouquecendo?

A confusão era tão grande que paralisou minha raiva. Eu a deixei me guiar para o sofá. Ela falou sobre os planos para a noite, sobre como sentiu minha falta, sobre como o presente era um símbolo do nosso futuro. E eu, como um idiota, a ouvi. Parte de mim, a parte exausta e desesperada, queria que aquilo fosse verdade. Queria que as últimas 48 horas tivessem sido um pesadelo.

Então, me deixei levar. Por algumas horas, fingi que tudo estava bem. Fomos jantar. Rimos, conversamos. Ela era a Ana de sempre, a mulher encantadora por quem me apaixonei.

No restaurante, enquanto ela falava animadamente, notei algo. Ela gesticulava com a mão esquerda, e vi um anel novo em seu dedo anelar. Não era o anel de noivado que eu lhe dei. Era uma aliança de ouro simples, gasta, como se já tivesse sido usada por anos.

"Anel novo?", perguntei, tentando parecer casual.

Ela olhou para a própria mão, surpresa, como se tivesse esquecido que estava usando.

"Ah, isso?", ela riu, um pouco nervosa. "É da minha avó. Coloquei hoje para me dar sorte. Para comemorar nosso dia."

Ela rapidamente escorregou a mão para o colo, fora da minha vista.

Mas eu vi. E a mentira era tão óbvia, tão malfeita, que foi como se uma luz ofuscante se acendesse na minha cabeça.

Aquele não era o anel da avó dela. Era uma aliança. E a maneira como ela a usava, com uma familiaridade inconsciente, me dizia tudo o que eu precisava saber.

O quebra-cabeça não estava apenas se montando. Ele estava formando uma imagem muito mais sombria do que eu jamais poderia ter imaginado.

                         

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