Aliança de Sangue, Coração Partido
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Capítulo 2

No momento em que a discussão esquentava, um homem alto e charmoso se aproximou de nós. Ele tinha um sorriso fácil e um olhar que parecia avaliar a situação em segundos.

"Ana? Tudo bem por aqui?", ele perguntou, colocando uma mão protetora no ombro dela. Ele olhou para mim com uma sobrancelha arqueada. "Algum problema?"

Ana imediatamente se agarrou a ele, como se ele fosse sua tábua de salvação.

"Lucas! Graças a Deus. Ricardo está... ele não está entendendo a situação."

Lucas. O nome me era familiar. O ex-namorado. Aquele que ela me garantiu que era apenas um amigo distante, uma página virada em sua vida. Vê-lo ali, agindo como seu protetor, fez meu sangue ferver.

"Acho que quem não está entendendo sou eu", eu disse, olhando diretamente para Lucas. "O que você está fazendo aqui?"

"Eu sou amigo da família do Sr. Almeida", ele respondeu, com uma calma irritante. "Estou aqui para garantir que ele e Ana tenham uma noite agradável. E você, cara, parece que está atrapalhando."

A intervenção dele mudou completamente a dinâmica. Para qualquer um que olhasse de fora, eu era o namorado ciumento e agressivo, e ele, o cavalheiro defensor. A armadilha era perfeita.

Ana aproveitou a deixa. Seus olhos se encheram de lágrimas, e sua voz saiu embargada.

"Lucas, por favor... ele está me acusando... ele acha que eu estou mentindo." Ela soluçou, enterrando o rosto no peito dele.

A cena era patética e brilhantemente executada. As pessoas ao redor começaram a cochichar, seus olhares se voltando para mim com desaprovação. Eu podia sentir o julgamento em seus olhos. O arquiteto promissor que não sabia tratar sua noiva. A raiva me deixou sem palavras. Eu estava sendo pintado como o monstro em uma peça que eu nem sabia que estava em cartaz.

Lucas me lançou um olhar de superioridade.

"Acho melhor você ir embora", ele disse, em um tom baixo e ameaçador. "Você está causando uma cena. Não manche a reputação da sua empresa."

Dois seguranças do evento, discretos mas imponentes, apareceram ao lado dele, como se tivessem sido chamados por um sinal invisível. A humilhação foi completa. Eu era um intruso na minha própria festa, expulso pelo ex-namorado da minha noiva.

Sem escolha, dei um passo para trás, lancei um último olhar para Ana, que se recusava a me encarar, e saí do salão. O ar frio da noite bateu no meu rosto, mas não conseguiu apagar o fogo da vergonha e da raiva que queimava dentro de mim.

No dia seguinte, as consequências chegaram. Meu chefe me chamou em sua sala. A porta fechada já era um mau sinal.

"Ricardo, sente-se", ele disse, seu tom era grave. "Recebi uma ligação da família Almeida esta manhã. Eles estão... insatisfeitos."

Meu coração afundou.

"O que aconteceu na festa de ontem à noite? A neta do Sr. Almeida, Ana, estava muito abalada. Disseram que você a assediou publicamente."

"Isso não é verdade! Ela é minha noiva! Ela mentiu pra mim, disse que..."

"Ricardo", ele me interrompeu. "Eu não quero saber dos seus problemas pessoais. O que eu sei é que os Almeida são investidores cruciais para o projeto do novo centro comercial. Um projeto que, aliás, está sob sua liderança. Eles estão ameaçando retirar o financiamento se não tomarmos uma atitude."

A ameaça pairava no ar. Minha carreira, tudo pelo que eu trabalhei tanto, estava em risco por causa de uma mentira que eu ainda não entendia completamente.

"Eu vou consertar isso", eu disse, desesperado.

"É bom mesmo", ele respondeu. "Você tem uma semana para acalmar as coisas com eles. Caso contrário, terei que te remover do projeto."

Saí da sala dele me sentindo oco. O trabalho da minha vida estava escorrendo pelos meus dedos.

Naquela noite, a campainha do meu apartamento tocou. Era Ana. Ela estava com o rosto inchado de chorar, vestindo roupas simples, a imagem da garota doce e arrependida que eu conhecia.

"Ricardo...", ela começou, a voz fraca. "Podemos conversar?"

Eu a deixei entrar. Parte de mim queria bater a porta na cara dela, mas outra parte, a parte tola que ainda a amava, precisava de respostas.

Ela se sentou no sofá e desabou em lágrimas.

"Eu sinto muito. Eu sinto muito por tudo", ela soluçou. "Eu deveria ter te contado desde o início, mas eu tive tanto medo."

E então, ela começou a tecer sua história. Uma história triste e comovente sobre um velho solitário, abandonado pela família gananciosa, que a via como a neta que nunca teve. Ela disse que só queria lhe dar um pouco de alegria em seus últimos dias, e que o disfarce de "neta" era apenas para protegê-lo dos parentes que só queriam seu dinheiro.

"E o Lucas?", perguntei, a voz fria.

"Ele é amigo do Sr. Almeida há anos. Ele me ajuda a protegê-lo. É só isso, eu juro. Ele sabe o quanto eu te amo."

Ela se aproximou, pegou minhas mãos. Seus olhos estavam cheios de uma sinceridade que parecia real.

"Eu sei que errei em esconder isso de você, meu amor. Mas eu fiz por uma boa causa. Você acredita em mim, não acredita? Eu fiz por bondade. Você, mais do que ninguém, sabe como eu sou."

Ela estava mirando diretamente na minha maior fraqueza: meu idealismo, minha crença de que as pessoas são fundamentalmente boas. Ela sabia exatamente quais botões apertar. E, contra todo o meu instinto, eu comecei a ceder.

            
            

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