Renascida para Amar e Destruir
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Capítulo 2

O funeral foi apressado, exatamente como eu esperava.

João Pedro, no papel de Pedro João, alegou que o estado do corpo não permitia um velório prolongado.

O caixão permaneceu lacrado.

Ninguém pôde ver o suposto corpo carbonizado de João Pedro.

Era a desculpa perfeita.

Eu me vesti de preto, com um véu cobrindo meu rosto.

Fiquei ao lado do caixão, chorando silenciosamente, desempenhando o papel da noiva de luto com perfeição.

De vez em quando, eu olhava de soslaio para o casal de conspiradores.

João Pedro, com uma expressão solene forçada, recebia os pêsames.

Ana Lúcia, também de preto, estava ao seu lado, parecendo uma viúva em vez de uma cunhada. Seus olhos brilhavam de triunfo.

Eles trocavam olhares cúmplices por cima das cabeças das pessoas, sorrisos discretos que ninguém mais parecia notar.

Mas eu notei.

Eu via tudo.

No meio da cerimônia, senti uma tontura. Era parte do meu plano.

Levei a mão à testa e cambaleei.

"Luz, você está bem?", perguntou João Pedro, correndo para me amparar.

"Eu... eu não me sinto bem", murmurei, e deixei meu corpo amolecer, desmaiando em seus braços.

Causei o caos que eu queria.

As pessoas se aglomeraram, preocupadas.

Enquanto era carregada para fora, para tomar um ar, pude ver os rostos de João Pedro e Ana Lúcia.

Eles não pareciam preocupados.

Pareciam irritados.

Eu havia roubado o foco deles com meu drama.

Mais tarde, em casa, a farsa continuou.

A casa pertencia a João Pedro, mas agora, com sua "morte", tecnicamente passaria para mim e para nossa filha, Sofia.

Eu sabia que eles não permitiriam isso.

Dona Rosa, a mãe deles, entrou no meu quarto sem bater. Ana Lúcia a seguia como uma sombra.

"Maria da Luz", disse Dona Rosa com sua voz áspera, "agora que meu pobre filho se foi, precisamos organizar as coisas."

Eu me sentei na cama, parecendo frágil. "Organizar o quê, Dona Rosa?"

"Bem, você não tem condições de administrar esta casa e as finanças. Você é apenas uma confeiteira", disse Ana Lúcia com um sorriso de escárnio. "Pedro João e eu decidimos que será melhor se eu assumir a administração da casa."

"E você", continuou Dona Rosa, "pode pegar suas coisas e as da menina e voltar para a casa dos seus pais. Nós cuidaremos de tudo."

Elas queriam me expulsar. Queriam tomar a casa e tudo o que era meu por direito.

Na minha vida passada, eu lutei, gritei, e isso só deu a elas mais munição para me declarar louca.

Desta vez, eu sorri por dentro.

"Oh", eu disse, com a voz cheia de tristeza. "Eu entendo. Vocês estão certos. Eu não tenho cabeça para nada disso agora."

Elas se entreolharam, surpresas com minha aceitação fácil.

"Mas", continuei, enxugando uma lágrima falsa, "há um pequeno problema."

"Que problema?", perguntou Ana Lúcia, impaciente.

"João Pedro... ele tinha muitas dívidas. Ele investiu todo o dinheiro dele e o meu, meu dote, em um negócio que faliu. A casa está hipotecada. Na verdade, acho que o banco virá buscá-la em breve."

O silêncio no quarto foi total.

Os rostos de Ana Lúcia e Dona Rosa se transformaram. A ganância deu lugar ao choque e à raiva.

"Dívidas? Que dívidas?", gaguejou Dona Rosa.

"Ele não me contou os detalhes", eu disse, soluçando. "Ele só disse que estava tentando fazer fortuna para nos dar um futuro melhor, mas tudo deu errado. Ele estava tão desesperado... talvez seja por isso que o acidente aconteceu."

Eu estava mentindo, é claro. João Pedro era mesquinho, mas não era tolo com dinheiro. Mas eles não sabiam disso. E a ganância deles os tornava cegos.

"Isso é impossível!", gritou Ana Lúcia. "Ele era irmão de Pedro João! Ele tinha acesso a dinheiro!"

"Acho que ele tinha vergonha de pedir ajuda ao irmão", eu disse, olhando para o chão. "E agora... com a morte de Pedro João, quero dizer, de João Pedro... as dívidas caem sobre mim. E sobre a casa."

Eu as olhei com os olhos mais inocentes que consegui fingir.

"Já que você, Ana Lúcia, se ofereceu para administrar tudo... imagino que você e Pedro João possam assumir a hipoteca, certo? Eu não teria como pagar. Sou apenas uma confeiteira."

O rosto de Ana Lúcia ficou vermelho de fúria.

Ela veio para tomar uma fortuna, não para herdar uma dívida.

Dona Rosa parecia que ia ter um colapso.

"Isso... isso é um absurdo!", ela chiou.

"É a verdade", eu disse, com firmeza. "Os papéis estão na gaveta dele. Podem verificar."

Eu sabia que não havia papéis. Mas a semente da dúvida estava plantada.

A ganância deles se transformou em medo.

Antes que pudessem responder, eu me levantei.

"Se me dão licença, preciso ver minha filha. Ela deve estar tão assustada."

Deixei as duas no quarto, rostos contorcidos de raiva e confusão.

O primeiro contra-ataque foi um sucesso.

Eu não joguei pelas regras delas. Eu criei um novo jogo, um em que a ganância delas era minha maior arma.

Fui para o quarto de Sofia.

Minha pequena estava sentada na cama, abraçando seu urso de pelúcia.

Seus olhos estavam tristes.

"Mamãe, cadê o papai?", ela perguntou com sua voz fininha.

Meu coração se apertou. Esta era a parte mais difícil.

Eu me sentei ao lado dela e a abracei.

"Papai foi para o céu, meu amor. Ele virou uma estrelinha para cuidar de nós lá de cima."

Ela olhou para mim, confusa.

"Não, mamãe. O papai está aqui."

"Não, querida. Aquele é o tio Pedro João."

Sofia balançou a cabeça com a teimosia de uma criança de quatro anos.

"Não. O tio Pedro João tem uma pinta na orelha. Aquele homem não tem. Aquele é o papai fingindo ser o tio."

As palavras dela, tão puras e verdadeiras, foram a confirmação final de que eu não estava louca.

Uma criança podia ver a verdade que todos os adultos se recusavam a enxergar.

Abracei minha filha com força, sentindo uma nova onda de determinação.

Eu a protegeria.

Eu faria com que aqueles monstros pagassem.

Não importava o custo.

Eles queriam jogar sujo? Eles não faziam ideia do quão sujo eu poderia jogar para proteger minha filha.

Mais tarde, na sala de estar, João Pedro me confrontou.

"Luz, que história é essa de dívidas? Ana Lúcia me disse que você falou sobre uma hipoteca!"

Eu o encarei, os olhos cheios de uma falsa dor.

"É a verdade, Pedro João. Eu sinto muito. Ele perdeu tudo."

"Mas e o seu dote? O dinheiro que seu pai lhe deu?", ele perguntou, a ganância brilhando em seus olhos.

"Foi tudo junto. Ele investiu tudo."

Ele cerrou os punhos, furioso. O plano dele de ficar com meu dinheiro estava indo por água abaixo.

"Então, o que vamos fazer?", ele perguntou, com a voz tensa.

Eu dei de ombros, impotente.

"Eu não sei. Acho que terei que voltar para a casa dos meus pais. E você, como irmão dele, talvez tenha que assumir a responsabilidade por essas dívidas para limpar o nome da família."

O rosto dele ficou pálido.

"Eu? Mas... eu sou Pedro João! Eu não tenho nada a ver com as dívidas de João Pedro!"

"Eu sei", eu disse suavemente. "Mas para o mundo, você é o único parente rico que ele tinha. As pessoas vão esperar que você honre a memória do seu irmão."

Eu o encurralei.

Se ele se recusasse a pagar, pareceria um irmão cruel e insensível, manchando a imagem de "empresário de sucesso" que ele tanto queria.

Se ele concordasse em pagar, estaria assumindo uma dívida que não existia, gastando seu próprio dinheiro.

Ele estava em uma armadilha, e ele sabia disso.

O olhar que ele me deu foi cheio de ódio.

Ele estava começando a perceber que eu não era a mulher frágil e estúpida que ele pensava.

Bom.

Que ele percebesse.

Que ele sentisse medo.

Porque isso era apenas o começo.

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