A Vingança da Filha Desprezada
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Capítulo 1

A primeira coisa que Maria sentiu foi o cheiro de desinfetante, um cheiro que conhecia bem. Abriu os olhos e viu o teto branco do quarto do hospital. A última lembrança era de uma escuridão fria, a sensação de seu corpo desistindo enquanto a febre a consumia. Seu pai, Dr. Carlos, estava ao lado de Joana, segurando a mão dela, ignorando os pedidos de socorro de Maria.

Ela morreu. Tinha certeza disso.

Mas agora, estava viva. Olhou para as próprias mãos, jovens e sem as marcas da doença. Sentou-se na cama, o corpo forte e saudável. Viu o calendário na parede. A data a fez parar. Era um ano antes de sua morte. Um ano antes de tudo desmoronar completamente.

Ela tinha voltado.

A porta se abriu e uma enfermeira entrou.

"Ah, Maria, você acordou. Seu pai estava aqui mais cedo. Ele disse que precisava resolver os papéis da adoção da Joana."

Adoção. A palavra que deu início ao fim.

O pai de Maria, Dr. Carlos, era um cirurgião cardíaco de renome. Ele tinha acabado de voltar de uma missão humanitária na Amazônia. Lá, segundo ele, sua vida foi salva por um médico local. Esse médico morreu no processo, deixando uma filha órfã, Joana. Para honrar a memória do homem, Dr. Carlos decidiu adotá-la.

Maria, na época, aceitou de coração aberto. Ela era uma jovem estudante de medicina, ingênua e dedicada à família. Queria uma irmã. Mas Joana não queria ser uma irmã, ela queria ser a única filha.

Aos poucos, Joana começou a tomar o seu lugar. Começou com coisas pequenas. Suas roupas favoritas apareciam no corpo de Joana. Seus livros de medicina sumiam de sua prateleira e reapareciam na mesa de Joana, que de repente demonstrava um interesse profundo pela área.

Dr. Carlos, cego pela gratidão e pela história heroica que Joana contava sobre o pai, incentivava isso.

"Veja, Maria, Joana tem tanto potencial quanto você. Que bom que ela se inspira em você."

A inspiração virou substituição.

Em jantares e eventos sociais, Dr. Carlos apresentava Joana com um orgulho que antes era reservado para Maria.

"Esta é Joana, minha filha. O pai dela foi um herói."

Maria se tornou uma sombra na própria casa. O contraste era doloroso. Quando Maria ganhava um prêmio na faculdade, seu pai dava um aceno de cabeça. Quando Joana conseguia uma nota ligeiramente acima da média em um curso qualquer, ele organizava um jantar para comemorar.

O golpe mais duro foi o noivado. Maria estava noiva de Pedro, herdeiro de uma grande rede de hospitais. O casamento era a união de duas famílias poderosas no mundo médico. Mas Joana, com sua aparência vulnerável e suas histórias tristes, conquistou Pedro facilmente.

Maria lembrava da noite em que Pedro terminou com ela. Ele não conseguia olhá-la nos olhos.

"Maria, eu sinto muito. Mas Joana... ela precisa de mim. Ela é tão frágil. E seu pai apoia nossa união, ele acha que é o melhor para a família."

Uma semana depois, o noivado de Pedro e Joana foi anunciado. A sociedade médica comentou, mas ninguém a defendeu. Joana era a filha do herói, a protegida do Dr. Carlos. Maria era apenas a filha que não soube manter seu noivo.

Depois, veio a bolsa de estudos. A mais prestigiada do país, oferecida pelo governo para um jovem médico promissor estudar no exterior. Maria havia se dedicado por anos. Era o seu sonho. A bolsa era dela por direito, seu nome estava no topo de todas as listas.

No dia do anúncio oficial, o nome chamado não foi o dela.

"A vencedora da bolsa de estudos em medicina é... Joana!"

O choque foi total. Maria olhou para o pai na plateia. Ele aplaudia de pé, com lágrimas nos olhos, ao lado de Joana, que sorria docemente. Mais tarde, Maria descobriu a verdade. Seu pai usou toda a sua influência, toda a sua reputação, para transferir a bolsa para Joana. A justificativa dele foi brutal.

"Joana merece mais, Maria. É uma forma de compensar tudo o que ela perdeu. O pai dela salvou minha vida. Isso é o mínimo que posso fazer. Você já tem tudo."

Maria não tinha mais nada.

Ela foi expulsa de casa, de sua vida, de seu futuro. Sem o apoio do pai, sem o noivado, sem a bolsa, ela ficou completamente à deriva. A humilhação e o abandono a consumiram. Ela adoeceu com uma infecção que seria facilmente tratável, mas foi negligenciada. Seu pai, o grande cirurgião, estava ocupado demais celebrando os sucessos de Joana para notar que sua filha de sangue estava morrendo.

Sua morte foi patética. Sozinha, em um quarto de hospital barato, esquecida por todos.

Agora, de volta ao ponto de partida, o fogo da vingança queimava dentro dela. A ingenuidade havia morrido com seu corpo anterior. A dor havia se transformado em aço.

Ela não permitiria que a mesma história se repetisse. Ela não seria mais a vítima.

"Eu vou pegar de volta tudo o que é meu" , ela sussurrou para o quarto vazio. "Cada lágrima, cada humilhação, cada pedaço da minha vida que vocês roubaram. Joana, pai... vocês vão pagar."

A porta se abriu novamente. Era seu pai, Dr. Carlos, com um sorriso cansado no rosto.

"Maria, que bom que está bem. Eu estava preocupado. Tenho uma notícia maravilhosa. Joana está vindo para casa. Finalmente, você terá uma irmã."

Maria olhou para o homem que um dia amou mais do que tudo. Seus olhos estavam frios como gelo.

Ela forçou um sorriso, um sorriso que não alcançou seus olhos.

"Que notícia maravilhosa, pai. Mal posso esperar para conhecê-la."

A caçada havia começado.

            
            

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