"Dizem que o Dr. Carlos prefere mil vezes a adotada."
"Ela parece tão apagada perto da irmã. Não é de se espantar."
Maria ignorava a todos. Seus olhos estavam fixos em um único ponto: o broche de esmeraldas no vestido de Joana. Aquele broche era uma herança de sua mãe, a peça mais valiosa que ela tinha deixado para a filha. Dr. Carlos o entregara a Joana naquela manhã.
"É um símbolo da nossa família, e agora você faz parte dela" , ele disse, com a voz embargada de emoção.
Joana se aproximou de Maria, seu rosto uma máscara de preocupação fingida.
"Irmã, você não parece bem. Está chateada com alguma coisa? Se for por minha causa, eu posso ir embora. Eu não quero causar problemas."
A voz dela era suave e melosa, projetada para que todos ao redor ouvissem e a vissem como a vítima compreensiva.
Pedro, seu ex-noivo, estava ao lado de Joana, com um braço protetor em volta dela. Ele olhou para Maria com desaprovação.
"Maria, pare de fazer essa cara. Joana está tentando ser legal com você."
Nesse momento, um dos admiradores de Joana, um jovem médico residente que vivia tentando agradar Dr. Carlos, passou por Maria e a empurrou de propósito.
"Saia da frente" , ele murmurou com desdém.
Maria cambaleou, mas não caiu. Aquele empurrão foi a gota d' água. A paciência dela havia se esgotado. Todo o desprezo, toda a humilhação de sua vida passada e presente explodiram em um único ato de desafio.
Ela caminhou calmamente até Joana. A música parou. Todos os olhos se voltaram para elas.
Sem dizer uma palavra, Maria estendeu a mão e, com um movimento rápido e preciso, arrancou o broche de esmeraldas do vestido de Joana.
O som do tecido rasgando foi baixo, mas ecoou pelo salão silencioso.
Joana soltou um grito agudo, mais de surpresa do que de dor.
"O que você está fazendo?"
Maria segurou o broche com força na mão. Seus olhos brilhavam com uma fúria fria.
"Isso" , ela disse, com a voz clara e firme, "é meu."
O salão explodiu em murmúrios.
Joana, recuperando-se do choque, tentou sua tática usual. Seus olhos se encheram de lágrimas.
"Irmã, por que você está fazendo isso? Se você queria o broche de volta, era só ter pedido. Eu te daria com o maior prazer. Não precisava me humilhar assim na frente de todos."
Ela estendeu a mão, como se fosse consolar Maria, tentando parecer a irmã mais velha e magnânima.
"Tudo bem, eu te perdoo. Agora devolva, por favor. Não vamos estragar a festa."
Ela tentou tocar no ombro de Maria, uma demonstração de controle e superioridade.
Maria deu um passo para trás, evitando o toque. O desprezo em seu rosto era evidente.
"Não encoste em mim" , ela disse, a voz cortante. "E pare de me chamar de irmã."
O sorriso de Joana vacilou por um segundo.
Maria ergueu o queixo, olhando diretamente nos olhos dela.
"Você pode enganar meu pai. Pode enganar todos eles. Mas você não me engana. Eu sei exatamente o que você é. Uma órfã qualquer que meu pai tirou da selva. Você não tem o direito de usar isso. Você não é ninguém."
O silêncio no salão era total. As palavras de Maria, cruas e diretas, pairavam no ar, destruindo a imagem cuidadosamente construída de Joana como uma donzela frágil e nobre. A primeira batalha estava declarada, e Maria havia disparado o primeiro tiro.