A Vingança da Ana Beatriz
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Capítulo 1

A voz irritada de João Pedro soava exatamente como na minha memória, cada palavra um eco doloroso do passado.

"Ana Beatriz, eu já disse que não vamos a lugar nenhum sem a Mariana! Que parte você não entendeu?"

Abri os olhos, a luz forte do saguão do aeroporto me cegou por um instante, o cheiro de desinfetante e o zumbido de conversas ansiosas preenchiam o ar.

Meu coração martelava no peito, não de medo, mas de choque absoluto, a confusão era tanta que meu corpo todo tremia.

Eu não estava morta, eu não estava no necrotério frio, eu estava de volta.

De volta ao dia em que tudo desmoronou.

Olhei para minhas mãos, elas não tinham as cicatrizes da minha vida miserável depois disso, estavam lisas, bem cuidadas, as mãos de uma chef de cozinha no auge de sua carreira.

A realidade me atingiu com a força de um soco. Eu tinha renascido.

João Pedro estava na minha frente, o rosto bonito contorcido em uma máscara de impaciência, ele usava o mesmo terno caro que eu lembrava, o cabelo perfeitamente penteado.

Ele era meu marido, um proeminente empresário da construção civil, e o homem que me destruiu.

"Mariana está a caminho, ela só se atrasou um pouco por causa do trânsito caótico", ele insistiu, sua voz carregada de uma falsa preocupação que agora soava ridícula para mim. "Nós somos um time, um grupo, não podemos simplesmente abandonar um dos nossos."

Ele estava me chantageando moralmente, usando a pressão do grupo de expatriados que esperavam conosco pelo voo de resgate privado.

Na minha vida passada, eu caí nessa armadilha, eu acreditei na sua lealdade fingida.

Agora, eu via através dele, via a mentira em seus olhos, a maneira como ele olhava para o portão de desembarque, esperando por ela, sua ex-noiva e amante, Mariana.

"Nós não podemos esperar, João Pedro", minha voz saiu firme, surpreendendo a mim mesma.

Ele me olhou, chocado com meu tom. Esperava que eu cedesse, como sempre fazia.

"O que você disse?"

"Eu disse que não podemos esperar", repeti, olhando diretamente nos olhos dele. "O piloto do voo de resgate foi claro, a janela para decolagem é curta, a cidade está em colapso por causa da crise de saúde, as fronteiras estão fechando a qualquer minuto."

Apontei para as outras famílias ao nosso redor, para as crianças chorando e os rostos cansados e assustados.

"A vida de todas essas pessoas está em risco, a sua vida, a minha vida, não podemos arriscar tudo isso por uma pessoa que não teve a decência de chegar na hora."

Meu peito doía, não com o amor tolo que eu sentia antes, mas com a memória da dor aguda da traição, a lembrança do abandono.

Na vida passada, eu o amava tanto que sua felicidade era mais importante que a minha, eu o defendi, discuti com a equipe de resgate para que esperassem por Mariana.

E meu sacrifício foi recompensado com a morte e a desgraça da minha família.

Desta vez, não.

Desta vez, eu escolheria a mim mesma.

"Ana Beatriz, você está sendo egoísta", ele acusou, baixando a voz para que só eu pudesse ouvir, seu tom se tornando ameaçador. "O que deu em você hoje? Mariana é minha amiga, ela precisa de nós."

Amiga.

A palavra me fez querer rir.

Eu sabia a verdade, eu sabia que eles estavam tendo um caso há meses, que esta viagem de negócios era apenas um pretexto para eles ficarem juntos, e que a crise global os pegou de surpresa.

Uma dor profunda e antiga se alojou no meu coração, a dor de uma mulher que deu tudo de si para um casamento e recebeu apenas mentiras em troca.

Mas por baixo da dor, uma nova sensação crescia, uma raiva fria e determinada.

Ele me veria sendo egoísta.

Ele veria exatamente do que eu era capaz para sobreviver.

            
            

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