A verdade era que Mariana não estava presa no trânsito, ela estava fazendo compras de última hora, comprando bolsas e joias de grife, aproveitando o caos da cidade para conseguir descontos.
Ela era uma arquiteta ambiciosa, sim, mas sua maior ambição era garantir o status e a riqueza de João Pedro, e ela não tinha escrúpulos em usar sua beleza e manipulação para conseguir o que queria.
Ela chegou uma hora depois, sorrindo, com as sacolas de compras nas mãos, sem um pingo de remorso.
"Desculpem o atraso!", ela disse, com uma voz doce e afetada. "O trânsito estava um inferno!"
O piloto estava furioso, a equipe de resgate nos pressionava para embarcar imediatamente.
O tempo estava se esgotando.
Por causa do atraso dela, perdemos nossa janela de decolagem original, o avião ficou preso na pista por mais duas horas, esperando uma nova autorização.
A tensão dentro da pequena aeronave era insuportável, as pessoas estavam com medo, irritadas, e a culpa recaiu sobre nós.
"É por causa de vocês que estamos presos aqui!", um homem gritou, apontando para Mariana.
João Pedro, sempre o manipulador, se levantou para defendê-la.
"A culpa não é dela!", ele disse, com a voz firme. "A culpa é da minha esposa, Ana Beatriz, ela que insistiu para esperarmos, ela que atrasou todo mundo com suas preocupações tolas."
Eu fiquei paralisada, o mundo pareceu parar de girar.
Ele estava mentindo, ele estava me usando como bode expiatório para proteger sua amante.
As pessoas se viraram contra mim, seus olhares cheios de raiva e desprezo, eles me xingaram, me culparam pelo perigo que todos corriam.
Eu olhei para João Pedro, procurando por qualquer sinal de arrependimento, mas ele me olhou com frieza, seus olhos diziam que eu merecia aquilo.
Para acalmar a situação, para que o avião finalmente pudesse decolar, eu assumi a culpa.
"Me desculpem", eu murmurei, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos. "Foi minha culpa, eu sinto muito."
Eu me encolhi no meu assento, humilhada, enquanto João Pedro sentava ao lado de Mariana, segurando a mão dela e a confortando.
Finalmente, o avião decolou.
Quando chegamos ao Brasil, a história que João Pedro espalhou já havia se tornado verdade.
Ele me retratou como uma mulher egoísta e irracional que colocou dezenas de vidas em risco por um capricho.
Ele usou isso como desculpa para pedir o divórcio.
"Eu não posso mais viver com uma pessoa como você, Ana", ele disse, seus olhos frios como gelo.
Ele me tirou tudo, nossa casa, meu restaurante que foi construído com o dinheiro dele, minha reputação.
A notícia do meu "comportamento irresponsável" e do divórcio humilhante chegou aos ouvidos do meu pai, que já tinha um coração fraco.
Ele sofreu um infarto fulminante e morreu.
Na leitura do testamento, descobri a última e mais cruel traição, João Pedro, usando uma procuração que eu assinei ingenuamente anos antes, havia transferido todas as minhas ações da empresa da minha família para o nome dele.
Ele e Mariana ficaram com tudo.
Meu pai estava morto, minha mãe adoeceu de tristeza, e eu perdi tudo para o homem que jurei amar e para a mulher que ele escolheu.
Eu não aguentei.
A dor, a humilhação, a perda, tudo foi demais.
Eu acabei com a minha própria vida.
E agora, eu estava de volta.
De volta ao ponto de partida, com a chance de reescrever meu final trágico.
Uma chama de ódio puro e gelado se acendeu no meu peito.
Eu olhei para João Pedro, que ainda tentava me convencer a esperar por sua amante.
Desta vez, não haveria sacrifício.
Não haveria perdão.
Haveria apenas vingança.
"Eu juro, pai", sussurrei para mim mesma, sentindo uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto. "Eu juro que vou fazê-los pagar por tudo."