Beijo de Cobra: Fim de Um Amor
img img Beijo de Cobra: Fim de Um Amor img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

A noite foi longa e vazia. João Carlos não dormiu. Ficou sentado na sala escura, o silêncio da casa amplificando o caos em sua mente. Pela manhã, o telefone tocou. Era Ana Lúcia. A voz dela era melosa, falsamente preocupada.

"Joãozinho, você está bem? Fiquei preocupada com você ontem. Você estava tão alterado."

A hipocrisia era tão espessa que ele podia senti-la através da linha.

"Não me ligue, Ana Lúcia. Acabou."

"Não diga isso. Nós só precisamos de um tempo. Eu estou na casa da minha mãe, se precisar de mim."

Mentira. Ele sabia que ela estava com Rodrigo. Ele desligou o telefone, o nojo revirando seu estômago. Ele se arrastou para o trabalho, o corpo pesado de exaustão e tristeza. O sol da manhã parecia ofensivo, a alegria das crianças que visitavam o parque, uma afronta. Ele se sentia um fantasma, vagando por um mundo que não era mais seu.

Mal tinha começado a podar umas roseiras quando seu celular tocou novamente. Era um número desconhecido. Ele atendeu, a voz cansada.

"Alô?"

"Senhor João Carlos? Eu sou do Hospital das Clínicas. Sua esposa, Ana Lúcia, sofreu um acidente de carro. Ela está sendo atendida na emergência."

O chão pareceu sumir sob seus pés. Acidente? Apesar de tudo, uma onda de pânico o atingiu. E se fosse grave? Ele largou as ferramentas e correu para o estacionamento, o coração martelando no peito.

Ele dirigiu como um louco, a mente uma confusão de imagens: Ana Lúcia sorrindo, Ana Lúcia nos braços de outro homem, Ana Lúcia em uma maca de hospital. Ao chegar à emergência lotada, o cheiro de antisséptico e sofrimento o invadiu. Ele perguntou por ela na recepção e, enquanto esperava, viu uma figura familiar sentada numa cadeira, a cabeça entre as mãos.

Era Rodrigo. Ele tinha alguns arranhões no rosto e um curativo na testa, mas parecia bem. Ele levantou a cabeça e viu João Carlos. O rosto dele era uma mistura de culpa e medo.

"Ela... ela vai ficar bem?" João Carlos perguntou, a voz saindo mais fraca do que ele pretendia.

"O médico disse que sim. Foi só um susto. Um carro bateu na nossa traseira," Rodrigo murmurou, sem conseguir encará-lo.

Um médico se aproximou, prancheta na mão.

"O senhor é o marido de Ana Lúcia?"

"Sou," João Carlos respondeu, por força do hábito.

"Sua esposa está estável. Teve algumas contusões, mas nada grave. Nós a manteremos em observação por algumas horas. A boa notícia," o médico sorriu, "é que o bebê está perfeitamente bem. Ela não sabia que estava grávida?"

João Carlos congelou. As palavras do médico ecoaram em sua cabeça, sem fazer sentido. Bebê. Grávida.

"Bebê?" ele repetiu, a voz um sussurro.

"Sim. De aproximadamente oito semanas. Parabéns, papai."

O médico sorriu novamente e se afastou, deixando João Carlos paralisado no meio do corredor. Oito semanas. Ele fez as contas na cabeça, rapidamente, desesperadamente. Era impossível. Absolutamente impossível. A verdade o atingiu com a força de um soco no estômago, tirando-lhe o ar. A humilhação, a traição... tudo ganhou uma nova e sórdida dimensão.

Antes que ele pudesse processar o choque, a mãe de Ana Lúcia, Dona Helena, chegou como um furacão, o rosto vermelho de raiva. Ela passou por Rodrigo sem nem olhá-lo e parou na frente de João Carlos.

"Você!" ela gritou, apontando um dedo acusador para o rosto dele. "A culpa é sua! Você deixou minha filha nesse estado!"

A mão dela voou e o estapeou no rosto. O som ecoou pelo corredor.

As pessoas ao redor pararam para olhar. Enfermeiras, pacientes, outros visitantes. O drama dele, mais uma vez, se tornava um espetáculo público.

"O que você fez com a minha filha? Ela me ligou chorando, disse que você a expulsou de casa! E agora isso! Você queria matá-la?"

A acusação era tão delirante que João Carlos não sabia como reagir. Ele sentia o ardor do tapa no rosto, mas a dor maior era a da injustiça, da humilhação pública.

"Dona Helena, a senhora não sabe o que está dizendo," ele tentou falar, a voz calma, apesar da tempestade dentro dele.

"Eu sei muito bem o que estou dizendo! Você é um monstro! Um aproveitador! Casou com a minha filha só para ter uma empregada!"

As palavras dela eram veneno, destinadas a ferir, a humilhar. Ela gritava para que todos ouvissem, pintando-o como o vilão da história.

"A minha filha, grávida, e você a joga na rua! Que tipo de homem é você?"

Grávida. Aquela palavra de novo. Ele olhou para Rodrigo, que continuava encolhido na cadeira, evitando o olhar de todos. Ele olhou para o rosto furioso da sogra. A peça final do quebra-cabeça se encaixou.

"Isso tem que parar," João Carlos disse, mais para si mesmo do que para ela. Ele sentia os olhares de pena e de desprezo das pessoas ao redor. Ele não podia mais suportar aquilo.

Ele se virou e caminhou em direção ao posto de segurança do hospital. Ele não ia mais ser a vítima passiva daquela farsa.

"Eu preciso de ajuda," ele disse ao segurança. "Estou sendo agredido e acusado falsamente. Eu quero chamar a polícia."

A decisão estava tomada. A guerra tinha apenas começado, e ele não ia mais lutar com as mãos atadas.

---

            
            

COPYRIGHT(©) 2022