"Não arrume nada, Maria. O senhor Pedro não vai entrar nesta casa."
"Mas, senhor, ela foi muito insistente..."
"Eu sou mais", ele a cortou, a voz dura. "Esta casa é minha. Ninguém entra sem a minha permissão."
Ele desligou e imediatamente tentou ligar para Sofia. O telefone chamou uma vez e caiu na caixa postal. Ela o havia bloqueado.
Ele sentou-se no sofá escuro da sala de estar, a cabeça entre as mãos. O que mais ela poderia fazer? Quão baixo ela poderia ir?
A resposta veio alguns minutos depois, através de uma notificação em seu celular. Um de seus amigos havia lhe enviado uma captura de tela.
Era do Instagram de Sofia.
Uma foto dela e de Pedro, brindando com taças de champanhe. Eles sorriam para a câmera, os rostos colados. A legenda dizia: "Celebrando o amor verdadeiro com minha alma gêmea. Rumo à nossa nova vida na Europa! #amor #felicidade #europa".
A foto fora postada há menos de uma hora. Enquanto ele estava no hospital, implorando para que ela salvasse a vida de seus pais, ela estava postando fotos com o amante, anunciando a fuga deles para o mundo. Os comentários estavam cheios de felicitações e corações. Ninguém sabia a verdade sombria por trás daquela imagem feliz.
Marcos olhou para a foto por um longo tempo. O sorriso de Sofia. O braço de Pedro em volta dela. O Porsche Cayenne que ele lhe dera estava, sem dúvida, estacionado do lado de fora daquele restaurante caro. O mesmo carro cujas marcas de pneu estavam impressas na cena do crime, junto com o sangue de seus pais.
Qualquer resquício de sentimento que ele ainda pudesse ter por ela se desintegrou naquele momento. O amor, a esperança, a memória do que eles foram. Tudo virou pó. Ela não era só egoísta e manipuladora. Ela era um monstro.
Ele se levantou. A apatia se foi, substituída por uma fúria fria. Ele pegou o celular e fez outra ligação, desta vez para seu advogado e consultor financeiro.
"Ricardo, é o Marcos. Preciso que você inicie o processo de divórcio imediatamente. E quero um levantamento de todos os meus bens. Quero proteger tudo. Ela não vai levar um centavo."
"Marcos, o que aconteceu?", perguntou Ricardo, surpreso com a urgência em sua voz.
"Meus pais morreram, Ricardo. E Sofia é a razão."
Ele explicou a situação rapidamente, sem emoção. O acidente, a recusa em ajudar, o dinheiro roubado, a postagem no Instagram.
Houve um silêncio chocado do outro lado da linha.
"Meu Deus, Marcos. Eu sinto muito. Farei tudo o que for preciso. Vou congelar os ativos e preparar a papelada. Ela não vai conseguir tocar em nada."
"Obrigado, Ricardo."
Depois de desligar, ele sentiu um estranho vazio. Não havia mais lágrimas. Apenas uma determinação sombria. Havia coisas a fazer. Ele não podia se dar ao luxo de desmoronar. Seus pais mereciam um funeral digno.
Ele voltou para o hospital. A mesma enfermeira da emergência o viu e se aproximou.
"Senhor Silva, eu sinto tanto pela sua perda."
"Obrigado", disse ele, a voz firme. "Eu preciso cuidar dos preparativos para o funeral. O que eu preciso fazer?"
A enfermeira o olhou, confusa.
"Mas... e a sua esposa? Ela não deveria estar cuidando disso? A investigação do acidente..."
"Minha esposa está... indisponível", disse Marcos, a palavra soando amarga em sua boca. "Eu vou cuidar de tudo. Meus pais eram minha responsabilidade. E continuam sendo."
Ele assumiu o controle, falando com a funerária, escolhendo os caixões, organizando os detalhes do velório. Cada tarefa era um passo, um movimento para frente, uma forma de canalizar sua dor em ação. Ele não pararia até que Sofia e Pedro pagassem pelo que fizeram.