O Veneno da Fortuna
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Capítulo 4

Na funerária, cercado pelo cheiro adocicado de flores e pelo silêncio pesado, Marcos escolhia as roupas para o enterro de seus pais. Ele pegou um vestido floral simples para sua mãe, o favorito dela. E para seu pai, o terno que ele usou no casamento de Marcos.

Ele se lembrou da conversa que teve com a mãe na véspera do casamento.

"Você tem certeza, meu filho?", ela perguntou, a preocupação em seus olhos. "A família dela... eles são de outro mundo."

"Eu a amo, mãe. E ela me ama."

Sua mãe sorriu, um sorriso triste. "O amor de um homem bom como você é um presente, Marcos. Espero que ela saiba o valor que ele tem."

Agora, a lembrança daquelas palavras o assombrava. Sofia não só não sabia o valor do amor dele, como o havia pisoteado, cuspido nele e o deixado para morrer junto com seus pais na beira da estrada.

Seu celular tocou, quebrando o silêncio fúnebre. Era Sofia.

Ele atendeu, preparando-se para a tempestade.

"MARCOS! O QUE VOCÊ FEZ?"

O grito dela era tão agudo que ele teve que afastar o telefone do ouvido.

"Meus cartões não estão passando! O que diabos você fez?"

A voz de Marcos era calma, quase um sussurro. Um contraste gritante com a histeria dela.

"Eu cortei seu acesso ao meu dinheiro, Sofia."

"Seu dinheiro? Nós somos casados! É nosso dinheiro! Como você ousa fazer isso comigo?"

"Eu ouso porque o dinheiro que você estava usando para fugir com seu amante foi ganho com o meu suor. Eu ouso porque enquanto meus pais morriam, você estava brindando sua 'nova vida' no Instagram."

Houve uma pausa. Ele a imaginou sem palavras, o choque e a raiva lutando em seu rosto. Quando ela falou novamente, o tom era completamente diferente. A fúria desapareceu, substituída por uma doçura artificial e enjoativa.

"Amor, me desculpe. Eu não sabia que a situação era tão séria. Pedro e eu... estávamos apenas nos divertindo. Você sabe como eu fico quando bebo um pouco. Por favor, reative meus cartões. Eu preciso deles."

Era a mesma tática que ela sempre usava. Gritar, depois se fazer de vítima, depois oferecer uma migalha de afeto para conseguir o que queria. Mas, pela primeira vez, não funcionou. A voz dela não causava nada além de repulsa.

"Não, Sofia."

"Marcos, por favor. Eu te amo."

Ele riu. Uma risada seca, sem humor.

"Você não sabe o que é amor. Você só sabe o que é usar as pessoas."

Ele respirou fundo, a decisão final se formando em sua mente.

"O funeral dos meus pais será amanhã, ao meio-dia, na capela central. Este é o seu último aviso. Se você ainda tem um pingo de decência, apareça."

Ele não estava pedindo. Estava dando uma ordem. Uma última chance para ela mostrar algum tipo de humanidade.

A resposta dela foi uma risada sarcástica.

"Funeral? Você ainda está com essa história? Marcos, você está sendo ridículo. Isso é um jogo para me fazer voltar rastejando? Não vai funcionar. Se você não reativar meus cartões até o final do dia, pode considerar nosso casamento acabado. Eu peço o divórcio e pego metade de tudo o que você tem!"

A ameaça que antes o aterrorizava agora soava patética.

"Ótimo", disse ele, a voz mortalmente séria. "Peça o divórcio. Mas você não vai conseguir um único centavo. Eu vou garantir isso."

"Veremos", ela cuspiu, antes de desligar na cara dele.

Marcos guardou o telefone. Ele olhou para o terno de seu pai em suas mãos. A decisão estava tomada. Não haveria reconciliação. Não haveria perdão. Apenas o acerto de contas. E ele garantiria que fosse doloroso.

                         

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