O Décimo Despertar: Sofia Renasce
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Capítulo 3

A chuva caía, fria e implacável, lavando as luzes da cidade em borrões de neon. Os seguranças a jogaram no chão do beco atrás do salão de festas como se ela fosse um saco de lixo. O vestido caro rasgou, a seda se sujando na poeira molhada e na sujeira.

Um deles se agachou. "O chefe mandou um recado. Fique longe."

O chute no estômago a deixou sem ar. Ela se encolheu, a dor explodindo em seu abdômen. O outro homem riu, um som baixo e gutural. Eles a chutaram mais algumas vezes, golpes precisos e brutais nas costelas e nas pernas, antes de se virarem e irem embora, deixando-a caída na escuridão.

Sofia ficou ali, a chuva encharcando seu cabelo e suas roupas, misturando-se com as lágrimas silenciosas que finalmente escorriam por seu rosto. Cada respiração era uma agonia. O corpo todo doía. Mas a pior dor não era física. Era o vazio. A missão tinha sido abandonada. O sistema estava em silêncio. Ela estava sozinha.

O celular no bolso de seu vestido rasgado vibrou. Com as mãos trêmulas, ela o pegou. A tela estava rachada, mas funcionava. Uma mensagem de um número desconhecido.

Uma foto.

Era uma imagem dela, caída no beco, tirada de uma janela de um andar superior. Patética, encharcada, quebrada.

Segundos depois, outra mensagem.

"Bela vista."

Era ele. Ricardo. Ele estava assistindo. De algum lugar lá de cima, provavelmente com sua taça de champanhe na mão, ele estava observando seu sofrimento. Não bastava a humilhação pública, não bastava a agressão física. Ele precisava saborear o resultado de sua crueldade, como um predador observando sua presa morrer.

A percepção a encheu de um nojo tão profundo que superou a dor. Aquele homem não era apenas obsessivo; ele era um sádico. Ele se alimentava do sofrimento dela.

Com uma força que ela não sabia que tinha, Sofia se arrastou para fora do beco. As poucas pessoas que passavam na rua desviavam o olhar. Uma mulher com um guarda-chuva a viu, fez uma careta de repulsa e atravessou a rua. Um casal de jovens riu. Para eles, ela era apenas mais uma bêbada ou uma louca, uma mancha no cenário urbano da noite. A invisibilidade era uma nova forma de tortura.

Ela se apoiou em uma parede, tentando recuperar o fôlego. O cheiro de cimento molhado de uma construção próxima invadiu suas narinas e um pânico gelado a dominou.

Retrospectiva.

O ciclo seis. Ricardo a havia confrontado em uma obra, acusando-a de roubar projetos de sua empresa. Ele a empurrou para dentro de uma vala de fundação. A última coisa que ela viu foi o cimento sendo despejado sobre ela, o peso esmagador, o ar acabando, o silêncio escuro e sufocante.

Ela ofegou, o corpo tremendo incontrolavelmente. A memória era tão vívida que ela podia sentir o peso fantasma em seu peito. Era o trauma, o eco das mortes passadas gravado em sua alma, mesmo que o corpo fosse novo a cada ciclo.

A fome começou a se instalar, uma dor oca no estômago que se somava às outras. Ela não comia nada desde o café da manhã intocado. Desesperada, ela mancou até a parte de trás de um restaurante, onde viu latas de lixo. A humilhação queimava, mas a necessidade era maior.

Ela enfiou a mão em uma das latas, procurando por algo, qualquer coisa comestível. Seus dedos se fecharam em torno de um pedaço de pão velho, mas ao puxá-lo, sua mão deslizou por uma garrafa de vidro quebrada. Uma dor aguda e lancinante atravessou sua palma. Ela puxou a mão para fora, vendo o sangue escorrer, escuro sob a luz fraca do beco.

Era demais. A dor, a fome, a humilhação, o sangramento. Ela se encostou na parede de tijolos e deslizou até o chão, o corpo tremendo de frio e choque. Ela estava no fundo do poço. Não havia mais para onde cair.

Foi quando ouviu passos.

Ela ergueu a cabeça, esperando que fossem apenas pedestres. Mas as silhuetas que emergiram da escuridão eram terrivelmente familiares.

Eram os mesmos dois seguranças.

"Olha o que achamos aqui," disse um deles, com um sorriso sádico. "Parece que a cachorrinha de rua ainda não aprendeu a lição."

"O chefe ligou," disse o outro, estalando os nós dos dedos. "Ele viu você tentando comer lixo. Ele achou... deselegante. Ele disse para sermos mais... convincentes desta vez."

O pânico tomou conta de Sofia. Ela tentou se levantar, se arrastar para longe, mas seu corpo não obedecia. Eles se aproximaram, bloqueando a única saída do beco.

Ela tinha abandonado a missão. Ela deveria estar livre. Mas Ricardo não a estava soltando. Seu ciclo de vingança havia vazado para além das regras do sistema. Ele não a deixaria escapar. Não enquanto ela ainda respirasse no mundo dele.

A última coisa que ela viu foi a bota de um dos homens vindo em direção ao seu rosto. Então, tudo ficou preto.

            
            

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