O Décimo Despertar: Sofia Renasce
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Capítulo 4

A escuridão não durou para sempre.

Ela voltou à consciência lentamente, o primeiro sentido a retornar sendo a audição. Um zumbido baixo e constante, como o de um motor. Depois, o cheiro. Antisséptico e metal frio.

Sofia abriu os olhos. O teto era branco e desconhecido. Ela estava deitada em algo que se movia. Uma maca. As luzes da rua passavam rapidamente por uma janela lateral. Ela estava em uma ambulância.

"Ela está acordando," disse uma voz calma.

Uma paramédica se inclinou sobre ela, um rosto gentil e preocupado. "Não se esforce. Você foi encontrada inconsciente. Teve sorte que alguém ligou."

Sorte. A palavra soou como uma piada amarga.

Enquanto isso, em uma cobertura de luxo com vista para a cidade, Ricardo jogou o celular na mesa de vidro com força.

"Como assim, ela não está morta?" ele rosnou para o segurança do outro lado da linha.

"Alguém chamou uma ambulância antes que a gente pudesse... terminar, chefe. Eles a levaram."

Ricardo passou a mão pelo cabelo, a frustração e a raiva distorcendo suas feições perfeitas. Ela deveria ter desaparecido. Morta em um beco, uma indigente não identificada. Seria o final poético que ele havia planejado para este ciclo. Mas ela era como uma erva daninha, sempre sobrevivendo, sempre voltando para assombrá-lo. Sua obsessão e sua raiva se intensificaram. Ela não podia escapar. Ele não permitiria.

"Descubra para qual hospital a levaram," ele ordenou, a voz fria como aço. "Agora."

Sofia foi levada para um quarto de hospital. Era pequeno, estéril e estranhamente silencioso. Depois que os médicos a examinaram, trataram de seus ferimentos e a deixaram sozinha, ela finalmente teve um momento para respirar. Mas a paz não durou.

A porta se abriu e um homem de terno, que ela não reconheceu, entrou.

"Senhorita Sofia," ele disse, sem emoção. "Por ordem do Sr. Ricardo, você será transferida."

"Transferida? Para onde?"

O homem não respondeu. Dois enfermeiros entraram com uma cadeira de rodas. Eles a transferiram da cama para a cadeira sem nenhuma gentileza. Sofia se sentiu como um objeto, uma posse sendo movida de um lugar para outro.

Eles a levaram por corredores silenciosos até uma ala particular e isolada do hospital. O quarto para onde a levaram era diferente. Maior, mais luxuoso, mas também mais frio. As janelas eram altas e gradeadas. A porta se fechou atrás dela com um clique pesado e final, que soou como o de uma cela.

Ela estava aprisionada novamente.

O ar condicionado estava ligado no máximo, e o frio começou a penetrar em seus ossos, apesar do fino lençol do hospital. O frio despertou outra memória traumática.

Retrospectiva.

O ciclo dois. A noite de nevasca. Ricardo a trancou do lado de fora da mansão deles nos Alpes. Ela estava apenas com um vestido fino. Ela bateu nas portas de vidro, chorou, implorou. Ele ficou do lado de dentro, observando-a, o calor da lareira refletido em seus olhos, enquanto ela lentamente congelava até a morte.

Um tremor violento sacudiu seu corpo. O frio no quarto não era apenas físico; era o frio daquela memória, o frio do coração de Ricardo.

A porta se abriu novamente.

Era ele.

Ricardo entrou no quarto, impecável como sempre. Ele parou ao pé da cama, olhando para ela com uma expressão indecifrável.

"Você é resistente, eu admito," ele disse, a voz calma. "Mas toda resistência tem um limite."

Ele caminhou até o termostato na parede e baixou ainda mais a temperatura. O ar gelado soprou com mais força.

"Eu soube que você abandonou a missão," ele continuou, casualmente. "Uma pena. Eu estava começando a me divertir com nosso pequeno jogo."

Sofia o encarou, a raiva superando o medo. "Isso não é um jogo, Ricardo. Você é um monstro."

Ele riu, um som sem humor. "Eu sou o que você me fez. Você e Juliana." Ele se aproximou da cama, o rosto se contorcendo em uma máscara de dor e ódio. "Você achou que podia simplesmente desistir? Sair do palco no meio da minha peça? Não. A peça só termina quando eu digo que terminou."

Ele se inclinou sobre ela, o hálito frio em seu rosto.

"Já que você não quer mais jogar para reconquistar meu amor, vamos jogar um jogo diferente. Um jogo de resistência. Vamos ver quanto tempo você aguenta."

O frio se intensificou, e Sofia começou a tremer incontrolavelmente. Seu corpo, já enfraquecido, estava protestando.

"Por quê?" ela sussurrou, os dentes batendo. "Por que tanto ódio?"

"Porque você tirou ela de mim!" ele explodiu, a calma desaparecendo. "Você armou para que eu a pegasse com outro, você a humilhou! Ela se matou por sua causa! E você nunca vai parar de pagar por isso."

"Eu não fiz nada disso!" ela gritou, a voz rouca. "Eu amava você! Eu nunca faria isso!"

"Mentiras!" ele rosnou, o rosto a centímetros do dela. "Você mente tão facilmente quanto respira. Mas não se preocupe. Eu vou congelar todas as mentiras de seus lábios."

Ele se endireitou, ajeitou o terno e caminhou em direção à porta.

"Aproveite a sua suíte, Sofia. Eu voltarei para ver o seu progresso."

A porta se fechou, e o som da tranca ecoou no quarto gelado. Sofia estava sozinha novamente, presa em uma nova câmara de tortura, com as memórias de suas mortes passadas como suas únicas e terríveis companheiras. O jogo não tinha acabado. Tinha apenas ficado pior.

                         

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