A voz de Rafael era sempre enérgica, o som de um homem acostumado a fechar grandes negócios. Rafael era um magnata do mercado imobiliário, um dos homens mais poderosos de São Paulo, e estava prestes a lançar o maior projeto de sua vida, um complexo tecnológico de ponta, totalmente dependente do software e da infraestrutura da Inovação Tech. E, por consequência, dependente de Pedro.
"Estou bem, Rafael. Apenas trabalhando em algumas coisas", respondeu Pedro, com a voz calma de sempre.
"Trabalhando? Vamos, Pedro, você precisa relaxar! Ouça, estou no Clube Elysian esta noite. Tenho um quarto reservado. E adivinha? Eu arranjei uma companhia para você. De primeira classe, a melhor que o dinheiro pode comprar. Uma surpresa para te agradecer por toda a ajuda."
Pedro franziu a testa. Ele se lembrava de uma época, anos atrás, quando talvez apreciasse esse tipo de oferta. Uma época de festas extravagantes e relacionamentos passageiros, antes de conhecer Sofia. Mas essa época já havia passado.
"Rafael, eu agradeço o gesto, de verdade. Mas você sabe que sou casado."
Houve uma pausa do outro lado da linha.
"Casado, sim, claro. Mas um homem como você... um homem com a sua importância... merece um pouco de diversão. Pense nisso como um... bônus de negócios."
"Eu amo minha esposa", disse Pedro, a voz firme, sem espaço para discussão. "Temos um bom relacionamento. Não estou interessado, Rafael. Mas obrigado."
"Tudo bem, tudo bem. Não está mais aqui quem falou", disse Rafael, rapidamente mudando de tom. "Mas o convite para vir ao clube ainda está de pé. Precisamos discutir os detalhes finais da fase dois. É importante. Venha, tome uma bebida comigo."
Pedro hesitou. A fase dois era crucial.
"Ok. Estarei aí em uma hora."
Ele desligou e olhou ao redor do pequeno apartamento. As fotos de seu casamento com Sofia estavam na estante. Nelas, ela sorria, um sorriso que ele raramente via ultimamente. O amor ainda estava lá, ele acreditava, mas estava soterrado por uma tensão crescente. A família de Sofia, os Almeida, já fora muito rica, mas agora enfrentava a decadência. A pressão social e as dificuldades financeiras pesavam sobre ela.
E sobre ele.
Ele trocou de roupa, vestindo uma calça jeans e uma camisa simples. Não se importava com marcas ou aparências. Era apenas Pedro, o programador. Ele só esperava que isso fosse suficiente para sua esposa.
Ao chegar ao Clube Elysian, o luxo do lugar era quase sufocante. Manobristas uniformizados, mármore polido e lustres de cristal. Era um mundo que ele conhecia bem, mas que havia abandonado. Ele ignorou os olhares de desprezo dos seguranças para suas roupas simples e foi até a recepção.
"Tenho um encontro com Rafael Mendes."
A recepcionista verificou a lista e lhe entregou um cartão. "Suíte 702, senhor."
Pedro pegou o elevador. Ele pensou na "dama de companhia" que Rafael havia mencionado. Um sorriso irônico tocou seus lábios. Que tipo de mulher faria esse trabalho?
Ele chegou ao corredor do sétimo andar e caminhou até a porta 702. A porta estava entreaberta. Ele ouviu risadas lá dentro. Risadas femininas e a voz de um homem que ele reconheceu com um aperto no estômago: Gustavo Ribeiro, o "amigo de infância" de Sofia.
Pedro sentiu um nó na garganta. Ele empurrou a porta suavemente e olhou para dentro.
Seu mundo parou.
A "dama de companhia de primeira classe" já estava lá.
E ele a reconhecia perfeitamente.
Era sua esposa, Sofia.
Ela estava de pé, no centro da sala luxuosa, usando um vestido vermelho justo que ele nunca tinha visto antes. O vestido realçava cada curva de seu corpo. Ela segurava uma taça de champanhe, rindo de algo que Gustavo acabara de dizer. Ao lado deles, estavam vários amigos do círculo social de Sofia, todos vestidos com roupas caras, olhando para ela com admiração.
Um homem mais velho, que Pedro não conhecia, levantou sua taça para Sofia.
"Um brinde a Sofia! A mulher mais deslumbrante desta noite. Tenho certeza de que o Sr. Costa ficará muito satisfeito com os seus... serviços."
As risadas encheram a sala.
O coração de Pedro se transformou em uma pedra de gelo. A sala começou a girar. O ar ficou pesado, difícil de respirar. Ele ouviu as palavras, mas seu cérebro se recusava a processá-las. Satisfatório com seus serviços? Era isso que sua esposa estava fazendo? Vendendo sua dignidade neste clube de luxo?
Uma das amigas de Sofia, uma loira chamada Vanessa, riu alto.
"Serviços? Por favor! Sofia está apenas fazendo um favor a Gustavo para ajudar sua família. Além do mais, o marido dela nem saberia a diferença. Aquele programador inútil provavelmente está em casa agora, comendo macarrão instantâneo e jogando videogame."
Outro amigo acrescentou, com desdém: "Sério, Sofia, como você aguenta aquele lixo? Ele não tem um pingo de ambição. Você merece muito mais. Alguém como Gustavo."
Gustavo sorriu, passando o braço pela cintura de Sofia de uma forma possessiva. "Não se preocupem. Eu cuidarei de Sofia. Assim que ela se livrar daquele peso morto."
Sofia não protestou. Ela apenas deu um sorriso fraco, um sorriso que não alcançou seus olhos.
Foi então que seus olhos encontraram os de Pedro, parado na porta.
O sorriso dela congelou. O pânico brilhou em seu rosto por um breve segundo, uma faísca de culpa. Mas desapareceu tão rápido quanto surgiu, substituído por uma máscara de frieza e raiva.
"Pedro?" Sua voz era afiada. "O que você está fazendo aqui? Você está me seguindo?"
Pedro não conseguia falar. A traição era uma faca cravando em seu peito, torcendo.
Sofia se afastou de Gustavo e caminhou até ele, sua expressão endurecida.
"Você não tem o direito de estar aqui! Este é um lugar privado! Você é um lixo sem valor, não pertence a este lugar!" ela cuspiu as palavras, cada uma delas um golpe. "Saia! Saia daqui imediatamente e não me envergonhe mais!"