Os amigos de Sofia riram, um coro de escárnio que ecoou nos ouvidos de Pedro.
"Negócios? Que tipo de negócios?" perguntou Vanessa, a loira. "O tipo que envolve usar um vestido desses e beber champanhe com estranhos?"
"Deixe-o em paz, Vanessa", disse Gustavo, embora seu tom indicasse o contrário. "Ele não entenderia. O mundo dos grandes negócios é complicado demais para a mente de um simples funcionário."
Ele se virou para Sofia, seu tom suavizando falsamente.
"Sofia, querida, por que você não manda seu... marido... embora? Ele está estragando a noite. Além disso, o convidado de honra, o CEO da Inovação Tech, pode chegar a qualquer momento. Não queremos que ele veja esse tipo de cena."
CEO da Inovação Tech.
As palavras atingiram Pedro como um soco. Ele olhou para Sofia, uma pergunta silenciosa em seus olhos. Era por isso que ela estava ali? Aquele era o plano de Gustavo? Usar Sofia para conseguir uma vantagem com o misterioso chefe da empresa onde Pedro supostamente era um mero programador?
A lembrança da ligação de Rafael voltou com força total. 'Arranjei uma companhia para você... de primeira classe.'
A náusea subiu pela garganta de Pedro. Rafael, seu parceiro de negócios, sem saber da verdade, havia arranjado sua própria esposa para ele como uma acompanhante. E Sofia, manipulada por Gustavo, tinha vindo. Ela não sabia que o homem que esperava encontrar era seu marido, mas isso não importava. A intenção estava clara. Ela estava ali, vestida daquela forma, pronta para entreter um homem poderoso em troca de favores para sua família.
A dor em seu peito era tão intensa que ele mal conseguia respirar. O amor que ele sentia por ela, a lealdade que ele mantinha, tudo parecia uma piada cruel.
Ele olhou para o rosto dela, para a mulher que ele amava, e viu uma estranha. Uma mulher que o desprezava, que se envergonhava dele, que estava disposta a vender sua dignidade.
Naquele momento, algo dentro de Pedro se quebrou.
"Divórcio", ele disse, a voz rouca, quase um sussurro.
Sofia arregalou os olhos. "O quê?"
"Nós vamos nos divorciar", repetiu ele, mais alto desta vez, a voz fria e sem emoção. Ele deu um passo para trás, virando-se para sair. A dor era imensa, mas sua decisão era final. Ele não podia mais viver essa mentira. Ele não podia mais estar com uma mulher que não o respeitava.
"Espere!" Sofia gritou, correndo atrás dele e agarrando seu braço. Sua frieza anterior havia desaparecido, substituída por pânico. "Pedro, não! Você não pode simplesmente ir embora!"
Ele se virou para encará-la, o rosto uma máscara de dor. "Por quê? Para que eu possa assistir você se vender? Para que eu possa ser humilhado um pouco mais?"
"Não é o que você pensa! Eu posso explicar!"
"Explicar o quê, Sofia?" a voz de Gustavo interrompeu, cheia de zombaria. "Explicar que você finalmente percebeu que casou com um fracassado? Deixe-o ir. É o melhor para você."
Gustavo tentou puxar Sofia para longe de Pedro, mas ela resistiu.
"Cale a boca, Gustavo!" ela gritou, surpreendendo a todos.
Pedro se desvencilhou do aperto dela. "Não há nada para explicar. Eu vi o suficiente."
Ele se virou para sair novamente.
"Você não vai a lugar nenhum!" Gustavo rosnou, bloqueando seu caminho. "Você entra aqui, acusa minha amiga e acha que pode simplesmente ir embora?"
Pedro olhou para Gustavo, um brilho perigoso em seus olhos. "Saia da minha frente."
"Ou o quê? Vai escrever um código para me atacar?" Gustavo riu, e seus amigos o acompanharam. "Você nem deveria estar neste andar. Como você subiu aqui?"
"Eu tenho um encontro com Rafael Mendes", disse Pedro, a voz baixa e controlada.
A sala explodiu em gargalhadas.
"Você?" zombou Vanessa. "Um encontro com o Sr. Rafael Mendes? O magnata imobiliário? Por favor, não seja ridículo. Ele nem deixaria você limpar os sapatos dele."
Gustavo sorriu com superioridade. "Ele está delirando, Sofia. O choque de ver você em um lugar como este deve ter fritado seu cérebro de programador."
Sofia olhou para Pedro, e pela primeira vez, ele viu não apenas raiva, mas uma profunda decepção em seus olhos. Como se a mentira dele fosse a pior ofensa de todas.
"Pedro... por que você está mentindo?" ela sussurrou, a voz cheia de dor. "Por que inventar algo tão absurdo? Apenas... vá embora."
O olhar dela foi o golpe final. A descrença dela, a vergonha dela por ele.
Ele sentiu o último fio de esperança se romper.