Amor e Ódio na Tempestade
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Capítulo 3

Na manhã seguinte, desço com as caixas de veludo. Encontro Ana na sala de estar, andando de um lado para o outro, impaciente.

"Aqui estão, querida", eu digo, estendendo as caixas para ela. "Escolhi as melhores peças que tinha em casa. Espero que ajude."

Os olhos dela brilham de cobiça ao abrir as caixas. Ela vê o brilho falso das zircônias e do vidro colorido e acredita que são diamantes, rubis e safiras. Ela está em êxtase, completamente cega pela ganância.

"Mãe! São perfeitas! São muito mais do que eu esperava! Meus pais vão ficar tão felizes! Eu não sei como te agradecer!"

Ela me abraça com força, e desta vez, eu a abraço de volta, um abraço frio e final.

"Não precisa agradecer, Ana. Apenas vá. O rádio disse que a nevasca vai piorar muito nas próximas horas. Você precisa pegar a estrada o mais rápido possível."

Eu a conduzo até a porta. Ela está tão eufórica com seu tesouro falso que nem percebe minha pressa em me livrar dela.

Ao abrir a porta, o vento gelado entra com força. A neve já começa a se acumular na calçada.

Ana olha para a rua deserta. "Ué, cadê o motorista? Pedi para o Paulo deixar o carro pronto."

Ela se vira para mim, a primeira sombra de dúvida em seu rosto feliz.

"Paulo? Ah, querida, você não ficou sabendo?", eu digo, com a melhor expressão de surpresa que consigo fingir. "Eu dei folga para todos os funcionários. Com essa tempestade vindo, achei mais seguro que todos ficassem em casa com suas famílias."

A expressão de Ana muda de dúvida para choque e, em seguida, para raiva.

"Você o quê? Como eu vou para o interior agora? A estação de ônibus já deve estar fechada!"

"Eu não sei, Ana", respondo, cruzando os braços. "Você é uma adulta. Achei que você tivesse um plano."

Minha calma a enfurece ainda mais.

"Um plano? Meu plano era usar o nosso motorista! Sempre foi assim! Ligue para ele agora! Mande-o voltar!"

Ela fala como se estivesse dando uma ordem. A mesma arrogância que a levou a me trancar no porão.

"Não posso fazer isso", eu digo, minha voz firme como aço. "Ele mora do outro lado da cidade. Seria irresponsável da minha parte pedir que ele dirija com este tempo. A segurança dele é minha responsabilidade."

"E a minha segurança não é?", ela grita, o rosto vermelho de raiva.

"Você decidiu ir. A responsabilidade é sua."

Revelar que dispensei os funcionários foi um movimento calculado. Eu sabia que ela dependia completamente de nós, que nunca havia planejado nada por conta própria. Ela sempre teve tudo na mão.

"Isso não é justo!", ela grita, avançando em direção ao telefone na parede. "Eu mesma vou ligar para ele!"

Eu me movo rapidamente e coloco minha mão sobre o aparelho antes que ela possa alcançá-lo.

"Não, você não vai."

Nossos olhos se encontram, e pela primeira vez, ela vê algo diferente em mim. Não a mãe dócil e permissiva. Ela vê uma estranha.

A raiva em seu rosto se desfaz, substituída por uma tática que ela sempre usou quando as coisas não saíam como queria. As lágrimas.

Grandes lágrimas falsas começam a rolar por suas bochechas.

"Mãe, por favor...", ela soluça. "Meus pais... eles vão morrer de frio... você não se importa?"

Na minha vida passada, essa cena teria partido meu coração. Eu teria me sentido a pior pessoa do mundo. Teria feito qualquer coisa para parar suas lágrimas.

Hoje, eu apenas a observo, sentindo um vazio gelado por dentro. As lágrimas dela não significam nada para mim. São apenas água e sal.

"Eu me importo, Ana", digo, minha voz sem emoção. "É por isso que estou te dizendo para encontrar uma solução rápido. O tempo está passando."

            
            

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