Traição e Renascimento: A Vingança de João
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Capítulo 1

João Carlos desligou o telefone com um sorriso no rosto, a excitação correndo por suas veias como uma corrente elétrica. Ele olhou pela janela do escritório para o céu cinzento de São Paulo, mas em sua mente, o sol já brilhava.

Sua esposa, Ana Lúcia, estava em uma viagem de trabalho de um mês no exterior, uma oportunidade de ouro para sua carreira em ascensão. Ela era ambiciosa, focada, e ele a amava por isso.

Nos cinco anos de casamento, eles construíram uma vida confortável. Ele trabalhava duro em sua pequena empresa de TI, e ela subia rapidamente na hierarquia de uma multinacional. O único ponto de tristeza em seu mundo perfeito era a ausência de filhos. Anos atrás, um médico lhes dera a notícia devastadora: João Carlos era infértil. Foi um golpe duro, mas ele se resignou, focando todo seu amor e energia em Ana Lúcia.

Agora, com ela longe, uma ideia brilhante surgiu. Ele compraria uma passagem, voaria para encontrá-la e a surpreenderia nos últimos dias da viagem. Imaginou o rosto dela se iluminando, o abraço apertado, as noites românticas em uma cidade estrangeira. Ele arrumou uma pequena mala, comprou um buquê de rosas na floricultura do aeroporto e embarcou no avião, o coração cheio de expectativa.

O voo de quatorze horas pareceu passar em um piscar de olhos. Ao desembarcar, ele pegou um táxi direto para o endereço do apartamento que a empresa de Ana Lúcia havia alugado para ela. Com a chave reserva que ela lhe dera para emergências, ele abriu a porta silenciosamente, esperando encontrá-la dormindo ou trabalhando em seu laptop.

A primeira coisa que notou foi o silêncio. Ele caminhou pelo corredor, e a porta do quarto estava entreaberta. Ele espiou, o sorriso ainda em seus lábios.

E então, seu mundo parou.

Ana Lúcia estava de pé, de costas para a porta, vestindo apenas uma camisola de seda. Ela se virou de lado para pegar um copo de água na mesinha de cabeceira, e o que ele viu fez o ar congelar em seus pulmões.

Sua barriga estava redonda, protuberante, inconfundivelmente a barriga de uma mulher grávida de vários meses.

O buquê de rosas escorregou de sua mão, caindo no chão com um baque surdo.

Ana Lúcia se virou, assustada com o barulho. Seus olhos se arregalaram ao vê-lo ali, parado na porta, o rosto uma máscara de choque e confusão.

"João? O que... o que você está fazendo aqui?"

A voz dela parecia vir de muito longe. Ele não conseguia processar. Sua mente girava, tentando encontrar uma explicação lógica, mas não havia nenhuma.

"Ana... o que é isso?" ele conseguiu sussurrar, apontando com a mão trêmula para a barriga dela.

O rosto de Ana Lúcia empalideceu. Ela levou as mãos ao ventre instintivamente, como se para protegê-lo. Por um momento, ela não disse nada, apenas o encarou com pânico nos olhos.

"Eu... eu posso explicar."

"Explicar?" A voz dele subiu uma oitava, a confusão dando lugar a uma raiva fria que começava a borbulhar dentro dele. "Explicar o quê? Que você está grávida? Grávida de uns seis meses, pelo visto! Como isso é possível, Ana Lúcia? Como?!"

Ele deu um passo para dentro do quarto, o som das pétalas esmagadas sob seus sapatos ecoando no silêncio tenso.

"O médico disse... nós não podíamos ter filhos. Ele disse que eu não podia ter filhos."

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Ana Lúcia. Ela se sentou na beira da cama, o corpo tremendo.

"O laudo... o laudo de infertilidade... era falso, João."

Cada palavra era uma facada. Falso. Uma mentira. Anos de dor, de sonhos frustrados, de aceitação resignada... tudo construído sobre uma mentira.

"Você... você mentiu pra mim?" A raiva agora era um fogo que o consumia. "Você forjou um laudo médico? Por quê? Por que você faria uma coisa dessas?"

"Eu não estava pronta!" ela soluçou. "Minha carreira estava decolando, eu não queria um filho naquela época! Foi a única coisa que pensei para te fazer parar de insistir!"

A confissão era tão egoísta, tão cruel, que João Carlos sentiu náuseas. Mas a pior parte ainda estava por vir. A realidade inescapável daquela barriga.

"E essa criança?" ele perguntou, a voz perigosamente baixa. "Se não é minha... de quem é?"

Ana Lúcia hesitou, mordendo o lábio inferior. O medo em seus olhos era palpável.

"Me responda, Ana Lúcia. De quem é esse filho?"

Ela respirou fundo, como se reunisse coragem para o golpe final.

"É do Ricardo."

Ricardo. O nome o atingiu como um soco no estômago. Ricardo, seu ex-namorado da faculdade, o homem que ela jurava ser apenas um amigo, uma página virada em sua vida. A traição tinha um nome e um rosto.

"Você me traiu com ele?"

"Não! Não foi assim!" ela se apressou em dizer. "Nós não... não dormimos juntos. Foi... foi inseminação artificial."

João Carlos riu, um som amargo e sem humor que encheu o quarto.

"Inseminação artificial? Você está brincando comigo? Isso torna tudo melhor? Você usou o sêmen de outro homem para engravidar pelas minhas costas?"

"Você não entende!" ela gritou, desesperada. "O Ricardo está morrendo! Ele tem câncer terminal, João! Os médicos lhe deram poucos meses de vida. O maior sonho dele era ter um filho, deixar um herdeiro, um pedaço dele no mundo. Ele me implorou. Eu fiz por pena, por compaixão!"

A justificativa era tão absurda, tão doentia, que João Carlos ficou sem palavras. Pena. Compaixão. Ela destruiu o casamento deles, a vida dele, por pena de um ex-namorado. Ela o enganou, o humilhou, o emasculou, e chamava isso de compaixão.

Ele a encarou, a mulher que ele pensava conhecer, a mulher que ele amava. Mas a pessoa à sua frente era uma estranha, uma mentirosa, uma traidora. A dor era tão intensa que mal conseguia respirar.

"Então você decidiu ter um filho com um homem moribundo e me manter no escuro? Planejava voltar para casa e dizer o quê? Que foi um milagre?" A voz dele pingava sarcasmo.

"Eu ia te contar, João, eu juro! Eu só... não sabia como."

Ele balançou a cabeça, o nojo e a dor se misturando em seu rosto. O sonho da surpresa romântica se transformara no pior pesadelo de sua vida. Ali, naquele quarto de hotel em um país estranho, seu casamento, seu futuro, tudo o que ele acreditava ser verdade, desmoronou em pedaços.

            
            

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