"Não foi só isso, João!" ela defendeu-se, a voz embargada. "Eu te amo! Eu só... entrei em pânico. Eu era jovem, ambiciosa. Achei que ter um filho iria me atrasar, me tirar do jogo. Foi uma decisão estúpida, eu sei disso agora! Eu me arrependo todos os dias!"
"Você se arrepende?" ele riu amargamente. "Você não parece arrependida. Você parece uma mulher grávida de seis meses do seu ex-namorado. Onde está o arrependimento nisso, Ana? Em que parte do plano essa epifania aconteceu?"
Ele parou na frente dela, o corpo tenso de raiva.
"Você mentiu sobre o passado e agora mentiu sobre o presente. Qual é a próxima mentira? Que você não está vivendo com ele?"
"Claro que não!"
"Então me diga uma coisa", ele continuou, ignorando a negação dela. "Você tem duas opções. Apenas duas. Ou você interrompe essa gravidez agora, ou nós nos divorciamos. Não existe uma terceira opção onde eu crio o filho do seu ex-namorado. Escolha."
O ultimato pairou no ar, frio e final. O rosto de Ana Lúcia se contorceu em horror.
"Não!" ela gritou, levantando-se. "Eu não vou fazer isso! É uma vida, João! Como você pode ser tão cruel? Eu não vou matar meu filho!"
"'Meu filho'", ele repetiu, a palavra soando como veneno. "Você já nem diz 'nosso'. É 'meu filho'. Você já fez sua escolha há muito tempo, não é?"
"Você está me forçando a escolher entre você e uma vida inocente! Isso não é justo!" ela o acusou, tentando virar o jogo, pintá-lo como o monstro.
"Justo?" ele berrou, a compostura finalmente se quebrando. "Você quer falar de justiça? Onde estava a justiça quando você forjou aquele laudo? Onde estava a justiça quando você me fez acreditar que eu era quebrado? Onde estava a justiça quando você foi para uma clínica com seu ex-namorado pelas minhas costas? Não me venha falar de justiça, Ana Lúcia!"
Ele precisava de ar. Sentindo-se sufocado, ele saiu do quarto e foi para a pequena sala de estar. Seus olhos varreram o ambiente, e algo chamou sua atenção. No cinzeiro sobre a mesa de centro, havia várias pontas de cigarro de uma marca que ele sabia que Ana Lúcia odiava. Uma marca que Ricardo costumava fumar.
Seu coração afundou ainda mais. Ele abriu a porta do armário perto da entrada, um lugar onde se guardam casacos e sapatos. E lá, no fundo, enfiada atrás de algumas caixas, estava uma mala de homem. Ao lado dela, um par de sapatos masculinos.
Com o estômago revirado, ele voltou para o quarto. Ele não precisava mais perguntar. Ele sabia. Mas ele queria ouvir da boca dela. Abriu o guarda-roupa de Ana Lúcia. Entre os vestidos e blusas dela, penduradas em cabides, estavam camisas masculinas. Na gaveta de baixo, dobradas, cuecas boxer.
A raiva que ele sentia antes era uma chama fria. Agora, era um incêndio que consumia cada fibra do seu ser. A humilhação era total, absoluta. Ela não apenas o traiu e mentiu, ela o fez de idiota completo. Ela trouxe o amante para a casa que a empresa pagava, vivendo uma vida dupla enquanto ele, o marido tolo, trabalhava em casa para construir o futuro deles.
Ele pegou uma das cuecas e a jogou na cama, aos pés dela.
"De quem é isso, Ana? Do fantasma do seu apartamento?"
Ana Lúcia olhou para a peça de roupa e depois para o rosto furioso de João Carlos. Seu rosto ficou vermelho de vergonha. Ela abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. Ela apenas mordeu o lábio, os olhos desviados, incapaz de encará-lo.
"Ele está morando aqui com você, não está?" A voz dele era um rosnado baixo e perigoso. "Enquanto eu ficava em casa, sentindo sua falta, preocupado com você, você estava aqui, brincando de casinha com o seu ex-namorado."
"Não é o que você está pensando..." ela gaguejou, a negação fraca e sem convicção.
"Não?" ele a desafiou. "Então o que é? Ele só vem aqui para medir a sua barriga e depois vai embora? Ele deixa as roupas dele aqui por conveniência? Pare de mentir, Ana Lúcia! Pelo menos uma vez na sua vida, tenha a decência de me dizer a verdade!"
Ela começou a chorar de novo, soluços altos e desesperados, mas para João Carlos, as lágrimas dela não significavam mais nada. Eram apenas mais uma ferramenta de manipulação em seu arsenal.
"Eu... eu não queria ficar sozinha", ela admitiu em um sussurro. "Ele... ele estava cuidando de mim."
"Cuidando de você", repetiu João Carlos, o sarcasmo pingando. "Que comovente. O homem moribundo cuidando da mulher grávida do filho dele, enquanto o marido imbecil paga as contas em outro continente. É uma bela história. Daria um filme."
Ele se sentia sujo, contaminado pela teia de mentiras dela. Cada memória feliz que ele tinha dos últimos cinco anos agora parecia uma farsa. Cada "eu te amo" dela, uma mentira. Ele olhou para a mulher à sua frente, o ventre arredondado, e sentiu um vazio profundo, um abismo de traição que ele sabia que nunca poderia ser transposto.