Ana Paula permaneceu em pé, seu rosto uma máscara de frieza. Ela olhou para a mulher ajoelhada e um calafrio percorreu sua espinha. Era como se estivesse revivendo um pesadelo.
Ela renasceu. Tinha voltado ao dia em que tudo começou, o dia em que os pais de João Pedro vieram à sua casa, implorando.
Na vida passada, ela havia caído nessa armadilha.
Sra. Menezes continuou seu teatro.
"Eu sei que o João Pedro te ama, Ana Paula. Ele sempre te amou. Foi só por causa daquele artigo infeliz que ele escreveu... ele irritou um juiz poderoso, e agora sua vida está em perigo."
Uma risada amarga quase escapou dos lábios de Ana Paula. Amor? João Pedro nunca a amou. Ele era obcecado por outra mulher, Juliana.
"Ele só precisa de um pouco de ajuda para superar isso" , a Sra. Menezes soluçava. "Seu pai é um homem tão influente. Um pequeno favor, uma de suas propriedades para acalmar o juiz... e em troca, João Pedro se casará com você imediatamente."
Na sua vida passada, essas palavras foram música para seus ouvidos. Ingênua e cega de amor, ela havia convencido seu pai a ceder. O Sr. Silva, seu pai, amava-a mais do que tudo e, para vê-la feliz, sacrificou uma de suas propriedades mais valiosas.
O casamento aconteceu. Mas a noite de núpcias foi o início de seu inferno.
A memória a atingiu com a força de um soco no estômago. Ela se lembrava de João Pedro, com um sorriso cruel, empurrando-a para fora do quarto.
"Vá para o clube 'Noites de Seda' ," ele disse, a voz gotejando veneno. "Diga que eu te mandei. Eles vão te tratar muito bem, de graça."
Ela não entendeu no começo. Mas quando chegou ao endereço, o letreiro de néon e as mulheres com pouca roupa na porta deixaram tudo claro. Ele a enviou para um bordel de luxo.
Ela voltou correndo, humilhada, as lágrimas queimando seu rosto.
"Por quê?" , ela gritou.
Ele riu. Um som oco e cruel que ecoaria em seus pesadelos para sempre.
"Se seu pai não tivesse insistido que eu me casasse com você, Juliana não teria me deixado. Este é o preço que sua família Silva paga por afastar Juliana de mim."
Naquele momento, seu coração se partiu em mil pedaços.
"Eu quero o divórcio" , ela sussurrou, a voz quebrada.
"Não tenha pressa" , ele respondeu, com um brilho maníaco nos olhos. "Tenho mais um espetáculo para você."
Três meses depois, seu pai, o honrado Sr. Silva, foi acusado de fraude. A família perdeu tudo. Seus bens foram confiscados, sua reputação destruída. Eles foram jogados na rua, enquanto João Pedro, usando a propriedade que seu pai lhe deu, ganhava a confiança do juiz e subia na vida.
A imagem final daquela vida ainda a assombrava: seu pai, com o coração partido pela ruína e pela dor da filha, sofrendo um ataque cardíaco fulminante e morrendo em seus braços. Sangue por toda parte. O cheiro de desespero.
Ela fechou os olhos com força, afastando a visão horrível. Não. Não desta vez.
"Ana Paula?" A voz de seu pai, Sr. Silva, a trouxe de volta ao presente. Ele estava ao seu lado, preocupado. "Você está bem? Está pálida."
Ela se virou para ele e forçou um sorriso. Ver seu pai vivo, forte e saudável, encheu seu coração de uma determinação feroz. Ela não permitiria que nada daquilo acontecesse novamente.
"Estou bem, papai."
Ela se voltou para a Sra. Menezes, que ainda a olhava com expectativa.
"Levante-se, Sra. Menezes. Sua atuação é convincente, mas eu não estou interessada."
A Sra. Menezes congelou, o queixo caído.
"O que... o que você quer dizer, querida?"
"Eu quero dizer que não vou me casar com João Pedro" , disse Ana Paula, sua voz clara e firme, ecoando pela sala silenciosa. "E minha família não vai dar um único centavo para salvar a pele dele."
O choque no rosto da Sra. Menezes foi quase cômico. Sua expressão de súplica se transformou em descrença e, em seguida, em raiva contida.
"Mas... mas por quê? Eu pensei que você o amava!"
"Eu era uma tola" , respondeu Ana Paula com simplicidade. "Eu cresci. O que João Pedro faz ou deixa de fazer não é problema meu."
"Sua ingrata!" , a Sra. Menezes sibilou, levantando-se. "Depois de todo o tempo que João Pedro passou com você! Você vai simplesmente virar as costas para ele em seu momento de necessidade?"
Ana Paula riu, um som genuíno desta vez, mas sem alegria.
"Tempo que ele passou comigo? Você quer dizer o tempo que ele passou me ignorando enquanto sonhava com Juliana? Ou o tempo que ele usou minha família para seus próprios ganhos?"
Os Menezes ficaram sem palavras. Como ela poderia saber sobre Juliana?
O Sr. Silva olhou para a filha com uma mistura de surpresa e orgulho. Ele nunca a tinha visto tão assertiva.
"Já chega" , disse ele, sua voz firme como uma rocha. "Minha filha já deu a resposta. Por favor, saiam da minha casa."
A Sra. Menezes, vendo que sua tática não funcionaria, mudou de abordagem. Seu rosto se contorceu em um desprezo mal disfarçado.
"Tudo bem. Fique com sua decisão. Mas quando o juiz vier atrás de João Pedro, não diga que não avisamos. Talvez seu precioso império imobiliário não seja tão seguro quanto você pensa."
Era uma ameaça velada. Na vida passada, isso os teria aterrorizado. Mas agora, Ana Paula sabia que era um blefe. O verdadeiro perigo não era o juiz, mas o próprio João Pedro e sua ganância sem limites.
Enquanto os Menezes eram escoltados para fora, humilhados e furiosos, Ana Paula sentiu um peso sair de seus ombros. O primeiro passo estava dado.
Mas ela sabia que isso não seria suficiente. João Pedro era como uma cobra, ele atacaria de outra forma. Ela precisava se proteger, proteger sua família.
E para isso, ela precisava de um aliado.
Seus olhos percorreram a sala e pousaram em uma figura quieta perto da porta.
Pedro. O motorista da família.
Na sua vida passada, ele sempre esteve lá, em silêncio. Um homem leal, de bom coração, que a olhava com uma tristeza que ela só entendeu tarde demais. Ele tinha um amor platônico por ela. Nos seus dias mais sombrios, após a ruína da família, foi Pedro quem conseguiu um pouco de comida para ela, quem a protegeu dos credores, quem esteve ao seu lado até o fim.
Ela também se lembrava de algo mais. Um segredo que só foi revelado no caos do final de sua vida anterior. Pedro não era apenas um motorista. Ele era o filho perdido da Sra. Almeida, uma das mulheres mais poderosas e respeitadas da sociedade, uma figura que poderia esmagar o juiz que João Pedro tanto temia com um estalar de dedos.
Naquela época, a revelação veio tarde demais. Mas agora...
Com uma determinação que surpreendeu a si mesma, Ana Paula caminhou em direção a ele.
"Papai" , disse ela, sem tirar os olhos de Pedro.
"Sim, filha?"
"Eu não vou me casar com João Pedro. Mas eu vou me casar."
O Sr. Silva franziu a testa, confuso. "Com quem?"
Ana Paula parou na frente de Pedro, que a olhava com surpresa e uma ponta de adoração. Ela estendeu a mão para ele.
"Com ele. Eu vou me casar com o Pedro."
O silêncio na sala foi ensurdecedor. O Sr. Silva olhou do motorista para a filha, chocado. Pedro ficou imóvel, seus olhos arregalados, pensando que estava sonhando.
Ana Paula olhou para Pedro, e pela primeira vez em muito tempo, um sorriso genuíno tocou seus lábios. Ela sabia que ele parecia um simples motorista agora. Mas ela conhecia seu verdadeiro valor. Ela conhecia sua nobreza, sua lealdade, seu futuro.
Este homem, que a amou em silêncio em uma vida de dor, seria seu parceiro para construir uma nova vida de justiça e felicidade.