Era uma ordem, não um pedido. Mais uma forma de humilhá-la, forçando-a a registrar a felicidade deles em uma tela.
"Eu não pinto mais" , disse Ana Paula, a voz firme.
A mulher riu. "Ah, você vai pintar." De repente, ela "tropeçou" e derramou sua taça de vinho tinto no vestido de Ana Paula. "Ops. Que desajeitada. Agora você me deve um vestido novo. Ou talvez possa pagar pintando o retrato."
Antes que Ana Paula pudesse responder, a mulher chutou sua canela com força. A dor foi aguda. Ana Paula caiu de joelhos.
"Limpe o meu sapato. Está sujo do seu vinho barato" , a mulher ordenou.
O salão ficou em silêncio. Todos observavam a cena cruel. João Pedro assistia de longe, um sorriso de satisfação no rosto.
Com o coração batendo forte de raiva e humilhação, Ana Paula abaixou a cabeça. Ela não ia lutar. Não aqui. Não agora. Sua vingança seria um prato servido frio. Com o corpo tremendo, ela pegou um guardanapo e limpou o sapato da mulher.
A mulher riu e pisou em sua mão com o salto do sapato. Ana Paula mordeu o lábio para não gritar, sentindo a dor aguda.
"Bom" , disse a mulher, finalmente se afastando. "Não se esqueça do nosso retrato."
Ana Paula se levantou lentamente, a mão latejando, o vestido manchado, sua dignidade em frangalhos aos olhos dos outros. Mas por dentro, uma chama de fúria queimava mais forte do que nunca. Ela caminhou para fora do salão, de cabeça erguida, e desapareceu na noite. Cada passo doloroso era uma promessa a si mesma: eles pagariam. Todos eles.
Alguns dias depois, os jornais da cidade anunciaram em manchetes garrafais: "Casamento do Ano: Herdeiro João Pedro Menezes se casa com a Srta. Lúcia Ferraz em uma cerimônia luxuosa" . Lúcia Ferraz. Era esse o nome da mulher.
A sociedade fervilhava de fofocas. "Pobre Ana Paula Silva, trocada e humilhada." "Dizem que ela teve um colapso nervoso." "Eu ouvi que o motorista a largou também."
Ana Paula ignorou tudo. Ela passou os dias seguintes planejando.
O dia do casamento de João Pedro e Lúcia chegou. Era um evento grandioso, realizado nos jardins de uma propriedade deslumbrante. Ao pensar na cerimônia, Ana Paula não pôde deixar de lembrar de seu próprio casamento com ele na vida passada. Foi um evento pequeno, quase secreto, no cartório. Ele mal olhou para ela. Não houve festa, não houve convidados, apenas a assinatura fria de um papel que selou seu destino trágico.
Um sorriso amargo tocou seus lábios. Hoje, a história seria diferente.
Ela escolheu seu melhor vestido, um vermelho vibrante que contrastava com a palidez que a humilhação deveria ter lhe causado. Ela entrou na festa de cabeça erguida, seu porte confiante atraindo todos os olhares.
João Pedro e Lúcia a viram. Lúcia franziu a testa, irritada com a presença dela.
"O que você está fazendo aqui?" , Lúcia sibilou.
"Vim dar os parabéns ao casal feliz" , disse Ana Paula, com um sorriso doce e venenoso. "E também... para entregar o retrato que você encomendou."
Ela fez um sinal, e um dos funcionários do evento trouxe uma grande tela coberta por um pano.
João Pedro sorriu, presunçoso. "Ah, então você finalmente caiu em si. Vamos ver."
Mas antes que ele pudesse descobrir a pintura, uma comoção começou na entrada.
"A Sra. Almeida está aqui!"
Uma onda de choque percorreu a multidão. Sra. Almeida, a matriarca da família mais poderosa e reclusa do país, raramente aparecia em público. Sua presença em um casamento era uma honra inimaginável.
Todos se curvaram em respeito enquanto uma elegante senhora de cabelos grisalhos, com uma aura de poder inegável, caminhava pelo jardim, cercada por guardas.
João Pedro ficou exultante. Ele correu para cumprimentá-la.
"Sra. Almeida, que honra! Eu sou João Pedro Menezes, o noivo."
Ele se virou e olhou para Ana Paula com um ar de triunfo. Ele acreditava que o pingente de jade que usava era a chave para o favor da Sra. Almeida, a prova de que ele era seu parente perdido.
"Sra. Almeida" , disse João Pedro em voz alta, apontando para Ana Paula. "Esta mulher tem nos causado muitos problemas. Ela se recusa a aceitar o fim do nosso noivado e veio aqui para arruinar meu casamento."
Sra. Almeida olhou para Ana Paula com olhos frios e perscrutadores.
Este era o momento.
Ignorando completamente João Pedro, Ana Paula deu um passo à frente. E então, para o choque de todos, ela se ajoelhou no chão, bem aos pés da Sra. Almeida.
"Sra. Almeida!" , sua voz soou, clara e desesperada. "Eu tenho algo muito importante para lhe dizer! Algo sobre um filho que você perdeu há muito tempo!"
O rosto de João Pedro ficou branco. Lúcia ofegou. A multidão prendeu a respiração.
"Cale a boca!" , João Pedro gritou, tentando puxar Ana Paula para longe. "Seguranças! Tirem essa louca daqui!"
Mas Ana Paula agarrou-se à barra do vestido da Sra. Almeida, seus olhos fixos na mulher poderosa, implorando por uma chance de revelar a verdade.