"Você vai se arrepender disso, Ana Paula."
A voz de João Pedro a assustou. Ele estava parado na entrada do jardim, parecendo ter dormido mal. Seus olhos estavam vermelhos de raiva.
"Eu não acho" , ela respondeu com frieza.
"Você acha que esse seu teatrinho vai funcionar?" , ele cuspiu as palavras. "O juiz não vai esperar para sempre. Ele quer aquela propriedade. E ele vai consegui-la, de um jeito ou de outro!"
Ana Paula notou algo na maneira como ele falou. Um tom de desespero.
"Você parece mais um mensageiro do que um mestre do seu próprio destino, João Pedro. O juiz te deu um prazo, não foi?"
O rosto de João Pedro empalideceu por um segundo, traindo-o. Ele estava sendo pressionado. Ele não era o grande manipulador que pensava ser, apenas um peão em um jogo maior.
"Cale a boca! Você não sabe de nada!"
Ele deu um passo em sua direção, mas parou quando Pedro apareceu, silencioso como uma sombra, ao lado de Ana Paula.
Antes de sair para uma tarefa que o Sr. Silva lhe dera, Pedro se aproximou de Ana Paula.
"Eu preciso ir agora, mas voltarei o mais rápido possível" , disse ele, a voz cheia de preocupação. Ele tirou um cordão do pescoço. Nele, havia um pequeno pingente de jade, esculpido na forma de uma raposa. A pedra era de um verde profundo e parecia quente ao toque.
"Tome. É a única coisa de valor que eu tenho. Minha mãe adotiva disse que estava comigo quando me encontraram. Por favor, fique com ele. Assim, uma parte de mim estará sempre com você."
Ana Paula sentiu o coração aquecer. Ela pegou o pingente, seus dedos roçando os dele.
"É lindo, Pedro. Eu vou cuidar dele."
Ele sorriu, um sorriso genuíno que iluminou seu rosto, e então partiu. Ana Paula segurou o pingente de jade, sentindo uma conexão profunda com aquele objeto e com o homem que o deu.
Mais tarde naquela semana, houve uma grande festa beneficente na cidade, um evento obrigatório para a alta sociedade. O Sr. Silva insistiu que Ana Paula fosse, para mostrar a todos que a família Silva não estava abalada pelos rumores.
Ela concordou, sabendo que precisava começar a construir sua nova reputação.
Na festa, o ar estava cheio de sussurros. As pessoas olhavam para ela, cochichando sobre seu noivado rompido com João Pedro e o novo e escandaloso noivado com o motorista.
E então, ela o viu.
João Pedro entrou no salão de braços dados com uma mulher desconhecida, bonita e arrogante. Eles riram e conversaram, claramente um casal. Ao passarem por Ana Paula, a mulher a olhou de cima a baixo com desdém.
"Então essa é a famosa Ana Paula?" , a mulher disse em voz alta o suficiente para que todos ouvissem. "A garota que foi trocada por um motorista. Que patético."
João Pedro sorriu com maldade.
"Algumas pessoas simplesmente não conhecem seu lugar."
A humilhação era pública, calculada. Ana Paula sentiu os olhares de todos sobre ela, alguns com pena, a maioria com desprezo. Ela cerrou os punhos, sentindo o pingente de jade de Pedro em sua mão. Ela precisava obter informações. Ela precisava saber quem era aquela mulher e qual era o plano deles.
Forçando um sorriso frágil, ela se aproximou.
"João Pedro, podemos conversar por um momento? A sós?"
Ele pareceu surpreso, mas seu ego inflou. Ele provavelmente pensou que ela estava lá para implorar.
"Claro" , disse ele, afastando-se com ela para um canto mais reservado. "Sentiu minha falta tão cedo?"
"Eu só quero entender" , disse ela, fingindo vulnerabilidade. "Por que tudo isso?"
Ele riu. "Porque você e sua família entraram no meu caminho. Mas, sabe, ainda há uma chance para você." Ele se inclinou, sua voz um sussurro conspiratório. "O juiz está impaciente. Se você me ajudar a conseguir aquela propriedade, talvez eu possa te manter por perto. Como uma amiga... especial."
A oferta era nojenta. Mas enquanto ele falava, gesticulando com a mão, algo chamou a atenção dela.
Em volta do pescoço dele, parcialmente escondido pela gola da camisa, estava um cordão. E pendurado nele, um pingente.
Um pingente de jade.
Esculpido na forma de uma raposa.
Era idêntico ao de Pedro.
O sangue de Ana Paula gelou. Sua mente girou. Como? Por quê? O pingente de Pedro era supostamente único, a única pista de seu passado. Como João Pedro poderia ter um igual?
Um milhão de perguntas explodiram em sua mente. Seria uma coincidência? Uma falsificação? Ou... a verdade era algo muito mais chocante e sinistro do que ela jamais poderia imaginar?
Ela olhou do rosto presunçoso de João Pedro para o pingente de jade em seu pescoço. O mundo pareceu inclinar-se sob seus pés. Isso não era apenas sobre uma propriedade ou um amor perdido. Havia um segredo muito maior em jogo, um segredo que poderia mudar tudo.