Destino Escrito em Lágrimas
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Capítulo 2

Sofia mergulhou de cabeça no trabalho na agência de publicidade Nova Era. A rotina agitada era um bálsamo para sua alma ferida. Como recém-contratada, ela estava constantemente ocupada, correndo para entrevistas, redigindo artigos, aprendendo os meandros da agência. Ela mal tinha tempo para pensar em Rafael ou em sua família. E era exatamente isso que ela queria.

Passou-se meio mês. Numa manhã, assim que Sofia entrou na redação, o editor-chefe, um homem mais velho e respeitado chamado Sr. Almeida, convocou todos para uma reunião urgente.

"Atenção, pessoal", disse ele, a voz ressoando pela sala. "A agência decidiu iniciar uma reportagem aprofundada sobre as questões étnicas em regiões fronteiriças. É um projeto de grande importância nacional. Uma equipe especial será estabelecida na fronteira, e precisamos de jornalistas com espírito de sacrifício e dedicação. Alguém se voluntaria?"

Os olhos de Sofia brilharam. Ela se lembrava desse projeto da sua vida passada. As reportagens que saíram dessa iniciativa foram monumentais. Elas trouxeram a atenção do mundo exterior para os problemas enfrentados pelas comunidades na fronteira, impulsionando diretamente a reforma social, o desenvolvimento econômico daquelas regiões e promovendo a unidade nacional. Era um trabalho que tinha um significado real, um propósito.

No entanto, após as palavras do Sr. Almeida, um silêncio desconfortável pairou sobre a sala. Apenas algumas mãos se levantaram hesitantemente. Para a maioria dos jornalistas ali, as regiões fronteiriças eram vistas como lugares pobres, atrasados e perigosos. Ninguém queria ir para lá sofrer, longe do conforto do Rio de Janeiro.

Sob o olhar de todos, Sofia deu um passo à frente, sua decisão tomada em um instante.

"Editor-chefe, eu me voluntario!" sua voz soou clara e firme.

Renascida, Sofia não queria mais ser prisioneira de um casamento sem amor e de uma família que a rejeitava. Ela usaria o tempo que desperdiçou com Rafael na vida passada para fazer algo que importava, para contribuir com o país.

O Sr. Almeida olhou para ela, uma expressão de admiração em seu rosto. Ele a chamou para seu escritório.

Depois de fechar a porta, o editor-chefe hesitou por um momento. "Camarada Sofia, fico muito feliz com sua disposição. Sua coragem é louvável. Mas esta viagem será longa. Pode durar de cinco a mais de dez anos. Você e o gerente Costa se casaram há pouco tempo, ele concordaria com sua partida por tanto tempo?"

Sofia pensou por um momento, mas sua expressão permaneceu determinada. Ela sabia que precisava resolver sua situação com Rafael antes de partir. O divórcio era inevitável.

"Editor-chefe, pode ficar tranquilo", ela garantiu. "Eu resolverei isso."

Recebendo essa garantia, o Sr. Almeida pegou um carimbo e bateu com força em uma ordem de transferência sobre sua mesa. "Ótimo! Então você pode partir depois do Ano Novo!"

Depois do Ano Novo. Faltavam apenas dez dias. Em dez dias, ela poderia deixar Rafael para trás, seguir seus ideais e começar uma nova vida. Só de pensar nisso, Sofia sentiu um peso enorme ser tirado de seus ombros.

Naquela tarde, ela acompanhou um colega mais experiente para fazer uma entrevista em um grupo de dança e teatro local. A entrevista correu bem e, quando terminaram, Sofia estava prestes a ir embora quando seu colega a puxou pelo braço.

"Camarada Sofia, espere. Aquele não é o seu marido, o gerente Costa? Você não quer ir cumprimentá-lo? Mas... quem é aquela mulher ao lado dele?"

Sofia seguiu o olhar do colega e seu coração afundou. Rafael estava lá, em pé e conversando animadamente com o diretor do grupo de dança. E ao lado dele, sorrindo, estava Bia. Sofia nem sabia que ele tinha voltado de sua suposta viagem de trabalho.

Eles não a viram. Ela não sabia o que eles tinham conversado antes, mas de onde estava, pôde ver o diretor do grupo de dança rir alto e apertar a mão de Bia com entusiasmo. A voz do diretor, um pouco alta demais, chegou claramente aos ouvidos de Sofia.

"Já que é uma pessoa indicada pelo gerente Costa, eu com certeza cuidarei bem dela!"

O ar pareceu ficar mais rarefeito. Na vida passada, Sofia sabia que Bia tinha entrado para este grupo de dança, mas ela nunca soube que Rafael a tinha ajudado a conseguir o emprego. Ela se lembrou com uma amargura cortante de como ele era "correto" e "justo". Na vida passada, depois que ela cedeu seu emprego na agência e ficou desempregada em casa, ela timidamente perguntou se ele poderia ajudá-la a encontrar um emprego, qualquer coisa. A resposta dele foi uma recusa severa e cheia de princípios: "Encontrar um emprego depende da sua capacidade. Se você não tem capacidade, não pense em atalhos!"

Mas agora, ali estava ele, usando sua influência para abrir um atalho para Bia. O amor e o não amor eram, de fato, muito diferentes.

Sofia piscou para afastar a dor em seus olhos e forçou um sorriso para o colega. "Ele parece ocupado. Não vou incomodá-lo."

Ela se virou para sair, mas era tarde demais. Bia a notou.

"Sofia! O que você está fazendo aqui?" a voz dela soou falsamente surpresa.

Sofia se virou lentamente enquanto Rafael e Bia se despediam do diretor e caminhavam em sua direção. O colega de Sofia, percebendo o clima estranho, deu uma desculpa rápida. "Camarada Sofia, eu vou indo na frente. Nos vemos na agência."

Ele saiu, deixando-os sozinhos. Quando eles pararam na sua frente, Sofia respondeu calmamente. "Vim para uma entrevista."

Ao ouvir isso, os olhos de Bia escureceram por um momento antes de ela assumir uma expressão de admiração invejosa. "Tenho tanta inveja da Sofia por ter um emprego decente e estável na agência de publicidade. Diferente de mim, que não sei fazer nada e só posso contar com a ajuda do Rafael para conseguir uma chance."

A doçura venenosa em suas palavras era quase palpável. Sofia sorriu levemente, um sorriso que não chegava aos seus olhos.

"Acho que sou eu quem deveria invejar você. Você tem a ajuda do meu marido, enquanto eu só posso contar comigo mesma."

As pessoas do grupo de dança que passavam por perto ouviram o comentário e lançaram olhares curiosos e estranhos na direção deles. O rosto de Bia empalideceu, a máscara de inocência rachando por um segundo.

Rafael imediatamente se virou para Sofia, o rosto fechado de raiva. "Sofia, pare com isso! Eu arranjei esse emprego para a Bia porque você roubou o dela primeiro. Eu só queria que ela pudesse se sustentar. Como esposa de um gerente, seu coração não consegue nem aceitar sua própria irmã?!"

A repreensão indelicada, dita em público, a atingiu. Sofia apertou os dedos, a garganta seca. Ela não disse mais nada. Bia foi rapidamente convidada para dentro para começar seus trâmites no grupo de dança, e Rafael, sem dizer mais uma palavra, agarrou o braço de Sofia e a levou para casa.

No carro, o silêncio era pesado e opressivo. Eles deveriam ser o casal mais íntimo, mas não trocaram uma única palavra durante todo o caminho.

Ao chegarem em casa, Sofia foi direto para o quarto. Ela só queria ficar sozinha. Mas Rafael a chamou antes que ela pudesse fechar a porta, seu tom um tanto estranho, quase forçado.

"Depois que terminei minha missão, comprei um vestido para você em Salvador. Experimente."

Sofia se virou, surpresa. Tanto na vida passada quanto nesta, era a primeira vez que ele lhe dava um presente. E parecia ser a primeira vez que ele cedia, tentando uma espécie de reconciliação. Uma parte dela, a parte antiga e tola, sentiu uma pequena pontada de esperança. Ela acabou não recusando. Pegou o vestido da caixa que ele lhe estendeu e foi para o quarto se trocar.

Quando ela saiu e se olhou no espelho de corpo inteiro da sala, ficou surpresa. O vestido floral vermelho realçava sua figura esbelta. O design acinturado marcava sua cintura fina, tornando-a muito atraente. Sofia não esperava que a roupa lhe caísse tão bem.

Atrás dela, Rafael olhava para sua figura, e seus olhos escureceram um pouco. "O vestido ficou muito bom em você. Você deveria se arrumar mais assim. Aprender com sua irmã, ser como uma mulher de verdade."

O sorriso de Sofia congelou e se desfez. Uma piada. Era tudo uma piada cruel. Até mesmo em um momento como esse, ele a comparava a Bia.

"Na agência de publicidade, preciso me movimentar muito para as reportagens", disse ela, a voz fria como gelo. "Esse tipo de roupa não é adequado."

Dito isso, ela voltou para o quarto, tirou o vestido com movimentos bruscos e o jogou no fundo do armário, como se fosse algo sujo. Ela pegou suas roupas de banho e foi direto para o banheiro, precisando da água quente para lavar a sensação de humilhação.

Cerca de meia hora depois, Sofia voltou para o quarto. Ela olhou para a cama de casal e viu que havia apenas um cobertor. Desde que se casaram, Rafael sugeriu que dormissem em camas separadas, ou pelo menos com cobertores separados. Ele disse que quando estivessem prontos para ter filhos, eles poderiam realmente dormir juntos. Na vida passada, Sofia morreu sem nunca ter dormido na mesma cama que Rafael.

Naquele momento, vendo o único cobertor arrumado na cama, Sofia presumiu que ele dormiria no sofá. Ela estava prestes a pegar seu próprio cobertor no armário. Inesperadamente, assim que ela se virou, Rafael a puxou pelo braço.

"Esta noite, vamos dormir juntos."

Sua voz era rouca, e havia um desejo em seus olhos que ela não via há muito tempo. Se fosse na vida passada, ela teria ficado extasiada. Mas naquele momento, Sofia sentia apenas repulsa.

Ela puxou a mão com força, libertando-se de seu aperto. "Não precisa. Ainda prefiro dois cobertores."

Sem esperar por uma resposta, ela pegou seu cobertor do armário, arrumou-o do seu lado da cama e se deitou, virando as costas para ele.

Rafael ficou parado, olhando para a figura rígida de Sofia deitada na cama. Sua testa estava franzida, a expressão desagradável. "Sofia Mendes, você está muito estranha ultimamente. Antes, você era tão sensata, mas agora parece uma rebelde. Você só fica feliz me desafiando em tudo, não é?"

Sob a luz amarelada do abajur, os olhos de Sofia congelaram. A "sensatez" de que ele falava... Era ela engolindo todas as suas mágoas em silêncio. Era ela suportando a exploração de sua família sem reclamar. Era ela, na vida passada, trabalhando incansavelmente por esse casamento e entregando sua vida, apenas para no final ser considerada um "desperdício de tempo".

Essa "sensatez", ela não a queria mais nesta vida.

Mas Sofia não queria discutir. Ela estava cansada demais para isso. Ela apenas fechou os olhos e disse suavemente, a voz abafada pelo travesseiro. "Talvez seja o trabalho. Muito cansativo."

Ao ouvir isso, Rafael suprimiu a estranha sensação de irritação em seu coração. Ele pensou que talvez fosse apenas sua imaginação, que ela estava realmente cansada. Ele se deitou na cama, do outro lado, o espaço entre eles parecendo um abismo.

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