Sofia não respondeu. Ela caminhou calmamente até a cama e tirou o pedido de divórcio dobrado de sua bolsa. Ela o desdobrou e o colocou sobre o colo de Bia.
"Publicar o pedido de desculpas no jornal ou assinar o divórcio. Você escolhe um."
Bia olhou para o documento, seus olhos se arregalando ao ver a assinatura de Rafael no final. Um lampejo de pura surpresa e ganância passou por seu rosto. Ela não conseguia esconder.
"Você... você está disposta a se divorciar do Rafael?" A voz dela era um sussurro incrédulo.
Sofia apenas a encarou, o silêncio sendo sua única resposta.
Bia, temendo que Sofia mudasse de ideia, pegou o papel como se fosse um tesouro. Ela assentiu rapidamente, a farsa da ponte completamente esquecida. "Ok. Ok! Desde que você se divorcie do Rafael, eu não vou mais te incomodar com essa história do pedido de desculpas."
"Combinado", disse Sofia, a voz firme. "É uma promessa."
Ela pegou o papel de volta e o guardou cuidadosamente em sua bolsa. Ela sabia que não podia confiar em Bia. Ela precisava de um acordo claro.
Nesse exato momento, a porta do quarto se abriu e Rafael entrou. Ao ver Sofia ali, seu rosto se fechou imediatamente. Ele se colocou na frente de Bia como um cão de guarda, o corpo tenso.
"Você veio provocar a Bia de novo?", ele perguntou, a voz baixa e ameaçadora.
O coração de Sofia se apertou por um momento, mas ela se forçou a permanecer indiferente. Antes que ela pudesse responder, Bia, a atriz consumada, rapidamente tomou a iniciativa.
"Rafael, você entendeu mal!", ela disse, a voz soando doce e conciliadora. "A Sofia veio se desculpar comigo!"
Ela continuou, olhando para Rafael com olhos inocentes. "E eu também pensei melhor. Ontem eu estava muito emotiva. Já que a Sofia já me pediu desculpas pessoalmente, eu não quero que ela publique nada no jornal. Não posso prejudicar o trabalho dela."
As palavras de Bia, como sempre, soavam perfeitamente razoáveis e bondosas. A guarda nos olhos de Rafael se dissipou imediatamente, substituída por um alívio visível. Ele se virou para Sofia, ainda com um tom de repreensão.
"A Bia é tão bondosa e compreensiva. Por que você não agradece a ela?"
Sofia olhou para os dois, o protetor e a donzela em perigo. Um sorriso leve e irônico surgiu em seus lábios. "Obrigada."
Sim, ela deveria agradecer a Bia. Agradecer a Bia por finalmente lhe dar a chave para se afastar completamente de Rafael e dessa família tóxica.
Ela passou por ele friamente e saiu do quarto sem olhar para trás.
Mas, ao sair do quarto, mal havia dado dois passos pelo corredor, Rafael a alcançou e a segurou pelo braço.
"Sofia Mendes!"
Ela parou e se virou, os olhos demonstrando uma confusão genuína. "Ainda há algo?"
A expressão de Rafael congelou. Na verdade, ele não sabia por que a havia seguido. Ele não sabia o que dizer a ela. Apenas, no momento em que a viu sair, uma inexplicável e súbita sensação de pânico surgiu em seu coração. Era uma sensação estranha, como se, se ele a deixasse ir embora naquele momento, ele a perderia para sempre.
Então, seu corpo agiu antes que sua mente pudesse processar. Ele a seguiu e a segurou.
A pergunta calma de Sofia o pegou de surpresa. Rafael ficou paralisado por um momento, então, como se se lembrasse de algo para justificar sua ação, ele tirou dois ingressos de cinema do bolso de sua jaqueta.
"A empresa distribuiu ingressos de cinema. No dia de Ano Novo, vamos assistir a um filme juntos."
Sofia olhou para os ingressos em sua mão, e seu coração, contra sua vontade, deu uma pequena vacilada. Na vida passada, seu maior desejo era ter um encontro romântico no cinema com Rafael, como um casal comum. Fazer coisas que casais normais faziam. Mas ela nunca conseguiu realizar esse desejo. Ele estava sempre ocupado, sempre indisponível.
Depois de um longo momento de silêncio, ela pegou os ingressos. Ela não recusou.
"Ok."
Que seja. Que seja para realizar um último e patético desejo da vida passada. E para dar um final adequado a esse amor unilateral entre ela e Rafael.
Depois de sair do hospital com os ingressos de cinema na bolsa, Sofia não hesitou em seus planos por causa daquele pequeno gesto. Ela não se iludiu. Ela foi direto ao departamento de recursos humanos da empresa de Rafael. Não era sua empresa, mas era onde o status de casamento dele, como gerente, era registrado.
Ela entregou o pedido de divórcio que Rafael havia assinado há muito tempo. No pedido, cada palavra foi escrita à mão por ele. A caligrafia era inconfundível. O gerente de RH, um homem de meia-idade que conhecia a situação deles, não desconfiou de nada. O caso conturbado de Sofia, Rafael e Bia não era exatamente um segredo nos círculos sociais da empresa.
O gerente de RH aceitou o pedido de divórcio com um suspiro. "Eu não esperava que vocês chegassem a este ponto, camarada Sofia. Sinto muito. Voltem em uma semana para pegar o certificado de divórcio."
Uma semana depois. Seria o dia de Ano Novo. O dia do encontro no cinema.
Ao sair do prédio do departamento de RH, Sofia olhou para cima. O tempo, que estava chuvoso e cinzento por mais de meio mês, havia finalmente clareado. A luz do sol que caía das nuvens parecia dissipar a escuridão que pairava em seu coração por duas vidas.
Sofia sorriu, um sorriso genuíno pela primeira vez em muito tempo.
Rafael, eu te dou a sua liberdade. E também a minha.
Os dias seguintes passaram em um piscar de olhos. O tempo ocupado no trabalho era a melhor distração. Sofia não prestou mais atenção a Rafael ou a Bia. Ela se dedicou totalmente a finalizar seus projetos na agência. Ela queria tentar terminar todo o seu trabalho pendente antes de partir para a fronteira.
31 de dezembro de 2005. A véspera de Ano Novo.
Sofia rasgou a última página do calendário de parede e colocou o novo calendário de 2006. Embora o Ano Novo Lunar chinês, que sua família às vezes celebrava por tradição, ainda não tivesse chegado, pelo calendário ocidental, já era um novo começo. Amanhã seria um novo ano. E ela finalmente começaria uma nova vida.
Naquela noite, Sofia preparou um jantar farto para si mesma. Depois de hesitar por um longo momento, ela abriu o armário e pegou o vestido que Rafael havia lhe dado, que estava amassado no fundo.
Não tinha mais nada a ver com Rafael. Ela apenas queria deixar uma última e bela lembrança de seu amor unilateral. Era uma despedida para si mesma. Então, Sofia planejava usar o vestido no dia seguinte para ir ao cinema. Um último ato simbólico antes de fechar este capítulo de sua vida para sempre.
Nesse momento, ouviu-se o som da chave na porta. Rafael havia voltado.
Sofia saiu do quarto e viu que ele não estava sozinho. Bia e a mãe de Sofia também haviam entrado com ele, carregando sacolas de comida.
Rafael explicou a ela, o tom casual. "A Bia recebeu alta do hospital hoje. A família vai jantar aqui para celebrar. Amanhã é feriado, então será mais animado com todo mundo junto."
Sofia não se surpreendeu. Desde a morte de seu pai, anos atrás, Rafael sempre convidava sua mãe e Bia para passar as festas com eles. Era uma tradição.
Sofia assentiu, sem objeções. "Ok."
Ela estava prestes a fechar a porta de seu quarto para voltar a se arrumar, mas Bia, com seus olhos aguçados, viu o vestido floral vermelho estendido em sua cama.
"Nossa, Sofia, que vestido lindo!", ela exclamou, a inveja clara em sua voz.
Dizendo isso, Bia entrou no quarto sem ser convidada, pegou o vestido e o segurou contra seu próprio corpo, admirando-se no espelho.
A mãe de Sofia imediatamente concordou, com um sorriso largo. "Esse vestido deve ficar perfeito na Bia! Combina muito mais com ela!"
Sofia ainda não havia tido a chance de responder, de dizer que o vestido era um presente para ela, quando ouviu a voz de Rafael, casual e desinteressada.
"Bia, se você gostou, pode ficar com ele."
O corpo de Sofia congelou. Ela olhou para Rafael, incrédula. Ele estava dando o presente que deu a ela para outra pessoa, bem na sua frente.
Bia, com o rosto radiante de felicidade, se virou para Sofia, fingindo perguntar. "A Sofia também concorda em me dar, não é?"
Antes que Sofia pudesse falar, Rafael explicou, como se fosse a coisa mais lógica do mundo. "Sua irmã disse da última vez que não usa vestidos, então guardá-lo seria um desperdício. É perfeito para você."
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