O Preço da Ganância Familiar
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Capítulo 3

A paz durou pouco. Dois dias depois, minha mãe me ligou novamente. Sua voz, desta vez, era ainda mais doce, o que era um péssimo sinal.

"Filhinha, que bom que nos entendemos sobre a casa. Mostra que você tem um bom coração."

Eu não respondi. Apenas esperei.

"Mas, sabe, seu pai e eu estávamos fazendo umas contas... e a casa, por si só, talvez não seja suficiente para garantir o futuro dele como gostaríamos."

Um calafrio percorreu minha espinha. "Onde você quer chegar, mãe?"

"Bem, pensamos no apartamento da sua avó", ela disse, sem rodeios. "Seria perfeito. Poderíamos alugá-lo e usar o dinheiro para a educação dele. Uma escola particular de primeira, aulas de inglês, intercâmbio no futuro... Coisas que nós nunca pudemos te dar."

A última frase foi dita com uma pontada de falsa melancolia, uma tentativa barata de me fazer sentir culpada. Eu fiquei em silêncio, tentando absorver a audácia daquilo. Eles queriam a casa e o apartamento. Eles queriam tudo.

"O apartamento? O apartamento que a vovó me deu? Vocês querem que eu dê o meu apartamento para ele?"

"Não é 'dar', filha. É 'investir' no futuro da família. Ele é seu irmão. Você não quer o melhor para ele?"

A raiva que eu vinha reprimindo por dias finalmente explodiu. Uma onda de calor subiu pelo meu corpo, e as palavras saíram antes que eu pudesse contê-las.

"Não. Absolutamente não."

"Sofia, não seja egoísta..."

"Egoísta? Eu sou egoísta?", gritei no telefone, fazendo Pedro olhar para mim, assustado. "Vocês nunca me deram nada! Eu trabalhei desde os 16 anos para ter minhas coisas! A vovó me deu aquele apartamento porque sabia que eu nunca poderia contar com vocês! Ela me fez prometer que eu cuidaria dele, que seria a minha segurança!"

Eu me lembrava perfeitamente do dia em que minha avó me entregou os documentos. Eu tinha 18 anos, estava prestes a me mudar para a faculdade. Ela me abraçou e disse, com os olhos cheios de lágrimas: "Minha neta, este mundo é duro para as mulheres. Quero que você tenha o seu lugar, um lugar que ninguém possa tirar de você. Prometa que vai usá-lo para construir a sua independência." Eu prometi. E agora meus pais queriam que eu quebrasse essa promessa para sustentar as escolhas irresponsáveis deles.

"Vocês já me fizeram concordar em deixar a casa para ele, uma casa que também é minha por direito!", continuei, a voz embargada. "Isso não é suficiente?"

"Sofia, você está sendo dramática", disse minha mãe, a voz agora fria como gelo. "É sua obrigação como filha e irmã. Nós te demos a vida."

"Vocês me deram a vida, mas nunca me deram apoio! Nunca se importaram com a minha educação, com o meu casamento, com nada! Mas agora que vocês decidiram ter um filho na velhice, esperam que eu pague a conta? Que eu sacrifique o futuro do meu próprio filho para bancar o seu 'príncipe'?"

"Não fale assim do seu irmão!", a voz dela se elevou. "Você tem um marido, tem o seu emprego. Você está bem. Ele não terá ninguém além de nós, e nós não somos eternos. Você precisa garantir o futuro dele."

"Eu não preciso fazer nada!", respondi, firme. "O apartamento é meu. Fim de conversa."

Desliguei o telefone com as mãos tremendo. Eu estava ofegante, o coração batendo descontroladamente. Pedro me abraçou, me segurando firme enquanto eu chorava de raiva e frustração. Pela primeira vez na vida, eu tinha dito "não" aos meus pais. E a sensação era aterrorizante e libertadora ao mesmo tempo. Eu sabia que aquela recusa era uma declaração de guerra.

            
            

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