O Preço da Ganância Familiar
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Capítulo 4

A reação não tardou. Vinte minutos depois, o telefone tocou de novo. Era meu pai. Sua voz era um trovão.

"Que história é essa de desrespeitar sua mãe? Quem você pensa que é, Sofia?"

"Pai, eu não vou dar o meu apartamento. É a minha decisão."

"Sua decisão? Você não tem o direito de tomar essa decisão sozinha! Somos seus pais! Você nos deve obediência!", ele gritou.

Pedro pegou o telefone da minha mão. "Sr. Jorge, por favor, se acalme. A Sofia está grávida, não pode passar por esse estresse."

"Você cale a boca!", meu pai rosnou do outro lado da linha. "Isso é um assunto de família. Você é um estranho, não se meta onde não é chamado!"

"Eu sou o marido dela. A família dela sou eu agora. E não vou permitir que vocês a tratem assim", disse Pedro, com uma calma que me surpreendeu.

Ouvi minha mãe pegar o telefone. "Sofia, sua ingrata! Depois de tudo que fizemos por você! Eu estou aqui, com 53 anos, passando por uma gravidez de risco para dar um herdeiro para esta família, e você me vira as costas por causa de um imóvel?"

"Gravidez de risco?", repeti, incrédula. "Vocês decidiram ter um filho agora, não eu! Vocês criaram essa situação! E eu também estou grávida! Eu também tenho um filho a caminho! Ou vocês já se esqueceram dele?"

"Não compare as coisas", disse ela. "Um filho homem é diferente. Ele carrega o nome da família. É uma responsabilidade maior."

A frase me atingiu como um soco no estômago. O preconceito, a preferência descarada. Então era isso. Meu filho, o filho de Pedro, não importava tanto porque eu era mulher. O filho deles era o que valia, o herdeiro.

"Se vocês continuarem com essa loucura, eu vou ligar para a tia Helena e contar tudo", ameacei, citando a irmã mais velha do meu pai, a única pessoa na família que ele respeitava e temia.

"Você não se atreveria...", começou meu pai.

"Me atreveria sim! Vou contar que vocês querem tirar o presente que a vovó me deu para bancar o filho de vocês!", eu disse, sentindo uma dor aguda na barriga. O estresse estava começando a me afetar fisicamente. Tive que me sentar.

"Vocês me acusaram a vida inteira de ser uma despesa", continuei, a voz falhando. "Agora querem que eu seja o investimento de vocês? Que hipocrisia é essa?"

A dor na minha barriga aumentou, uma pontada forte que me fez perder o fôlego. Pedro desligou o telefone e correu para o meu lado.

"Sofia, você está bem? Está pálida."

"Minha barriga... está doendo muito", gemi.

Eu olhei para a porta da nossa casa, a casa que eu e Pedro construímos com nosso esforço, nosso amor. E percebi, com uma clareza dolorosa, que na casa dos meus pais, na minha família de origem, não havia mais lugar para mim. Eu era uma peça a ser usada, um recurso a ser explorado. E, ao me recusar, eu me tornei um obstáculo.

A última coisa que ouvi antes de Pedro me ajudar a levantar para irmos ao hospital foi a voz da minha mãe ecoando na minha cabeça, a voz da tradição podre que eles usavam para justificar sua ganância: "É seu dever, Sofia. A irmã mais velha sempre se sacrifica pelo irmão mais novo."

Mas eu não iria me sacrificar. Não mais. Saí da minha casa não apenas para ir ao hospital, mas para romper, de uma vez por todas, com aquele passado tóxico.

                         

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