Destruição de Obras, Destruição de Alma
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, a atmosfera na casa dos Silva era pesada. Ana desceu para o café da manhã com olheiras profundas, mas uma calma exterior que desconcertou a todos. Ela não gritou, não chorou, não acusou ninguém. Ela simplesmente sentou-se à mesa, em silêncio.

Ela decidiu esperar. Deixar Patrícia pensar que tinha vencido a primeira batalha. A observação era sua melhor arma agora.

Patrícia entrou na cozinha, com um ar falsamente preocupado.

"Ana, querida, eu soube do seu forno. Que coisa terrível! Eu sinto muito mesmo."

Havia um sorriso mal contido em seus lábios, um brilho de satisfação em seus olhos. Ela se aproximou e tocou o ombro de Ana.

"Se precisar de qualquer coisa, me diga."

A ironia era tão espessa que Ana quase engasgou. Ela apenas assentiu, mantendo o papel da vítima abalada.

"Obrigada, Patrícia."

O Sr. Silva pigarreou, interrompendo o momento.

"Bom, o Dr. Ricardo concordou em nos encontrar hoje. Todos nós. Para... esclarecer as coisas."

A Sra. Silva acrescentou rapidamente, olhando para as duas.

"Decidimos que é melhor irmos em carros separados, para evitar qualquer... desconforto. Patrícia, você vem conosco. Ana, você pode pegar um ônibus, certo? É melhor assim."

O coração de Ana deu um salto. Era exatamente como no sonho. Naquela outra vida, ela obedecia. Pegava o ônibus, que quebrava no caminho. Ela chegava atrasada, suja e desesperada, enquanto Patrícia já tinha tido horas para encantar o Dr. Ricardo com suas mentiras. O atraso de Ana foi interpretado como falta de interesse e desrespeito, selando seu destino.

Mas desta vez seria diferente.

"Claro", disse Ana com a voz mansa. "Eu vou de ônibus."

Enquanto se levantava da mesa, Patrícia a seguiu até a porta.

"Espere, Ana", disse ela, estendendo um sanduíche embrulhado em um guardanapo. "Fiz para você. Para a viagem. Você não comeu nada."

Ana olhou para o sanduíche. No sonho, ela o comia. Continha um laxante forte. Ela passava mal no ônibus, tornando sua chegada ao encontro ainda mais humilhante.

Ela pegou o sanduíche, forçando um sorriso de gratidão.

"Nossa, Patrícia... você não precisava. Muito obrigada."

Ela segurou o sanduíche com firmeza. Era a prova. A prova da maldade de Patrícia.

Ana saiu de casa e caminhou em direção ao ponto de ônibus, como esperado. Assim que dobrou a esquina, viu o carro dos Silva passar por ela. Patrícia, no banco do passageiro, olhou para trás e sorriu, um sorriso de vitória.

Foi então que o inesperado aconteceu. O Sr. Silva, que estava no banco de trás, abriu a janela. Ele parecia irritado.

"Que cheiro estranho é esse? Vem desse sanduíche que você deu para a Ana?", ele perguntou à Patrícia.

Antes que Patrícia pudesse responder, o Sr. Silva, impaciente, arrancou o sanduíche da mão de Ana que ainda estava visível pela janela enquanto ela andava.

"Deixa eu ver isso."

Ele cheirou o embrulho e fez uma careta.

"Isso está estragado. Joga fora!"

Sem pensar duas vezes, ele arremessou o sanduíche na lixeira mais próxima na calçada. Patrícia ficou pálida, sem conseguir protestar.

Ana observou a cena, escondendo um sorriso. Às vezes, a ignorância e a grosseria do Sr. Silva podiam ser úteis. Uma pequena vitória que o universo lhe dera.

Ela continuou andando até o ponto de ônibus, esperou o carro dos Silva sumir de vista e então deu meia-volta. Caminhou na direção oposta, sacou o celular do bolso e chamou um táxi. Ela tinha algum dinheiro guardado, economizado de pequenas vendas que os Silva não sabiam.

Dentro do táxi, a caminho do escritório do Dr. Ricardo, Ana se permitiu relaxar pela primeira vez. Ela não estava mais seguindo o roteiro do pesadelo. Ela estava escrevendo sua própria história. E ela chegaria primeiro.

            
            

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