A Primavera de Maria
img img A Primavera de Maria img Capítulo 1
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

João chegou em casa tarde da noite, trazendo consigo o cheiro de álcool e do perfume de outra mulher.

Quando ele entrou, eu estava sentada no sofá da sala, com a casa toda às escuras, exceto pela luz fria da tela da televisão.

Ele ligou a luz do corredor, a claridade repentina me fez piscar.

"Por que está no escuro? Quase tropecei."

A voz dele estava carregada de impaciência, a mesma que eu vinha ouvindo há meses.

Eu não respondi à sua pergunta, em vez disso, fiz a minha.

"Ouvi dizer que você e a Joana andam bem próximos."

Minha voz saiu calma, mas cada palavra pesava uma tonelada.

João parou de tirar os sapatos, seu corpo enrijeceu por um segundo. Depois, ele soltou um longo suspiro, um som de puro cansaço.

"Maria, eu estou exausto. Tivemos um jantar de equipe, foi só isso. Você pode parar de ouvir fofocas?"

Ele veio em minha direção, sentou-se na beirada do sofá e tentou pegar minha mão, mas eu a afastei.

"Não são fofocas, João. As pessoas estão comentando."

"Que se danem as pessoas", ele disse, esfregando o rosto. "O que importa é o que eu digo. Amanhã tem o evento de família da empresa, você vai comigo. Vamos mostrar a todos que estamos bem."

Ele estava tentando consertar as coisas, mas da maneira dele: com uma performance pública, uma solução superficial que ignorava a ferida aberta entre nós.

Eu senti um nó na garganta, uma sensação pesada de algo que eu não conseguia engolir. Mas, por algum motivo, eu concordei.

"Tudo bem."

Talvez uma parte de mim ainda quisesse acreditar que poderíamos consertar isso.

Mais tarde, na cama, ele se virou para mim. O cheiro de álcool em seu hálito era forte. Ele me abraçou, sua mão se movendo pelo meu corpo com uma familiaridade que agora parecia estranha, forçada.

"Ainda somos marido e mulher, Maria", ele sussurrou no meu ouvido.

Para ele, talvez aquilo fosse uma prova de que o casamento ainda existia, um ritual para manter a estrutura de pé. Para mim, parecia uma obrigação, um favor que ele me fazia depois de passar a noite sabe-se lá onde, com sabe-se lá quem.

Eu fechei os olhos, o corpo tenso, enquanto a lua lá fora parecia cansada e indiferente.

Eu não conseguia mais aguentar. O nome dela estava na ponta da minha língua, queimando.

"Você defende tanto a Joana", eu disse, a voz baixa, mas cortante no silêncio do quarto. "Por quê?"

O corpo dele congelou. O clima mudou instantaneamente, o ar ficou pesado, elétrico.

Ele se afastou de mim bruscamente, sentando-se na cama.

"O que você está insinuando?"

"Não estou insinuando nada. Estou perguntando."

Por um longo momento, ele ficou em silêncio. Então, a raiva explodiu.

"VOCÊ ESTÁ LOUCA?", ele gritou, a voz ecoando pelo quarto. "EU TENTO VOLTAR PARA CASA, TENTO CONSERTAR ESSA MERDA DE CASAMENTO, E É ISSO QUE EU RECEBO? ACUSAÇÕES? SUSPEITAS?"

Ele se levantou, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado.

"Você não aguenta me ver fazendo sucesso, é isso? Precisa criar um drama? Precisa estragar tudo?"

Ele me olhava com um desprezo que eu nunca tinha visto antes, como se eu fosse a culpada, a louca, a única responsável pela rachadura que estava partindo nossa vida ao meio.

"Qual é o seu problema, Maria? O que você quer, afinal?"

            
            

COPYRIGHT(©) 2022