A Primavera de Maria
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Capítulo 2

Eu fiquei ali, sentada na cama, assistindo à sua fúria. E eu sabia o que eu queria.

Eu queria arrancar a máscara dele.

Queria que ele admitisse a verdade, que parasse de se esconder atrás da fachada de bom marido, de homem incompreendido. A injustiça me sufocava.

Nossa história não começou assim.

Nós nos conhecemos na faculdade. Eu era a garota popular, extrovertida, cheia de amigos. João era o oposto: quieto, estudioso, com uma ambição que queimava em seus olhos. Nossas personalidades se completavam. Eu o ajudei a se soltar, a fazer contatos. Ele me deu um senso de propósito, um futuro para planejar.

Casamos logo depois da formatura. Foi um dia feliz, cheio de promessas.

João entrou em uma grande empresa de tecnologia, mas seu começo foi difícil. Ele era tecnicamente brilhante, mas péssimo em lidar com pessoas. Ele não entendia a importância das relações, dos pequenos favores, da política do escritório.

Foi aí que eu entrei. Eu, que tinha largado minha própria carreira promissora em relações públicas, usei todo o meu talento para ajudá-lo.

Eu fazia bolos e doces e os mandava para o escritório dele, com bilhetes simpáticos para seus chefes e colegas.

"Isso é perda de tempo, Maria", ele dizia no começo, com um certo desdém.

Mas não era. As pessoas começaram a vê-lo de forma diferente. O "esquisitão" técnico passou a ser o cara legal cuja esposa fazia o melhor pão de mel da cidade. Ele começou a ser convidado para almoços, para happy hours. As portas começaram a se abrir.

Minhas habilidades de "relações públicas domésticas" funcionaram melhor do que qualquer estratégia de networking.

Em poucos anos, o salário e os bônus dele dispararam. Ele foi promovido uma, duas, três vezes. Nós compramos um apartamento maior, um carro melhor. A vida era boa.

Quando nossa filha, Sofia, nasceu, decidimos juntos que eu ficaria em casa.

"Com o que eu ganho, você não precisa trabalhar", ele disse. "Concentre-se em cuidar da Sofia e da casa."

Eu concordei. Na época, pareceu a decisão certa. Eu me convenci de que estava investindo na nossa família, no nosso futuro. Eu era a base sobre a qual ele construía seu império.

E então, um dia, há cerca de dois anos, o nome dela apareceu.

Eu estava ajudando João a organizar alguns relatórios de trabalho em casa. No final de um deles, na assinatura digital, eu vi: "Joana".

"Joana", eu disse em voz alta, brincando. "Que nome bonito. Deve ser uma moça bonita."

Eu esperava que ele risse ou concordasse casualmente. Em vez disso, o rosto dele se fechou. Ele pegou o relatório da minha mão com uma rapidez desnecessária.

"Não faça piadas com meus colegas de trabalho", ele disse, a voz séria demais. "É falta de profissionalismo."

Fiquei surpresa com a sua reação. Foi desproporcional. Um alarme silencioso soou em algum lugar no fundo da minha mente, mas eu o ignorei. Eu confiava nele. Confiava na nossa vida, na nossa história.

Naquele momento, eu não sabia.

Eu não sabia que estava vivendo em uma mentira, que uma correnteza escura já corria por baixo da superfície calma da nossa vida, pronta para me arrastar.

            
            

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