A Primavera de Maria
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Capítulo 4

Meu primeiro pensamento foi negação.

Isso não podia ser real. Tinha que ser um pesadelo, uma piada doentia.

Eu me levantei da cadeira, as pernas bambas. Eu precisava vê-lo. Precisava ouvir da boca dele que tudo aquilo era mentira.

Sem pensar, peguei as chaves do carro e saí correndo de casa, sem nem trocar de roupa. Eu sabia que a equipe dele costumava ir a uma churrascaria perto do escritório depois do trabalho.

Eu dirigi como uma louca, a chuva batendo no para-brisa.

Eu o encontrei.

Ele estava em uma grande mesa no fundo do restaurante, rindo com um grupo de colegas. E ao lado dele, estava ela.

Eu nunca a tinha visto pessoalmente, mas a reconheci pelas fotos que vi no arquivo da empresa. Cabelos longos e lisos, um rosto que parecia delicado, inocente. Um colega fez uma piada, e ela riu, inclinando a cabeça no ombro de João de uma forma que era íntima demais.

Meu coração afundou. A negação se transformou em uma raiva fria e cortante.

Então, eu vi algo que fez meu sangue ferver.

Um dos colegas levantou um copo de cerveja para brindar com João. Eu sabia que João tinha problemas de estômago. Eu passei anos cuidando da saúde dele, preparando comidas especiais, lembrando-o de não beber, de não comer coisas gordurosas.

Ele pegou o copo, mas antes que pudesse beber, Joana o deteve com um toque suave no braço. Ela disse algo que não consegui ouvir, e então, ela pegou o copo da mão dele e bebeu por ele, virando tudo de uma vez.

Os colegas aplaudiram. João olhou para ela com um sorriso cheio de admiração e carinho.

Naquele momento, algo dentro de mim se partiu.

Eu passei anos cuidando do estômago dele, da saúde dele, da carreira dele. E ele, para fazer sua "amada" sorrir, para se exibir para os amigos, deixava que ela fizesse aquele teatro, ignorando todo o meu cuidado, todo o meu sacrifício.

Meu cérebro desligou. Uma fúria branca tomou conta de mim.

Eu marchei até a mesa deles. O barulho das minhas passadas fez algumas pessoas se virarem. João me viu, e o sorriso em seu rosto desapareceu, substituído por pânico.

Eu não disse uma palavra. Apenas peguei o copo de cerveja da mão de Joana com um movimento brusco e o espatifei no chão.

O som do vidro se quebrando ecoou pelo restaurante. O silêncio caiu sobre a mesa.

"SEUS CACHORROS!", eu gritei, a voz rouca de ódio. "SEUS TRAIDORES IMUNDOS!"

Joana, com um timing perfeito de atriz, soltou um grito agudo e se jogou para trás, caindo da cadeira como se eu a tivesse empurrado com força. Ela bateu a cabeça na mesa ao lado e começou a chorar, dizendo que a testa dela estava queimando.

João não olhou para mim. Ele nem sequer hesitou.

"JOANA!", ele gritou, correndo para o lado dela, o pânico em sua voz era todo para ela.

Ele se ajoelhou, tentando ajudá-la. No processo, ele me empurrou para o lado com força para abrir caminho. Eu perdi o equilíbrio e caí para trás, minha mão batendo nos cacos de vidro no chão.

Senti uma dor aguda. Olhei para baixo e vi o sangue escorrendo da minha palma.

Mas a dor física não era nada comparada à dor no meu peito.

Ele me empurrou. Ele me machucou para proteger a amante dele.

De joelhos no chão, sangrando, eu olhei para os dois e continuei a gritar, expondo tudo para quem quisesse ouvir.

"EU VI A PASTA, JOÃO! EU VI TUDO! DOIS ANOS DE MENTIRAS! VOCÊS DOIS SÃO NOJENTOS!"

O restaurante estava em caos. As pessoas nos olhavam, chocadas. Mas eu não me importava. Meu mundo já tinha acabado. Eu ia garantir que o deles também acabasse.

                         

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