Entre eles, em um pedestal de veludo, estava o drive de segurança. O legado de sua mãe.
O leiloeiro, um homem com um bigode perfeitamente penteado, falava com uma voz untuosa.
"...e agora, um item de importância histórica e científica sem precedentes. Apresentado por Bruna Arruda, a herdeira do legado de sua falecida sogra, a brilhante Dra. Helena Arruda. Este é o projeto de uma vida, oferecido hoje como uma herança de família."
"Mentira!", a palavra rasgou a garganta de Caio antes que ele pudesse se conter.
Todos os olhares se viraram para ele. O silêncio caiu sobre a sala.
Caio caminhou para a frente, seus passos ecoando no chão de mármore.
"Isso não é uma herança! É propriedade roubada! Minha mãe foi assassinada por isso!"
Bruna empalideceu por um segundo, mas rapidamente recompôs sua máscara de calma. Ela olhou para o leiloeiro com uma expressão de tristeza e preocupação.
"Por favor, perdoem meu marido", disse ela, sua voz tremendo com uma emoção falsa. "Ele não está bem desde a morte de sua mãe. O luto o afetou profundamente."
O leiloeiro franziu a testa para Caio.
"Senhor, por favor, contenha-se. Esta é uma propriedade privada."
"Contenha-me?", Caio riu, um som que beirava a histeria. "Aquela mulher no palco está tentando vender o trabalho da vida da minha mãe, que foi assassinada há menos de um mês! E eu devo me conter?"
Ele apontou um dedo trêmulo para Bruna.
"Pergunte a ela como ela conseguiu isso! Pergunte a ela por que a polícia ainda está investigando a morte da minha mãe como um homicídio!"
Thiago deu um passo à frente, colocando-se protetoramente na frente de Bruna. Ele se dirigiu à multidão com uma expressão de profunda dor.
"É uma tragédia", disse ele, sua voz embargada. "Caio tem sofrido com delírios. Ele acusa a todos. É por isso que Bruna, sua amorosa esposa, decidiu que o melhor seria garantir que a pesquisa de Helena caísse em boas mãos, para que seu trabalho não se perdesse em meio a essa confusão."
Era uma performance magistral. A multidão murmurava em simpatia, olhando para Caio com uma mistura de pena e desconfiança. Ele era o louco, o homem de luto que perdeu a razão.
"Seguranças!", o leiloeiro chamou, sua paciência esgotada.
Dois homens enormes, vestidos de preto, se moveram em direção a Caio. Ele não recuou.
"Você não pode fazer isso, Bruna! É o sangue dela nesse projeto!", ele gritou, sua voz quebrando.
Os seguranças o agarraram pelos braços, suas mãos como garras de aço. Eles começaram a arrastá-lo para fora, seus sapatos fazendo barulho no chão polido.
"Parem! Me soltem! Ladrões! Assassinos!", ele lutava, mas era inútil.
Eles o jogaram para fora, em um beco frio e fedorento nos fundos do salão de leilões. Caio caiu de joelhos sobre o concreto úmido, o ar sendo expulso de seus pulmões.
A porta se abriu novamente. Não era um segurança. Era Thiago.
Ele se aproximou lentamente, o sorriso falso substituído por um desprezo cruel.
"Você realmente não sabe quando desistir, não é, Caio?"
Caio se levantou com dificuldade, apoiando-se na parede de tijolos.
"O que você fez, Thiago? O que vocês dois fizeram?"
Thiago riu, um som baixo e ameaçador.
"Sua mãe era uma mulher teimosa. Ela não queria compartilhar a glória. Ela não entendia de negócios. Bruna e eu, nós entendemos."
O sangue de Caio gelou. Não era uma suposição. Era uma confissão.
"Foi você", sussurrou Caio. "Você estava lá. Você a matou."
Thiago deu de ombros, um gesto casual que era mais chocante do que qualquer grito.
"Ela reagiu. Foi uma pena. Mas o progresso exige sacrifícios."
Ele se aproximou mais, invadindo o espaço pessoal de Caio. Sua voz baixou para um sussurro venenoso.
"E agora, você vai ser o próximo sacrifício. Ninguém vai acreditar em você. Você é apenas o marido louco. E quando encontrarmos seu corpo em alguma vala, todos vão dizer que o pobre Caio finalmente sucumbiu à dor."
A raiva cega tomou conta de Caio. Ele se lançou contra Thiago, um grito de fúria pura em seus lábios.
Mas Thiago estava preparado. Ele se esquivou e acertou um soco brutal no estômago de Caio. Caio dobrou-se, ofegante. Thiago o agarrou pelos cabelos e bateu sua cabeça contra a parede de tijolos. Uma, duas, três vezes.
Luzes explodiram atrás dos olhos de Caio. O mundo girou. Ele caiu no chão, o gosto de sangue e poeira em sua boca.
Através de sua visão turva, ele viu a porta do beco se abrir novamente. Bruna estava lá, parada na luz, seu vestido vermelho como uma mancha de sangue na escuridão. Ela olhava para a cena sem nenhuma expressão, como se estivesse assistindo a um filme desinteressante.
Thiago chutou as costelas de Caio com força. Caio gritou.
"Bruna...", ele engasgou, estendendo uma mão ensanguentada em sua direção. "Por favor..."
Ela apenas o observou. Então, ela se virou e caminhou de volta para dentro do salão de leilões, fechando a porta atrás de si, deixando-o na escuridão com o homem que destruiu sua vida.
Thiago se agachou ao lado dele.
"Viu? Ela não se importa. Nunca se importou."
Ele acertou mais um soco no rosto de Caio, e a escuridão finalmente o engoliu por completo.
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