Descanse em Paz, Mãe
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Capítulo 2

A sala de leilões era um mar de rostos ricos e entediados, o ar espesso com perfume caro e a ganância silenciosa dos privilegiados. Caio se sentia completamente fora de lugar em seu terno amassado, o único que possuía. Seu coração batia forte contra as costelas, um tambor de guerra anunciando o confronto iminente.

No palco, sob as luzes brilhantes, estavam Bruna e Thiago. Bruna, em um vestido vermelho estonteante, sorria para a multidão, a imagem da viúva graciosa e forte. Thiago, ao seu lado, parecia o assistente leal e solidário.

Entre eles, em um pedestal de veludo, estava o drive de segurança. O legado de sua mãe.

O leiloeiro, um homem com um bigode perfeitamente penteado, falava com uma voz untuosa.

"...e agora, um item de importância histórica e científica sem precedentes. Apresentado por Bruna Arruda, a herdeira do legado de sua falecida sogra, a brilhante Dra. Helena Arruda. Este é o projeto de uma vida, oferecido hoje como uma herança de família."

"Mentira!", a palavra rasgou a garganta de Caio antes que ele pudesse se conter.

Todos os olhares se viraram para ele. O silêncio caiu sobre a sala.

Caio caminhou para a frente, seus passos ecoando no chão de mármore.

"Isso não é uma herança! É propriedade roubada! Minha mãe foi assassinada por isso!"

Bruna empalideceu por um segundo, mas rapidamente recompôs sua máscara de calma. Ela olhou para o leiloeiro com uma expressão de tristeza e preocupação.

"Por favor, perdoem meu marido", disse ela, sua voz tremendo com uma emoção falsa. "Ele não está bem desde a morte de sua mãe. O luto o afetou profundamente."

O leiloeiro franziu a testa para Caio.

"Senhor, por favor, contenha-se. Esta é uma propriedade privada."

"Contenha-me?", Caio riu, um som que beirava a histeria. "Aquela mulher no palco está tentando vender o trabalho da vida da minha mãe, que foi assassinada há menos de um mês! E eu devo me conter?"

Ele apontou um dedo trêmulo para Bruna.

"Pergunte a ela como ela conseguiu isso! Pergunte a ela por que a polícia ainda está investigando a morte da minha mãe como um homicídio!"

Thiago deu um passo à frente, colocando-se protetoramente na frente de Bruna. Ele se dirigiu à multidão com uma expressão de profunda dor.

"É uma tragédia", disse ele, sua voz embargada. "Caio tem sofrido com delírios. Ele acusa a todos. É por isso que Bruna, sua amorosa esposa, decidiu que o melhor seria garantir que a pesquisa de Helena caísse em boas mãos, para que seu trabalho não se perdesse em meio a essa confusão."

Era uma performance magistral. A multidão murmurava em simpatia, olhando para Caio com uma mistura de pena e desconfiança. Ele era o louco, o homem de luto que perdeu a razão.

"Seguranças!", o leiloeiro chamou, sua paciência esgotada.

Dois homens enormes, vestidos de preto, se moveram em direção a Caio. Ele não recuou.

"Você não pode fazer isso, Bruna! É o sangue dela nesse projeto!", ele gritou, sua voz quebrando.

Os seguranças o agarraram pelos braços, suas mãos como garras de aço. Eles começaram a arrastá-lo para fora, seus sapatos fazendo barulho no chão polido.

"Parem! Me soltem! Ladrões! Assassinos!", ele lutava, mas era inútil.

Eles o jogaram para fora, em um beco frio e fedorento nos fundos do salão de leilões. Caio caiu de joelhos sobre o concreto úmido, o ar sendo expulso de seus pulmões.

A porta se abriu novamente. Não era um segurança. Era Thiago.

Ele se aproximou lentamente, o sorriso falso substituído por um desprezo cruel.

"Você realmente não sabe quando desistir, não é, Caio?"

Caio se levantou com dificuldade, apoiando-se na parede de tijolos.

"O que você fez, Thiago? O que vocês dois fizeram?"

Thiago riu, um som baixo e ameaçador.

"Sua mãe era uma mulher teimosa. Ela não queria compartilhar a glória. Ela não entendia de negócios. Bruna e eu, nós entendemos."

O sangue de Caio gelou. Não era uma suposição. Era uma confissão.

"Foi você", sussurrou Caio. "Você estava lá. Você a matou."

Thiago deu de ombros, um gesto casual que era mais chocante do que qualquer grito.

"Ela reagiu. Foi uma pena. Mas o progresso exige sacrifícios."

Ele se aproximou mais, invadindo o espaço pessoal de Caio. Sua voz baixou para um sussurro venenoso.

"E agora, você vai ser o próximo sacrifício. Ninguém vai acreditar em você. Você é apenas o marido louco. E quando encontrarmos seu corpo em alguma vala, todos vão dizer que o pobre Caio finalmente sucumbiu à dor."

A raiva cega tomou conta de Caio. Ele se lançou contra Thiago, um grito de fúria pura em seus lábios.

Mas Thiago estava preparado. Ele se esquivou e acertou um soco brutal no estômago de Caio. Caio dobrou-se, ofegante. Thiago o agarrou pelos cabelos e bateu sua cabeça contra a parede de tijolos. Uma, duas, três vezes.

Luzes explodiram atrás dos olhos de Caio. O mundo girou. Ele caiu no chão, o gosto de sangue e poeira em sua boca.

Através de sua visão turva, ele viu a porta do beco se abrir novamente. Bruna estava lá, parada na luz, seu vestido vermelho como uma mancha de sangue na escuridão. Ela olhava para a cena sem nenhuma expressão, como se estivesse assistindo a um filme desinteressante.

Thiago chutou as costelas de Caio com força. Caio gritou.

"Bruna...", ele engasgou, estendendo uma mão ensanguentada em sua direção. "Por favor..."

Ela apenas o observou. Então, ela se virou e caminhou de volta para dentro do salão de leilões, fechando a porta atrás de si, deixando-o na escuridão com o homem que destruiu sua vida.

Thiago se agachou ao lado dele.

"Viu? Ela não se importa. Nunca se importou."

Ele acertou mais um soco no rosto de Caio, e a escuridão finalmente o engoliu por completo.

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