Entre Dor e Triunfo
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Capítulo 3

Receber alta do hospital foi um alívio e um terror. Alívio por deixar aquele lugar de dor para trás, terror por ter que voltar para a casa que não era mais um lar.

Quando abri a porta, a cena que encontrei confirmou meus medos.

A casa estava um caos. Pratos sujos empilhados na pia, embalagens de fast food sobre a mesa de centro, e roupas espalhadas pelo chão da sala. Roupas que não eram minhas, nem de Lucas. Eram de Isabella.

Ela estava ali, instalada, como se sempre tivesse pertencido àquele lugar.

Ela apareceu na porta do nosso quarto, bocejando, vestindo nada além de uma das camisetas de Lucas, que mal cobria suas coxas. Ela me olhou de cima a baixo com um sorriso vitorioso.

"Ah, Sofia. Você voltou" , disse ela, a voz falsamente doce. "O Lu me disse que você não estava se sentindo bem. Espero que esteja melhor."

Lucas saiu do banheiro, secando o cabelo com uma toalha. Ele viu meu olhar fixo em Isabella e na camiseta dele.

"Ah, isso" , ele disse, sem graça. "O apartamento da Bella teve um vazamento enorme. Ela vai ficar aqui por uns dias, até o conserto terminar. Não tem problema, né?"

Ele não esperou por uma resposta.

Isabella se aproximou de Lucas, passando os braços em volta do pescoço dele e dando um beijo estalado em sua bochecha.

"O Lu é um herói, como sempre. Lembro de uma vez, quando éramos crianças, que eu caí da bicicleta e ele me carregou nas costas por todo o caminho até em casa. Ele sempre cuidou de mim."

Ela disse a última parte olhando diretamente para mim, um desafio em seus olhos. Ela roçou a mão no peito dele, um toque muito mais íntimo do que o de uma "irmã" .

"Somos melhores amigos, quase irmãos" , ela sorriu.

Eu sentia uma bile amarga subir pela garganta. A combinação do cheiro de cigarro dela, que impregnava a casa, com a dor persistente no meu corpo, me deixou enjoada. Eu corri para o banheiro de hóspedes, precisando de espaço para respirar.

Inclinei-me sobre a pia, jogando água fria no rosto. Meus olhos caíram sobre a lixeira ao lado do vaso sanitário. A tampa estava entreaberta. E lá dentro, no topo do lixo, estava a prova final e irrefutável da traição deles.

Uma embalagem de preservativo. Aberta e usada.

Meu estômago se revirou violentamente. Eu vomitei na pia, esvaziando o pouco que havia dentro de mim. O som me traiu.

A porta do banheiro se abriu. Era Lucas, com uma expressão de falsa preocupação no rosto.

"Sofia? Você está bem? O que houve?"

Isabella apareceu atrás dele, os olhos cheios de lágrimas de crocodilo.

"Ai, meu Deus! É minha culpa! Eu não devia estar aqui, eu sou um fardo. Acho melhor eu ir embora, vou procurar um hotel..."

Ela começou a chorar, o corpo tremendo em uma atuação digna de um Oscar.

Lucas imediatamente a abraçou. "Não, Bella, claro que não. Você não fez nada de errado. A Sofia só... ela está um pouco sensível."

Ele olhou para mim por cima do ombro dela, o olhar dele se endurecendo.

"Peça desculpas a ela, Sofia."

Eu o encarei, incrédula. "Pedir desculpas? Você está falando sério?"

"Sim" , ele disse, a voz baixa e ameaçadora. "Você a fez chorar. Você está estragando tudo com o seu ciúme doentio. Peça desculpas, agora."

"Eu não vou pedir desculpas a essa..." , comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

"Eu mandei você pedir desculpas!"

Sua voz ecoou pelo pequeno banheiro. A raiva em seu rosto era assustadora. Eu nunca o tinha visto assim.

"Não" , eu disse, a voz firme, apesar do medo que começava a se instalar em meu peito.

A reação dele foi imediata. Ele me agarrou pelo braço, a força de seu aperto me fazendo estremecer.

"Você vai aprender a me respeitar, Sofia. E vai aprender a respeitar a minha melhor amiga."

Ele me arrastou para fora do banheiro, passando pela sala, em direção ao pequeno quarto de depósito que ficava nos fundos da casa.

"Lucas, o que você está fazendo? Me solta!"

Ele não respondeu. Abriu a porta do quartinho escuro e me empurrou para dentro. O lugar era apertado, cheio de caixas velhas e com cheiro de mofo.

"Você vai ficar aí e pensar no que fez" , ele disse, a voz fria como gelo.

A porta se fechou, mergulhando-me na escuridão total. Eu ouvi o som da chave girando na fechadura.

"Lucas! Me tira daqui! Por favor, Lucas!"

Eu bati na porta, gritei até minha garganta ficar rouca. Minha única resposta foi o som da porta do quarto deles se fechando. E então, o som que quebrou o que restava do meu coração.

O som da risada de Isabella, seguido pelo som inconfundível da cabeceira da cama batendo contra a parede.

Ali, trancada no escuro, com o cheiro de poeira e abandono, enquanto meu marido estava com outra mulher na nossa cama, a dor da perda do meu filho se misturou a um novo tipo de dor. A dor da humilhação absoluta, do terror e da certeza de que eu estava casada com um monstro. E eu estava completamente, irremediavelmente sozinha.

            
            

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