Ela apareceu na porta do nosso quarto, bocejando, vestindo nada além de uma das camisetas de Lucas, que mal cobria suas coxas. Ela me olhou de cima a baixo com um sorriso vitorioso.
"Ah, Sofia. Você voltou" , disse ela, a voz falsamente doce. "O Lu me disse que você não estava se sentindo bem. Espero que esteja melhor."
Lucas saiu do banheiro, secando o cabelo com uma toalha. Ele viu meu olhar fixo em Isabella e na camiseta dele.
"Ah, isso" , ele disse, sem graça. "O apartamento da Bella teve um vazamento enorme. Ela vai ficar aqui por uns dias, até o conserto terminar. Não tem problema, né?"
Ele não esperou por uma resposta.
Isabella se aproximou de Lucas, passando os braços em volta do pescoço dele e dando um beijo estalado em sua bochecha.
"O Lu é um herói, como sempre. Lembro de uma vez, quando éramos crianças, que eu caí da bicicleta e ele me carregou nas costas por todo o caminho até em casa. Ele sempre cuidou de mim."
Ela disse a última parte olhando diretamente para mim, um desafio em seus olhos. Ela roçou a mão no peito dele, um toque muito mais íntimo do que o de uma "irmã" .
"Somos melhores amigos, quase irmãos" , ela sorriu.
Eu sentia uma bile amarga subir pela garganta. A combinação do cheiro de cigarro dela, que impregnava a casa, com a dor persistente no meu corpo, me deixou enjoada. Eu corri para o banheiro de hóspedes, precisando de espaço para respirar.
Inclinei-me sobre a pia, jogando água fria no rosto. Meus olhos caíram sobre a lixeira ao lado do vaso sanitário. A tampa estava entreaberta. E lá dentro, no topo do lixo, estava a prova final e irrefutável da traição deles.
Uma embalagem de preservativo. Aberta e usada.
Meu estômago se revirou violentamente. Eu vomitei na pia, esvaziando o pouco que havia dentro de mim. O som me traiu.
A porta do banheiro se abriu. Era Lucas, com uma expressão de falsa preocupação no rosto.
"Sofia? Você está bem? O que houve?"
Isabella apareceu atrás dele, os olhos cheios de lágrimas de crocodilo.
"Ai, meu Deus! É minha culpa! Eu não devia estar aqui, eu sou um fardo. Acho melhor eu ir embora, vou procurar um hotel..."
Ela começou a chorar, o corpo tremendo em uma atuação digna de um Oscar.
Lucas imediatamente a abraçou. "Não, Bella, claro que não. Você não fez nada de errado. A Sofia só... ela está um pouco sensível."
Ele olhou para mim por cima do ombro dela, o olhar dele se endurecendo.
"Peça desculpas a ela, Sofia."
Eu o encarei, incrédula. "Pedir desculpas? Você está falando sério?"
"Sim" , ele disse, a voz baixa e ameaçadora. "Você a fez chorar. Você está estragando tudo com o seu ciúme doentio. Peça desculpas, agora."
"Eu não vou pedir desculpas a essa..." , comecei a dizer, mas ele me interrompeu.
"Eu mandei você pedir desculpas!"
Sua voz ecoou pelo pequeno banheiro. A raiva em seu rosto era assustadora. Eu nunca o tinha visto assim.
"Não" , eu disse, a voz firme, apesar do medo que começava a se instalar em meu peito.
A reação dele foi imediata. Ele me agarrou pelo braço, a força de seu aperto me fazendo estremecer.
"Você vai aprender a me respeitar, Sofia. E vai aprender a respeitar a minha melhor amiga."
Ele me arrastou para fora do banheiro, passando pela sala, em direção ao pequeno quarto de depósito que ficava nos fundos da casa.
"Lucas, o que você está fazendo? Me solta!"
Ele não respondeu. Abriu a porta do quartinho escuro e me empurrou para dentro. O lugar era apertado, cheio de caixas velhas e com cheiro de mofo.
"Você vai ficar aí e pensar no que fez" , ele disse, a voz fria como gelo.
A porta se fechou, mergulhando-me na escuridão total. Eu ouvi o som da chave girando na fechadura.
"Lucas! Me tira daqui! Por favor, Lucas!"
Eu bati na porta, gritei até minha garganta ficar rouca. Minha única resposta foi o som da porta do quarto deles se fechando. E então, o som que quebrou o que restava do meu coração.
O som da risada de Isabella, seguido pelo som inconfundível da cabeceira da cama batendo contra a parede.
Ali, trancada no escuro, com o cheiro de poeira e abandono, enquanto meu marido estava com outra mulher na nossa cama, a dor da perda do meu filho se misturou a um novo tipo de dor. A dor da humilhação absoluta, do terror e da certeza de que eu estava casada com um monstro. E eu estava completamente, irremediavelmente sozinha.