A Vingança da Prima Invejada
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Capítulo 3

Ricardo tentou consertar as coisas. Na noite seguinte, ele me levou para um piquenique surpresa em um parque com vista para a cidade. Havia uma cesta com queijos, frutas e um vinho que não era o que Clara havia lhe dado. Era uma tentativa clara de me tranquilizar, de manter a farsa de que ele estava do meu lado.

"Eu só quero que você saiba que eu estou comprometido com o nosso acordo, Sofia" , ele disse, enquanto servia o vinho. "E com você." A última parte soou oca.

Eu sorri e aceitei a taça. "Eu sei, Ricardo. Eu confio em você."

Mas a confiança era uma moeda que eu não possuía mais. Eu estava apenas interpretando meu papel.

Enquanto isso, Clara intensificava seus ataques. Ela não era mais sutil. Começou a deixar comentários nos posts de Ricardo. Coisas como "Que lugar lindo! A Sofia tem sorte de ter você para mostrar a cidade" ou "Esse prato parece divino! Você tem que me ensinar a fazer um dia" . Eram comentários aparentemente inocentes, mas carregados de intenção. Ela estava marcando território, se inserindo na nossa narrativa pública.

Minha mãe e minha tia, é claro, adoravam. "A Clara é tão amigável, não é?" , minha mãe comentou comigo ao telefone. "Ela está realmente tentando ser amiga de vocês. Você deveria ser mais receptiva, Sofia."

Eu apenas murmurava concordâncias vagas, sentindo a raiva crescer dentro de mim. Elas não viam a manipulação. Elas só viam a fachada brilhante de Clara.

Eu observava cada movimento, cada interação. Eu via como Ricardo respondia aos comentários dela com emojis educados, mas nada mais. Eu via como ele desviava das tentativas dela de iniciar uma conversa privada. Ele estava seguindo o roteiro. Mas eu também via algo mais. Eu via a hesitação dele. A curiosidade. Clara era um desafio, e Ricardo, em sua arrogância, estava começando a se sentir atraído pelo jogo. Ele achava que podia vencê-la, controlá-la. Ele não entendia que ela era mestre nisso.

O ponto de virada veio uma semana depois. Ricardo me ligou, sua voz soando estranhamente formal.

"Sofia, preciso falar com você. Clara me fez uma proposta."

Meu coração acelerou, mas mantive a voz calma. "Que tipo de proposta?"

Houve uma pausa. "Eu disse que precisava pensar. Que precisava falar com você primeiro."

Mentira. Ele já tinha decidido. Eu podia ouvir na voz dele. A ganância tinha vencido a cautela.

"Ricardo, nós tínhamos um acordo" , eu disse, testando-o.

"Eu sei, Sofia, mas isso é diferente. Isso é negócio. Pense bem, a exposição vai ser boa para nós dois. As pessoas vão ver o quão bem-sucedido é o seu namorado. Isso só vai deixar a sua posição mais forte."

Ele estava tentando me vender a ideia, me manipular. O manipulador estava sendo manipulado e nem percebia.

"Faça o que você achar melhor, Ricardo" , eu disse, com uma voz fria.

E desliguei.

Naquela noite, eu não consegui dormir. Eu fiquei sentada na escuridão da minha sala, olhando para a rua. A decepção era uma presença física no cômodo. Ele tinha cedido. Não por uma invasão física ou por pressão social, mas por pura e simples ganância. Ele tinha escolhido o caminho que Clara ofereceu, o caminho do status e da fama fácil.

Ele era exatamente quem eu pensava que ele era. Um homem fraco, guiado por seu ego e seu bolso. Perfeito.

A live foi um espetáculo. Clara estava radiante, no controle total. Ricardo, ao lado dela, parecia um acessório caro. Eles cozinharam, riram, trocaram piadas ensaiadas. A química entre eles era inegável, uma química baseada em narcisismo compartilhado. Milhares de pessoas assistiram, deixando comentários elogiosos sobre o "novo casal poderoso" . Ninguém mencionou meu nome. Eu tinha sido completamente apagada da história.

Minha mãe me ligou no meio da transmissão.

"Você está assistindo? A Clara é brilhante! Ela está ajudando tanto o Ricardo. Eles formam uma dupla tão bonita!"

Eu desliguei o telefone no meio da frase dela. Fui até a cozinha e comecei a assar. Amassei a massa com uma força que não sabia que tinha, socando-a repetidamente até que meus nós dos dedos doessem. O cheiro de fermento e açúcar encheu o ar, mas não me trouxe conforto.

Mais tarde naquela noite, Ricardo me mandou uma mensagem.

"A live foi um sucesso! Mais de 50 mil visualizações simultâneas. Desculpe não ter falado com você antes, foi uma loucura."

Eu não respondi.

Ele apareceu na minha porta na manhã seguinte, segurando um buquê de flores. Parecia cansado, mas eufórico.

"Sofia, nós precisamos conversar."

"Não, não precisamos" , eu disse, bloqueando a entrada. "Eu assisti à live. Entendi tudo."

"Não é o que parece" , ele começou.

"É exatamente o que parece, Ricardo. Você fez uma escolha. E está tudo bem. É exatamente o que eu queria."

Ele pareceu confuso. "O que você quer dizer?"

"Eu quero dizer que a isca foi engolida. Agora, o anzol vai começar a fisgar. Parabéns, você foi promovido de meu namorado para o brinquedo novo da minha prima. Aproveite. O preço que ela vai te fazer pagar é muito mais alto do que o meu."

Fechei a porta na cara dele.

Sentei-me à mesa da cozinha, a luz da manhã entrando pela janela. Eu me sentia vazia, mas também estranhamente calma. A parte emocional do plano, a parte que envolvia fingir um relacionamento, tinha acabado. Agora, era puramente estratégico. Era um jogo de xadrez, e eu tinha acabado de sacrificar uma peça importante para colocar o rei do adversário em xeque.

Eu abri meu laptop. Era hora de dar o próximo passo. Era hora de procurar os fantasmas do passado de Clara.

            
            

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